Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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6.4.1 Histórico<br />
Segundo entrevistados <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, o Kilombo dos Almei<strong>da</strong>s<br />
tem sua origem no fim do século XVIII, em um processo<br />
que deve ter se <strong>da</strong>do em paralelo ao aparecimento de outras Comuni<strong>da</strong>des<br />
Remanescentes de Kilombo <strong>da</strong> região e na mesma<br />
época do surgimento dos sítios urbanos. De fato, o Kilombo dos<br />
Almei<strong>da</strong>s surge a partir do final dos anos 1700, tendo sido Luziânia<br />
fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1746 e Silvânia, em 1774.<br />
Informações do IBGE afirmam que Silvânia foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />
exploradores de minérios deslocados de Luziânia. Inicialmente<br />
o nome do povoado era Arraial do Bonfim, mesmo nome <strong>da</strong> devoção<br />
<strong>da</strong> igreja local, o que leva à hipótese <strong>da</strong> forte presença de<br />
baianos no local desde o início do arraial. O nome Silvânia foi adotado<br />
a partir de 1943, em homenagem a Vicente Miguel <strong>da</strong> Silva,<br />
Sargento-Mor e Comen<strong>da</strong>dor, membro <strong>da</strong> elite local.<br />
Segundo Laura Apareci<strong>da</strong> de Almei<strong>da</strong> Pires, presidenta <strong>da</strong> associação<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, por ser Silvânia lugar de garimpo, é possível<br />
que muitos quilombolas de Almei<strong>da</strong> fossem fugitivos <strong>da</strong>s minas<br />
de ouro. Maria Rita de Almei<strong>da</strong>, neta <strong>da</strong> matriarca Persila Pires,<br />
afirma que o Kilombo, situado em região conheci<strong>da</strong> como Córrego<br />
de São Sebastião <strong>da</strong> Garganta, surgiu com a participação conjunta<br />
de negros e índios: “Contava minha mãe e meu pai também que nóis<br />
era descendentes de índio e de escravos... Nóis era descendentes de<br />
índios e de escravos, tal qual e esses sofriam demais”. Dos ex-escravizados<br />
e índios vieram, portanto, os Almei<strong>da</strong> e Pires do Kilombo.<br />
Os mais velhos presentes narram as dificul<strong>da</strong>des antigas, <strong>da</strong>s<br />
casas de palha, relembram ain<strong>da</strong> casos de incêndio nessas residências.<br />
Falam ain<strong>da</strong> do isolamento do lugar, a maioria <strong>da</strong>s pessoas<br />
nunca tinha visto um automóvel.<br />
Uma <strong>da</strong>s fontes afirma que sua avó materna parecia uma africana,<br />
grande de porte, cabelos crespos e que gostava de se vestir<br />
como africana, saia ro<strong>da</strong><strong>da</strong>, amarrações em tecidos e de um pano<br />
especial, não gostava de sentar em cadeira, sentava só no chão.<br />
Sua avó paterna foi “pega a cachorro”, era de cor escura e cabelo<br />
liso. A fonte não sabe dizer se no caso essa pessoa foi captura<strong>da</strong><br />
por ser índia ou por ser <strong>negra</strong> fugitiva.<br />
Em determinado momento, a entrevista<strong>da</strong> mais idosa do<br />
grupo pergunta à outra participante: “O teu pai era o Dé, não era?...<br />
O Dé era um escravo”.<br />
Os presentes asseguram morarem no local desde que “se entendem<br />
por gente”, ou seja, “desde de sempre”. Da<strong>da</strong> a presença de<br />
idosos no grupo e que esses falaram com desenvoltura de seus<br />
avós parece evidente que seus antepassados encontram-se na região<br />
seguramente em <strong>da</strong>ta anterior a 1888.<br />
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