Após o trabalho <strong>de</strong> campo, os dados foram organizados, tabulados eanalisados, levando-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração, além dos resultados das entrevistas,a literatura a respeito <strong>de</strong> conflitos envolvendo áreas protegidas, o que<strong>de</strong>u subsídio para a i<strong>de</strong>ntificação e classificação dos casos existentes naárea do PNMR (BORRINI-FAYERABEND, 1997).4. Resultados e discussãoForam entrevistadas 138 pessoas, das quais 56% eram mulheres, amaioria entre 40 e 50 anos, morando no local a cerca <strong>de</strong> 20 anos. Salienta--se que duas das comunida<strong>de</strong>s, a Vila Jardim, localizada <strong>de</strong>ntro do PNMR eo Loteamento da Laje, no Bairro Cipó, confrontante ao Parque, foram formadas<strong>de</strong> maneira irregular neste período.Quando questionadas sobre a existência <strong>de</strong> esgoto canalizado, 43%respon<strong>de</strong>ram não possuir. Os que possu<strong>em</strong>, <strong>em</strong> geral, não sab<strong>em</strong> qual é asua <strong>de</strong>stinação. A falta <strong>de</strong> saneamento básico é s<strong>em</strong> dúvida prejudicial aoscursos d água ali presentes, tais como o Arroio Rolantinho da Areia e <strong>de</strong>maiscomponentes da sua microbacia, b<strong>em</strong> como ao solo, os quais estão recebendoforte carga <strong>de</strong> efluentes. O probl<strong>em</strong>a da falta <strong>de</strong> esgoto já era umfato esperado, pois o próprio Plano <strong>Ambiental</strong> Municipal, um documentooficial, faz referência a esta questão (SÃO FRANCISCO DE PAULA, 2004):PELIZZOLI (2004) <strong>de</strong>staca que:“[...] não há re<strong>de</strong> <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> esgoto e, <strong>em</strong>bora nãohaja um levantamento oficial, sabe-se que poucasresidências possu<strong>em</strong> algum tipo <strong>de</strong> tratamentoindividual <strong>de</strong> esgoto doméstico. Verificou-se que,naquelas que possu<strong>em</strong> tratamento, este é feito pormeio <strong>de</strong> tanque séptico ou lançamento <strong>em</strong> valas acéu aberto. Isto significa que, como gran<strong>de</strong> parte dapopulação não t<strong>em</strong> um a<strong>de</strong>quado sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> tratamento<strong>de</strong> esgoto, este resíduo é lançado in naturano solo ou <strong>em</strong> valos <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> a céu aberto,fatores estes responsáveis por inúmeros impactossobre os recursos hídricos”.“[...] a natureza já não suporta mais os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradaçãoatuais com o esgotamento ambiental urbano,com os efeitos trágicos <strong>de</strong> agrotóxicos e com129
130a extinção <strong>de</strong> espécies. É necessário l<strong>em</strong>brar queesta <strong>de</strong>gradação ambiental é a causadora <strong>de</strong> vários<strong>de</strong>sequilíbrios ambientais, tais como efeito estufa,alterações na camada <strong>de</strong> ozônio, esgotamento eenvenenamento das terras, aparecimento <strong>de</strong> pragasresistentes, poluição da água <strong>em</strong> geral [...]”.A postura do Po<strong>de</strong>r Público é no mínimo contraditória ao criar umaunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> proteção integral visando à proteção da biodiversida<strong>de</strong>e dos recursos hídricos e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong>ixar que as ocupaçõesirregulares coloqu<strong>em</strong> <strong>em</strong> xeque o objeto <strong>de</strong>sta proteção. É importantel<strong>em</strong>brar que o presente trabalho <strong>de</strong> campo foi feito cinco anos apósa constatação oficial do probl<strong>em</strong>a, conforme o Plano <strong>Ambiental</strong> Municipal,e a situação continuava a mesma.Quanto à coleta <strong>de</strong> lixo, apenas 10% <strong>de</strong>clararam não possuir este serviço,mas foi observado que algumas famílias possu<strong>em</strong>, <strong>em</strong> seus pátios, <strong>de</strong>pósitos<strong>de</strong> lixo que usam para a reciclag<strong>em</strong> e venda. A coleta <strong>de</strong> lixo <strong>em</strong> SãoFrancisco <strong>de</strong> Paula não é seletiva. Todo o lixo é compactado, seja ele orgânico,seco, ou contaminado. Durante as caminhadas na área do futuro PNMRfoi possível i<strong>de</strong>ntificar vestígios <strong>de</strong> um antigo lixão utilizado pela PrefeituraMunicipal durante <strong>de</strong> 20 anos.A existência do lixão é citada no Plano <strong>Ambiental</strong> Municipal (SÃOFRANCISCO DE PAULA, 2004):“[...] entre as formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação, a <strong>de</strong>posição <strong>de</strong>resíduos sólidos urbanos se constitui <strong>em</strong> um gran<strong>de</strong>impacto, <strong>em</strong> vários aspectos, pois afeta diretamentea qualida<strong>de</strong> do solo, ar e água, além do impacto visualnegativo e da <strong>de</strong>scaracterização do ambiente,sendo uma ameaça à biodiversida<strong>de</strong> e a saú<strong>de</strong> dosmoradores do entorno da região afetada. O local <strong>de</strong>implantação do Parque Municipal da Ronda abrigauma área on<strong>de</strong> este tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ocorreu porum período <strong>de</strong> aproximadamente vinte anos”.Em relação ao nível <strong>de</strong> conhecimento do local sobre a existência doParque, 86% das pessoas diz<strong>em</strong> conhecer o PNMR. De fato, é b<strong>em</strong> maisprovável que estas pessoas estejam se referindo à “cascata da Ronda”, umdos principais atrativos do Parque, e não à área da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservaçãocomo um todo, exceção feita aos que mencionaram as regiões da RoçaNova e Cacon<strong>de</strong>.
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