08.09.2017 Views

Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade

  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

de pessoas livres, que, porém, muitas vezes eram captura<strong>da</strong>s por<br />

jagunços e leva<strong>da</strong>s para trabalhar força<strong>da</strong>mente nas fazen<strong>da</strong>s dos<br />

coronéis <strong>da</strong>s redondezas. Segundo os depoimentos colhidos, essa<br />

situação durou até 1960. A comuni<strong>da</strong>de só conseguiu sair desse<br />

processo de <strong>escravidão</strong> porque o tempo foi passando, os coronéis<br />

morrendo e os quilombolas começaram a prover o próprio<br />

sustento, produzindo arroz, milho, mandioca, feijão e trigo.<br />

Segundo o que consta no processo de Certificação <strong>da</strong><br />

Fun<strong>da</strong>ção Palmares, o quilombola Sr. Antônio Neres Santiago,<br />

nascido no ano de 1930, no Kilombo Moinho e ali criado, conta<br />

que sua avó, Marçalina Almei<strong>da</strong> Campos, uma <strong>da</strong>s matriarcas <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de, chegou a vivenciar a época <strong>da</strong> <strong>escravidão</strong>. Tendo<br />

ela falecido com a i<strong>da</strong>de de 115 anos, Marçalina contava <strong>sobre</strong> as<br />

pessoas que foram marca<strong>da</strong>s a ferro quente na pele, como animais.<br />

A comuni<strong>da</strong>de se chama “Moinho” porque havia uma enorme<br />

plantação de trigo, para a qual se construiu uma moen<strong>da</strong> que<br />

ficava no fundo <strong>da</strong> casa do patriarca Domingos Luiz Gomes, onde<br />

se limpava também o arroz, o café e o milho. Por isso, as pessoas<br />

do local eram chama<strong>da</strong>s pelos brancos <strong>da</strong> seguinte forma: “olha<br />

o muim”. Hoje, do velho moinho que dá nome à comuni<strong>da</strong>de, só<br />

existe a pedra.<br />

Atualmente a comuni<strong>da</strong>de pertence ao Município de Alto<br />

Paraíso de Goiás. Sempre foi um lugar tranquilo, mas a notícia <strong>da</strong><br />

certificação começou a trazer incômodos aos não-quilombolas e,<br />

consequentemente, medo de represálias à comuni<strong>da</strong>de.<br />

5.2.2 Perfil socioeconômico<br />

Atualmente o Kilombo Moinho é formado por, aproxima<strong>da</strong>mente,<br />

40 famílias, sendo os principais <strong>sobre</strong>nomes: Marcos ou Marques,<br />

Leite de Moraes, Moura, Xavier, Almei<strong>da</strong> e Borges. O homem<br />

mais velho é o patriarca Antônio Neres Santiago, com 86 anos.<br />

5.2.3 Situação fundiária<br />

O processo de certificação começou por iniciativa <strong>da</strong><br />

Vereadora Helena Luiz Gomes, filha do Patriarca Domingos Luiz<br />

Gomes que foi orienta<strong>da</strong> pela Superintendente de Promoção <strong>da</strong><br />

Igual<strong>da</strong>de Racial do Governo de Goiás (Supir/GO), Marta Ivone de<br />

Oliveira Ferreira.<br />

101

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!