Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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Agradecimentos<br />
“Meu tempo é agora”.<br />
Mãe Stella de Oxossi<br />
Para muitos povos africanos, a ideia de ancestrali<strong>da</strong>de está ancora<strong>da</strong> no “agora”, isto é,<br />
o que entendemos como “tempo presente” seria a consciência de que já fomos e que<br />
seremos. Ancestrali<strong>da</strong>de, portanto, não se refere à concepção de um passado distante,<br />
mas a uma consciência de estar no mundo por dentro dos elos que fazem a ligação de<br />
temporali<strong>da</strong>des que articulam experiências e deveres. Tal percepção sugere que a consciência<br />
de estar vivo nos impõe uma condição de responsabili<strong>da</strong>de com o que foi e com o que virá<br />
e esta ideia confere a ca<strong>da</strong> um de nós uma noção de conexão com uma possível totali<strong>da</strong>de,<br />
calca<strong>da</strong> numa plena sensação de pertencimento a uma comuni<strong>da</strong>de.<br />
Desde que os povos africanos foram sequestrados e trazidos para cá, em processos que<br />
duraram quase quatrocentos anos, os referenciais identitários, os laços de comuni<strong>da</strong>de e as<br />
capaci<strong>da</strong>des de rearticulação foram e são desafiados pelos regimes de poder aqui instaurados.<br />
Diante de cenários ásperos, as <strong>negra</strong>s e os negros sempre agiram, resistiram e negociaram<br />
de múltiplas formas. Hoje também nós, seus descendentes, <strong>da</strong> mesma maneira, nos<br />
organizamos a ponto de construir um documento como este que vos apresentamos. Nós não<br />
conseguiríamos tê-lo feito sem um conjunto de redes construí<strong>da</strong>s e aciona<strong>da</strong>s; tampouco sem a<br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, o companheirismo e a forte noção de que “nós precisamos ser por nós mesmos”.<br />
Assim, agradecemos às gerações de <strong>negra</strong>s e negros que nos antecederam, que jamais<br />
abaixaram a cabeça para o sistema que os pretendia subservientes, silencia<strong>da</strong>s e silenciados e<br />
extermina<strong>da</strong>s e exterminados. Agradecemos por terem conseguido manter os ensinamentos <strong>da</strong><br />
Mãe África, calcados nos conceitos de comuni<strong>da</strong>de, integração, amor, força, superação e infinita<br />
capaci<strong>da</strong>de de ressignificações. Agradecemos por terem nos ensinado que nós precisamos nos<br />
olhar, nos perceber, nos aju<strong>da</strong>r e aquilombar.<br />
Diante deste quadro, agradecemos a nossa ancestrali<strong>da</strong>de que nos faz perceber que<br />
quando cui<strong>da</strong>mos do hoje, honramos as gerações que nos antecederam, bem como mantemos<br />
a luta pela garantia <strong>da</strong> existência em bem-estar e digni<strong>da</strong>de no futuro <strong>da</strong>quelas que virão.<br />
Quando cui<strong>da</strong>mos <strong>da</strong>s nossas irmãs e irmãos do presente, portanto, somos “cobras mordendo a<br />
própria cau<strong>da</strong>”, responsabilizando-nos com um conjunto do qual fazemos parte.<br />
Agradecemos às irmãs e aos irmãos quilombolas que acreditaram no nosso trabalho,<br />
que se predispuseram a abrir suas casas, narrativas, memórias, conhecimentos. Às lideranças<br />
quilombolas que nos aju<strong>da</strong>ram em logística, acessos, organizações.<br />
<strong>Final</strong>mente, gostaríamos de externar nossa enorme gratidão ao Sindicato dos Bancários<br />
de Brasília que, em um momento difícil, acolheu a Comissão, <strong>da</strong>ndo todo apoio financeiro e<br />
logístico necessário à realização deste <strong>Relatório</strong>.