Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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6.1.1 Histórico<br />
Os quilombolas de Ana Laura são oriundos, em sua grande<br />
maioria, do Município de Santa Cruz onde se localizava uma<br />
grande mina de ouro. À medi<strong>da</strong> que o garimpo foi ficando escasso,<br />
secun<strong>da</strong>riamente o manejo agrícola e pastoril na região ganhou<br />
força. Na sequência, foi fun<strong>da</strong>do o município de Piracanjuba e, por<br />
ter resistido, ilhado desde 1826 no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, Ana Laura foi<br />
certificado como um kilombo urbano.<br />
Com o fim do garimpo, muitas famílias de negros passaram<br />
a viver a partir do trabalho de meeiras nas fazen<strong>da</strong>s dos grandes<br />
latifundiários. Os negros entravam com a mão de obra e os fazendeiros<br />
com as terras. A maior e melhor parte <strong>da</strong> produção era sempre<br />
dos fazendeiros.<br />
O nome Ana Laura é uma homenagem a avó do sr. Anastácio<br />
Jacinto, patriarca do kilombo. Ela e seu esposo tinham muitas terras,<br />
assim como muitos negros naquela época, mas foram assediados<br />
e persuadidos pelos brancos a alugar as áreas por valores irrisórios.<br />
Por fim, foram ameaçados de morte e expulsos <strong>da</strong>s próprias<br />
terras. Nesse sentido, há relatos de conflitos em que fazendeiros<br />
tomaram as terras de negros a força e forjaram documentos para<br />
formalizar a posse. A lei era a do fazendeiro e a justiça sempre estava<br />
do lado dele, do rico.<br />
Em visita ao centro urbano a CVN/SBB teve a oportuni<strong>da</strong>de<br />
de visitar a Casa <strong>da</strong>s Tamarinas, uma residência de quilombolas<br />
assim identifica<strong>da</strong> devido um pé de tamarindo plantado em sua<br />
frente. A árvore se tornou referência <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de por ter pertencido<br />
à família que primeiro se estabeleceu no local. Com o tempo,<br />
outras famílias <strong>negra</strong>s vieram para a vizinhança e assim cresceu a<br />
ci<strong>da</strong>de. Ao redor <strong>da</strong> árvore, foram promovi<strong>da</strong>s inúmeras edições<br />
<strong>da</strong> tradicional Festa do 13 de Maio. As festas não eram sacras e sim<br />
boêmias, celebravam a liber<strong>da</strong>de como vitória à memória sombria<br />
<strong>da</strong> <strong>escravidão</strong>.<br />
A vice-presidente <strong>da</strong> associação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, Maria de<br />
Fátima de Souza Mendonça (Tamarineira, mais conheci<strong>da</strong> como<br />
Fátima, sobrinha do Sr. Jacinto, principal festeiro), recor<strong>da</strong> com<br />
sau<strong>da</strong>de a infância na qual vivenciou algumas edições <strong>da</strong> festa. O<br />
Avô <strong>da</strong> Fátima veio de Minas Gerais e a avó Jacinta veio de Santa<br />
Cruz. Fátima se diz arrependi<strong>da</strong> por não ter registrado em fotos<br />
o pé de tamarindo, ressalta também que sua tia Guita auxiliava<br />
nas festas com apresentações teatrais. Após a morte <strong>da</strong> matriarca<br />
e do patriarca a Festa do dia 13 de Maio foi se enfraquecendo,<br />
mas a família <strong>da</strong> Fátima ain<strong>da</strong> tenta manter e resgatar o máximo<br />
<strong>da</strong>quele tempo.<br />
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