Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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5.1.1 Histórico<br />
As comuni<strong>da</strong>des quilombolas Kalunga situa<strong>da</strong>s nos municípios<br />
goianos de Cavalcante, Monte Alegre de Goiás e Teresina de<br />
Goiás são remanescentes <strong>da</strong>s grandes fazen<strong>da</strong>s que se instalaram<br />
no período colonial na região onde hoje se encontra o município<br />
de Arraias, em Tocantins. Na sequência, os povos Kalunga desceram<br />
até as terras de Goiás, constituindo uma rota quilombola que<br />
passa por Campos Belos, Monte Alegre, Cavalcante, Teresina e Alto<br />
Paraíso, onde se divide em duas outras rotas: uma chegando ao<br />
município São João D’Aliança e outra à Flores de Goiás. Por este<br />
motivo é considera<strong>da</strong> a maior etnia quilombola do país.<br />
As comuni<strong>da</strong>des de Riachão e Diadema, componentes <strong>da</strong><br />
etnia Kalunga, localizam-se no Município de Teresina de Goiás, mais<br />
precisamente a uma distância de cerca de 76 Km do núcleo urbano.<br />
5.1.2 Perfil socioeconômico<br />
A comuni<strong>da</strong>de é composta por cerca de 300 famílias que, em<br />
uma área isola<strong>da</strong> do município de Teresina de Goiás, trabalham em<br />
cultura de subsistência. A distância de 76 Km com relação ao centro<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e a ausência de transportes públicos, bem como os raros<br />
transportes particulares, inviabilizam oportuni<strong>da</strong>des de empregos<br />
obrigando a comuni<strong>da</strong>de a depender de roçados de subsistência.<br />
O solo árido impede o cultivo de alimentos diferentes do arroz,<br />
do feijão e do milho. Nos anos em que as chuvas são insuficientes,<br />
as famílias se sustentam apenas de recursos naturais do Cerrado<br />
como a gueroba, o jatobá e o cajuí. A carência nutricional interfere<br />
na saúde, especialmente de mulheres, crianças e idosos.<br />
O pouco dinheiro que se ganha com o trabalho nas roças de<br />
fazendeiros <strong>da</strong> região é suficiente apenas para um precário complemento<br />
<strong>da</strong> alimentação e para os deslocamentos de emergência<br />
para as ci<strong>da</strong>des, por exemplo, numa necessi<strong>da</strong>de médica.<br />
As famílias <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des Riachão e Diadema <strong>sobre</strong>vivem<br />
do que plantam e colhem, porém enfrentam as dificul<strong>da</strong>des de<br />
produzir em uma região onde as condições <strong>da</strong> terra são ári<strong>da</strong>s, com<br />
baixíssima umi<strong>da</strong>de, pouco férteis. O clima na região é marcado<br />
por duas estações bem defini<strong>da</strong>s: a chuvosa, que vai de outubro a<br />
abril, e a seca, que vai de maio a setembro. Esses fatores interferem<br />
na produção, pois há o tempo certo para se plantar e se colher e<br />
se, se foge a esta regra, esgotam-se por tempo indeterminado as<br />
possibili<strong>da</strong>des de alimento para todo o ano.<br />
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