13.07.2015 Views

Gestão Ambiental e Negociação de Conflitos em Unidades ... - Sema

Gestão Ambiental e Negociação de Conflitos em Unidades ... - Sema

Gestão Ambiental e Negociação de Conflitos em Unidades ... - Sema

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

supermercado que exige nota do produtor. Quando questionados sobresuas vendas, são unânimes <strong>em</strong> dizer: “A venda da gôndola é para turista ougente da cida<strong>de</strong> que não conhece ninguém do interior” (informante do ponto<strong>de</strong> venda 2).Assim, o pinhão que até então era para muitos agricultores e estancieirosapenas o alimento do peão e dos animais, passa a ser também vistocomo uma fonte <strong>de</strong> renda. Segundo o catador 1: “Agora com essa procurao fazen<strong>de</strong>iro tá vendo que dá pra tirar um dinheiro do pinhão também”. A mudança<strong>de</strong> postura <strong>em</strong> relação ao pinhão ocorre associada ao fato <strong>de</strong> esta seruma das poucas alternativas econômicas para os agricultores, que ficaramimpossibilitados <strong>de</strong> fazer supressão da vegetação e/ou cortar a araucáriapara ma<strong>de</strong>ira. A fala do agricultor 3 ilustra b<strong>em</strong> isso: “ tá vendo isto aqui, issoe aquilo [Pinus spp., acácia e eucalipto, respectivamente], eu planto porquese eu <strong>de</strong>ixar o mato vir, eu perco a terra. Naquela área lá <strong>de</strong> cima, agora só dápra tirar pinhão ou <strong>de</strong>ixar [o pinhão] pro gado comer”.Portanto, o pinhão que até então era fonte <strong>de</strong> renda apenas para osgrupos sociais mais marginalizados, 10 passa atualmente a ser também umaalternativa <strong>de</strong> renda para o médio e gran<strong>de</strong> proprietário <strong>de</strong> terra. Este cenárioestá trazendo conflitos <strong>de</strong> conotação socioambiental para a região.<strong>Conflitos</strong> estes por acesso ao recurso, nos quais o proprietário diz que t<strong>em</strong>sua proprieda<strong>de</strong> invadida. Segundo a informante do restaurante 1: “outrodia fui catar pinhão e fui corrida a tiro da minha própria casa”. O coletor nãoproprietário <strong>de</strong> terra afirma que a araucária está lá antes da cerca e que foiplantada pela gralha. A fala da proprietária 5 ilustra b<strong>em</strong> o conflito: “sabeaquelas casinhas ali? Eles são os que mais ven<strong>de</strong>m pinhão aqui no Cazuza, 11mas eles não t<strong>em</strong> uma araucária. Eles falam na maior cara <strong>de</strong> pau, que a araucáriafoi plantada pela gralha, não por mim. E que, portanto, não é minha (...)mas nós [os fazen<strong>de</strong>iros] estamos nos reunindo para ver se acabamos com isso”.Quando questionados sobre qu<strong>em</strong> eram aqueles catadores <strong>de</strong> pinhão, aosquais ela se referia, quando eles vieram morar <strong>em</strong> Cazuza Ferreira, a informantedisse: “Eles s<strong>em</strong>pre foram daqui. Pelo sobrenome <strong>de</strong>les, que é o mesmoque o meu, inclusive, acho que o vô <strong>de</strong>le, ou bisavô, foi escravo do meu avô”.Tais relatos ilustram, sobr<strong>em</strong>aneira, o aumento da procura pelo pinhãoe os conflitos que estão ocorrendo atualmente na região <strong>de</strong> São Francisco<strong>de</strong> Paula.10Pequenos agricultores <strong>de</strong>scapitalizados, agricultores nacionais e ex-escravos que foram excluídos do acesso a terra,b<strong>em</strong> como moradores <strong>de</strong> periferia da cida<strong>de</strong>, que <strong>em</strong> muitos casos são fruto do êxodo rural.11Cazuza Ferreira 6° Distrito <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula.144

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!