anos. Mas o pinhão também teve gran<strong>de</strong> importância para os colonos quechegaram ao final do século XIX. Segundo relato recolhido por DE BONI &COSTA (1984, p.4): “se não foss<strong>em</strong> os pinhões, não sei como teríamos sobrevivido”.Ainda conforme este relato, toda plantação dos colonos recémchegados era ”predada” pelos animais silvestres locais.Com o passar dos anos e o efetivo estabelecimento das colônias, o pinhãocontinuou sendo um alimento. Era comido cozido na água, sapecadona chapa, moído com carne, mas acima <strong>de</strong> tudo, muito utilizado na engordado porco que era criado solto. Segundo um informante (catador 1)o fazen<strong>de</strong>iro “só largava a porcada no pinhão, como diziam antigamente. Profazen<strong>de</strong>iro o pinhão não tinha valor (...)”. Entretanto, para algumas famíliaso pinhão tinha uma importância ainda maior. Como muitos não tinhamcondições <strong>de</strong> comprar café, torravam o pinhão e usavam-no <strong>em</strong> seu lugar.D<strong>em</strong>onstrando que enquanto para alguns o pinhão era utilizado paraengorda dos porcos, para outros era um recurso <strong>de</strong> segurança alimentar(BUFFÃO, 2009).3.2 O pinhão nos dias <strong>de</strong> hojeAtualmente, além das mudanças <strong>de</strong> cenário já mencionadas, t<strong>em</strong>ocorrido na região <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula a promoção da ca<strong>de</strong>ia produtivado turismo. Para tanto, a prefeitura municipal incentiva diversas festasno município. Dentre elas está a Festa do Pinhão, a ex<strong>em</strong>plo da Festa Nacionaldo Pinhão, que ocorre <strong>em</strong> Lages (SC). Como consequência <strong>de</strong>stasfestas, que hoje tomam proporções nacionais, 9 está uma maior valorizaçãodo pinhão na região. Segundo alguns informantes, este incr<strong>em</strong>ento da valorizaçãodo pinhão se iniciou nos anos 2000, por motivos que eles <strong>de</strong>sconhec<strong>em</strong>.Decorre <strong>de</strong>ste contexto o aumento da procura pelo pinhão, que apartir da análise dos dados históricos do IBGE, ten<strong>de</strong> a aumentar (C. VIEIRA--DA-SILVA, dados não publicados).Os dados coletados até o presente corroboram com esta análise. Ostrês donos <strong>de</strong> restaurantes entrevistados são unânimes <strong>em</strong> afirmar que, naépoca da festa do pinhão, os turistas chegam perguntando pelos pratos abase <strong>de</strong>sta s<strong>em</strong>ente e que a procura t<strong>em</strong> aumentado nos últimos anos. Oscomerciantes <strong>de</strong> mercados e supermercados entrevistados (N=5) diz<strong>em</strong>:“Agora todo dia aparece gente oferecendo pinhão, pra gente comprar” (informantedo ponto <strong>de</strong> venda 4). Todos, inclusive os donos <strong>de</strong> restaurantes,diz<strong>em</strong> adquirir pinhão <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> passa oferecendo, com exceção <strong>de</strong> um9 Atualmente há festas do pinhão até <strong>em</strong> Minas Gerais, Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo.143
supermercado que exige nota do produtor. Quando questionados sobresuas vendas, são unânimes <strong>em</strong> dizer: “A venda da gôndola é para turista ougente da cida<strong>de</strong> que não conhece ninguém do interior” (informante do ponto<strong>de</strong> venda 2).Assim, o pinhão que até então era para muitos agricultores e estancieirosapenas o alimento do peão e dos animais, passa a ser também vistocomo uma fonte <strong>de</strong> renda. Segundo o catador 1: “Agora com essa procurao fazen<strong>de</strong>iro tá vendo que dá pra tirar um dinheiro do pinhão também”. A mudança<strong>de</strong> postura <strong>em</strong> relação ao pinhão ocorre associada ao fato <strong>de</strong> esta seruma das poucas alternativas econômicas para os agricultores, que ficaramimpossibilitados <strong>de</strong> fazer supressão da vegetação e/ou cortar a araucáriapara ma<strong>de</strong>ira. A fala do agricultor 3 ilustra b<strong>em</strong> isso: “ tá vendo isto aqui, issoe aquilo [Pinus spp., acácia e eucalipto, respectivamente], eu planto porquese eu <strong>de</strong>ixar o mato vir, eu perco a terra. Naquela área lá <strong>de</strong> cima, agora só dápra tirar pinhão ou <strong>de</strong>ixar [o pinhão] pro gado comer”.Portanto, o pinhão que até então era fonte <strong>de</strong> renda apenas para osgrupos sociais mais marginalizados, 10 passa atualmente a ser também umaalternativa <strong>de</strong> renda para o médio e gran<strong>de</strong> proprietário <strong>de</strong> terra. Este cenárioestá trazendo conflitos <strong>de</strong> conotação socioambiental para a região.<strong>Conflitos</strong> estes por acesso ao recurso, nos quais o proprietário diz que t<strong>em</strong>sua proprieda<strong>de</strong> invadida. Segundo a informante do restaurante 1: “outrodia fui catar pinhão e fui corrida a tiro da minha própria casa”. O coletor nãoproprietário <strong>de</strong> terra afirma que a araucária está lá antes da cerca e que foiplantada pela gralha. A fala da proprietária 5 ilustra b<strong>em</strong> o conflito: “sabeaquelas casinhas ali? Eles são os que mais ven<strong>de</strong>m pinhão aqui no Cazuza, 11mas eles não t<strong>em</strong> uma araucária. Eles falam na maior cara <strong>de</strong> pau, que a araucáriafoi plantada pela gralha, não por mim. E que, portanto, não é minha (...)mas nós [os fazen<strong>de</strong>iros] estamos nos reunindo para ver se acabamos com isso”.Quando questionados sobre qu<strong>em</strong> eram aqueles catadores <strong>de</strong> pinhão, aosquais ela se referia, quando eles vieram morar <strong>em</strong> Cazuza Ferreira, a informantedisse: “Eles s<strong>em</strong>pre foram daqui. Pelo sobrenome <strong>de</strong>les, que é o mesmoque o meu, inclusive, acho que o vô <strong>de</strong>le, ou bisavô, foi escravo do meu avô”.Tais relatos ilustram, sobr<strong>em</strong>aneira, o aumento da procura pelo pinhãoe os conflitos que estão ocorrendo atualmente na região <strong>de</strong> São Francisco<strong>de</strong> Paula.10Pequenos agricultores <strong>de</strong>scapitalizados, agricultores nacionais e ex-escravos que foram excluídos do acesso a terra,b<strong>em</strong> como moradores <strong>de</strong> periferia da cida<strong>de</strong>, que <strong>em</strong> muitos casos são fruto do êxodo rural.11Cazuza Ferreira 6° Distrito <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Paula.144
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