Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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acesso às memórias e às narrativas dos remanescentes quilombolas que<br />
hoje subsistem no enfrentamento às adversi<strong>da</strong>des consubstancia<strong>da</strong>s em<br />
interesses econômicos ligados ao agronegócio, à especulação imobiliária e à<br />
grilagem, bem assim à própria omissão do Estado.<br />
A opção de se incorporar parte do território de Goiás como extensão do<br />
campo <strong>da</strong> pesquisa deve-se ao fato de que o atual Distrito Federal era parte<br />
integrante <strong>da</strong>quele estado, sendo que o processo de ocupação dessa área<br />
foi único. DF e Entorno, denominações recentes, configuram assim histórias<br />
entrecruza<strong>da</strong>s que são focaliza<strong>da</strong>s neste <strong>Relatório</strong>.<br />
Também contribuiu para a extensão <strong>da</strong> pesquisa ao território de<br />
Goiás o fato de que aquele estado não possui Comissão <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de <strong>sobre</strong><br />
Escravidão Negra. A Comissão do DF incumbiu-se assim, diante desse quadro,<br />
de protagonizar o estudo <strong>sobre</strong> uma área de maior abrangência que conta a<br />
história <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s e dos negros <strong>da</strong> região.<br />
Este <strong>Relatório</strong> é composto de doze partes, além desta introdução.<br />
No capítulo 1 é apresenta<strong>da</strong> a metodologia do trabalho, explicitando as<br />
orientações <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, com destaque pela busca <strong>da</strong> história do ponto<br />
de vista <strong>da</strong> própria população quilombola, aqui denomina<strong>da</strong> de “memória<br />
<strong>negra</strong>”, em contraposição à historiografia ti<strong>da</strong> como oficial, inscrita nos<br />
documentos e jornais <strong>da</strong> época, aqui chama<strong>da</strong> de “memória branca”.<br />
O capítulo 2 apresenta um apanhado histórico <strong>da</strong> ocupação <strong>da</strong>s terras de<br />
Goiás desde o ciclo <strong>da</strong> mineração, passando pela consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> economia<br />
agrária, ao mesmo tempo em que se formavam os kilombos. A chega<strong>da</strong> do<br />
século XX e a construção de Brasília inauguram uma nova etapa na qual<br />
convivem, não sem conflitos, formas considera<strong>da</strong>s modernas e arcaicas de<br />
organização social, e onde as comuni<strong>da</strong>des quilombolas passam a ser vítimas<br />
de todo tipo de espoliação e violência, marca principal <strong>da</strong> forma como as<br />
populações <strong>negra</strong>s foram e são trata<strong>da</strong>s neste país.<br />
Já no capítulo 3 são apresenta<strong>da</strong>s as principais características <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des<br />
históricas <strong>da</strong> região e seu convívio com a <strong>escravidão</strong> e com os kilombos<br />
próximos. Aqui foram privilegia<strong>da</strong>s as informações <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Luziânia<br />
levando em conta a centrali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quela área urbana, local estratégico,<br />
tendo em vista a ativi<strong>da</strong>de primeira e que justificou to<strong>da</strong> a ocupação posterior<br />
que foi o garimpo. Tal centrali<strong>da</strong>de fez com que Luziânia se mostrasse a<br />
ci<strong>da</strong>de que tinha disponível a maior quanti<strong>da</strong>de de informações em relação<br />
ao histórico <strong>da</strong> região. Outros centros urbanos também mereceram atenção<br />
<strong>da</strong> Comissão, casos de Planaltina (DF), Planaltina(GO), Arraias (TO), Santa Cruz<br />
(GO) e Formosa (GO).<br />
O capítulo 4 traz a organização <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des remanescentes de<br />
kilombos, responsáveis pela povoação <strong>da</strong> região central do país, a partir de<br />
ramificações <strong>da</strong>s Estra<strong>da</strong>s Reais. Mostra ain<strong>da</strong>, a constituição dos espaços<br />
urbanos na visão <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> colocando em confronto a história oral<br />
perpetua<strong>da</strong> nas comuni<strong>da</strong>des rurais <strong>negra</strong>s (kilombos), e a versão registra<strong>da</strong><br />
pela elite colonizadora dos anos 1800, firma<strong>da</strong> por séculos como a única<br />
<strong>ver<strong>da</strong>de</strong> histórica do processo de composição <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de nacional.