08.09.2017 Views

Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade

  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Artigos de Offício.<br />

DECRETO.<br />

1833. – N. 59.<br />

A Regencia Permanente, em Nome do Imperador o Senhor<br />

Dom Pedro Segundo, Faz saber:<br />

[...]<br />

§ 5º O producto <strong>da</strong> taxa anual de dois mil reis paga pelos<br />

Habitantes <strong>da</strong>s Ci<strong>da</strong>des, e Villas em razão de ca<strong>da</strong> escravo<br />

nellas possuídos, além do numero de dois sendo solteiros os<br />

Proprietarios, e de quatro sendo casados. Exceptuao-se os<br />

escravos menores de doze annos, e maiores de sessenta.<br />

A Matutina Meyapontense, Volume V – 1834 Pág. 18<br />

Já nos casarões, senzalas, garimpos e latifúndios os trabalhos braçais<br />

de homens e mulheres africanas e afro-brasileiras pareciam deixar a<br />

desejar diante <strong>da</strong>s ambições dos colonizadores. O maior esforço parecia<br />

não ser suficiente às exigências de produtivi<strong>da</strong>de. Relatos de quilombolas,<br />

descendentes dos que enfrentaram o período <strong>da</strong> <strong>escravidão</strong>, contaram à<br />

CVN/SBB o que ouviram de seus pais e avós <strong>sobre</strong> as condições subumanas a<br />

que eram expostos os povos negros. O quilombola Mesquita, Aldenis Lisboa<br />

<strong>da</strong> Costa resume detalha<strong>da</strong>mente o cenário de horror vivenciado pelos seus<br />

antepassados no Garimpo Santa Luzia:<br />

Eu sempre ouvi muitas histórias <strong>da</strong>s famílias <strong>da</strong>qui. Cresci<br />

ouvindo como os homem castigava os pretos que trabalhavam<br />

pro garimpo <strong>da</strong>qui [de Santa Luzia] e pros garimpos que tinha<br />

na região dos Kalunga e em Minas Gerais. Esses castigos não<br />

são novi<strong>da</strong>de pra ninguém, mas não é todo mundo que tem<br />

coragem de contar. Eu conto porque todo mundo tem que<br />

saber do horror que foi a <strong>escravidão</strong>.<br />

Das histórias que ouvi <strong>sobre</strong> esses homem, soube que não<br />

admitiam que os negros tivessem os mesmo costume deles. A<br />

comi<strong>da</strong> pros escravos era coloca<strong>da</strong> nos cochos e eles tinham que<br />

ficar ao redor, amontoados pra dividir o alimento, comendo com<br />

as mãos. Quando faziam algo que desagra<strong>da</strong>sse, iam pra chibata.<br />

Mas a cruel<strong>da</strong>de era tanta às vezes, que os escravos iam pra ser<br />

castigados na ro<strong>da</strong> d’agua que ficava num terreno, perto de onde<br />

hoje é a Papu<strong>da</strong> [presídio do DF]. Ficavam amarrados com os<br />

braços abertos, de costas para as ro<strong>da</strong>s, apanhando <strong>da</strong>s pás <strong>da</strong>s<br />

ro<strong>da</strong>s. Ás vezes os castigos duravam a noite to<strong>da</strong>. Uns morriam e<br />

os que <strong>sobre</strong>viviam ficavam doente do frio <strong>da</strong>s águas e <strong>da</strong>s feri<strong>da</strong>s<br />

83

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!