Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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É sabido, no entanto, que os tempos atuais estão difíceis. Os retrocessos<br />
decorrentes <strong>da</strong> instabili<strong>da</strong>de política e econômica vivencia<strong>da</strong> atualmente fez<br />
revigorar uma visão conservadora, que não admite diferenças, que quer o fim<br />
dos programas sociais e que ataca direitos constitucionais. As comuni<strong>da</strong>des<br />
quilombolas não ficarão imunes a tudo isso. O perigo de se paralisar a agen<strong>da</strong><br />
de políticas públicas e de se acabar com a pauta quilombola é real. Uma eventual<br />
aprovação <strong>da</strong> PEC 215, de 2000, que passaria para o Congresso o poder<br />
de decisão <strong>sobre</strong> a demarcação <strong>da</strong>s terras quilombolas e indígenas, poderá<br />
marcar o fim <strong>da</strong> política de regularização. Os parlamentares ligados à banca<strong>da</strong><br />
ruralista rapi<strong>da</strong>mente cui<strong>da</strong>rão de paralisar to<strong>da</strong> e qualquer iniciativa em<br />
prol <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des.Além disso, em franca adesão aos interesses do agronegócio,<br />
dos empresários do ramo imobiliário, bem como do segmento extrativista,<br />
o Legislativo poderá promover uma ampla política de descaracterização<br />
dessas comuni<strong>da</strong>des. Não possuindo mais o crivo de remanescentes de<br />
Kilombo, essas comuni<strong>da</strong>des seguramente serão leva<strong>da</strong>s à proletarização em<br />
massa, aumentando a pobreza e a miséria no campo e ocasionando a per<strong>da</strong><br />
de uma parte importante <strong>da</strong> matriz cultural e identitária brasileira.<br />
É, portanto, imbuí<strong>da</strong> do mais alto espírito republicano e <strong>da</strong> certeza de<br />
que a luta pelos direitos dos povos remanescentes de Kilombos é também a<br />
luta de to<strong>da</strong> uma nação em prol de uma socie<strong>da</strong>de mais justa e democrática,<br />
que esta Comissão <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Escravidão Negra do Distrito Federal,<br />
vem instar os parceiros institucionais a apoiar a luta pela causa quilombola.<br />
Como primeira etapa a Comissão oferece este <strong>Relatório</strong>, cujo conteúdo<br />
poderá suscitar a abertura de frentes de ação junto ao Executivo, Legislativo<br />
e Judiciário. Que este <strong>Relatório</strong> possa vir a ser o ponto de parti<strong>da</strong> de uma<br />
luta conjunta a favor <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des quilombolas, na perspectiva de que<br />
se possa em curto prazo construir uma socie<strong>da</strong>de onde o direito à diferença,<br />
à vi<strong>da</strong> digna e à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia sejam garantidos a todos, brasileiras e brasileiros.