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Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade

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4. As comuni<strong>da</strong>des<br />

remanescentes de kilombos<br />

na região do DF e entorno<br />

Nos anos setecentistas as divisões <strong>da</strong>s trilhas de desbravamentos a<br />

partir do que eram conheci<strong>da</strong>s como as Estra<strong>da</strong>s Reais – as oficiais, partindo<br />

de Paraty/Rio de Janeiro à Ouro Preto/Minas Gerais e de Rio de Janeiro/RJ à<br />

Diamantina/Minas Gerais; as não-oficiais, Estra<strong>da</strong> Real <strong>da</strong> Bahia e a Estra<strong>da</strong> Real<br />

dos Goyases – foram os principais responsáveis pelo aumento demográfico<br />

<strong>da</strong> região central do Brasil, especialmente pela população <strong>negra</strong>.<br />

Eram rotas de fuga, abertas por <strong>negra</strong>s e negros escravizados em matas<br />

nativas, até então conheci<strong>da</strong>s unicamente por indígenas, com o objetivo de<br />

protegerem-se dos diferentes tipos de exploração promovidos pelo regime<br />

colonialista. Estes, se arriscaram em regiões ain<strong>da</strong> não explora<strong>da</strong>s pelos<br />

bandeirantes e capitães do mato e aos poucos, como estratégia de defesa,<br />

se uniram aos povos indígenas em suas aldeias e/ou instalaram-se em áreas<br />

de difícil acesso como vales entre morros, encostas de montanhas e florestas<br />

cerca<strong>da</strong>s por grandes rios.<br />

A resistência dessas comuni<strong>da</strong>des ao longo dos séculos se deu de<br />

diferentes formas a partir <strong>da</strong>s peculiari<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> local, desde a geografia<br />

aos métodos de subsistência. Tal resistência perpetuou nos kilombos uma<br />

versão <strong>da</strong> História transmiti<strong>da</strong> de geração para geração, um registro oral dos<br />

fatos, dos que viveram no período setecentista (no caso dos povos negros de<br />

Goiás) à contemporanei<strong>da</strong>de.<br />

Razão de conflitos entre as populações quilombolas e representantes<br />

<strong>da</strong> dita alta socie<strong>da</strong>de, os registros dotados de valor são escritos que<br />

contemplam quase que exclusivamente a visão do homem branco no que<br />

diz respeito à constituição <strong>da</strong> nação brasileira, esta, foca<strong>da</strong> nos seus próprios<br />

referenciais. Por exemplo, há casos de autori<strong>da</strong>des de serviços públicos e<br />

políticos partidários que em seus discursos afirmam que o termo “quilombo”<br />

surgiu apenas recentemente no vocabulário <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des o que,<br />

segundo eles, trata-se de estratégia <strong>da</strong>s populações <strong>negra</strong>s locais que buscam<br />

desenvolvimento independente, uma vez que são protegi<strong>da</strong>s por legislação<br />

federal. Em suas constantes tentativas de impedir a autonomia dos kilombos,<br />

esses ideopartidários se valem <strong>da</strong> ausência de registros palpáveis de situações<br />

ocorri<strong>da</strong>s em diferentes momentos históricos por essas populações <strong>negra</strong>s.<br />

Para compreender melhor a situação e eliminar o paralelismo entre os<br />

registros desses fatos históricos, sejam escritos (pelos colonizadores e seus<br />

descendentes) ou orais (pelos kilombos e seus remanescentes), a Comissão<br />

mapeou, visitou e trabalhou <strong>sobre</strong> acervos relacionados à região central do<br />

Brasil, bem como às comuni<strong>da</strong>des de kilombos estratégicas ao período de<br />

1736 a 1960. As informações foram confronta<strong>da</strong>s de modo que a orali<strong>da</strong>de<br />

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