Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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10. Os programas e as<br />
ações do Estado<br />
A despeito dos esforços governamentais nos governos de Luiz Inácio<br />
Lula <strong>da</strong> Silva e de Dilma Vana Rousseff, as políticas públicas direciona<strong>da</strong>s aos<br />
quilombolas foram restritas e não deram conta de enfrentar as deman<strong>da</strong>s<br />
existentes. Em alguns casos, se viram paralisa<strong>da</strong>s pela ausência de recursos<br />
financeiros; em outros,comprometi<strong>da</strong>s por brechas existentes na atual<br />
legislação. De todo modo, o aparato legislativo e de programas e ações,<br />
construído com muita luta merece aqui ser descrito.<br />
10.1 O enquadramento legal: o estatuto<br />
<strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de racial e seus desdobramentos<br />
A vira<strong>da</strong> do Século XXI foi particularmente positiva para o Movimento<br />
Negro brasileiro. A Constituição de 1988 já havia aberto algumas<br />
trilhas a serem segui<strong>da</strong>s no sentido <strong>da</strong> ampliação <strong>da</strong> luta contra o racismo,<br />
o preconceito e a discriminação. A Carta Maior garantiu o direito à<br />
diversi<strong>da</strong>de, bem como a afirmação cultural e política do ci<strong>da</strong>dão, em<br />
um ambiente de democracia e liber<strong>da</strong>de. Esse foi o pano de fundo que<br />
proporcionou uma pungente participação do Brasil na III Conferência<br />
Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância<br />
Conexa. A delegação brasileira foi composta em sua grande maioria<br />
por integrantes do Movimento Negro, o que suscitou uma atuação destaca<strong>da</strong>,<br />
<strong>sobre</strong>tudo em em causas mais relevantes para o Brasil. Coube ao<br />
país a Relatoria <strong>da</strong> Conferência, <strong>sobre</strong> a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Dra. Edna<br />
Rolland, destaca<strong>da</strong> militante do Movimento Negro.<br />
O relatório final <strong>da</strong> Conferência reproduziu a riqueza dos debates e<br />
trouxe algumas importantes propostas em torno de uma ideia-síntese:<br />
a do reconhecimento <strong>da</strong> temática racial como um campo de políticas<br />
públicas. Após Durban, o racismo e suas derivações na forma de preconceito<br />
e discriminação racial passam a ser objeto de políticas, com<br />
destaque para as ações afirmativas. A reiteração <strong>da</strong> existência do racismo<br />
como elemento estruturante <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de, <strong>sobre</strong>tudo em países<br />
com o histórico <strong>da</strong> <strong>escravidão</strong>, deu maior centrali<strong>da</strong>de ao debate racial,<br />
suscitando polêmicas nota<strong>da</strong>mente no que tange às ações afirmativas<br />
em suas mais varia<strong>da</strong>s vertentes.<br />
Com efeito, o debate <strong>sobre</strong> as ações afirmativas, <strong>sobre</strong>tudo no que<br />
tange à tipologia <strong>da</strong>s cotas, ganha relevo no Brasil a partir de Durban.<br />
Algumas universi<strong>da</strong>des como a Universi<strong>da</strong>de do Estado do Rio de Janeiro<br />
(UERJ), a Universi<strong>da</strong>de do Estado <strong>da</strong> Bahia (UNEB) e, posteriormente<br />
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