Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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“Um dos problemas discutidos e sempre ignorado era quanto<br />
à existência de Kilombos no DF. A criação <strong>da</strong> CVN/SBB foi<br />
um passo memorável para a desmistificação deste quadro.<br />
Kilombos sempre existiram e com to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des<br />
conseguiram manter suas culturas e tradições com histórias<br />
de superação e violências. Desde a época <strong>da</strong> <strong>escravidão</strong><br />
lutam para vencer o roubo de direitos que lhes foram tirados<br />
e para recuperar as poucas terras que têm <strong>da</strong>s mãos dos<br />
latifundiários do agronegócio”.<br />
Júlia Conceição Berto<br />
(Militante do Movimento Negro)<br />
Consultora<br />
“Ações voluntárias como a formação <strong>da</strong> Comissão <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de<br />
<strong>sobre</strong> a Escravidão Negra do DF e Entorno precisam ser<br />
uma constante nas trajetórias <strong>da</strong>s pessoas pretas, par<strong>da</strong>s e<br />
indígenas neste país. Sabemos que desde que este território<br />
foi invadido pelos povos europeus que paulatinamente<br />
consolidou-se a formação de uma socie<strong>da</strong>de calca<strong>da</strong> no<br />
saque, pilhagem, genocídio, estupros, <strong>escravidão</strong>, violência<br />
religiosa, epistemicídios, racismo, machismo, entre outras<br />
marcas que legitimaram os planos de supremacia dos homens<br />
e mulheres brancas em detrimento <strong>da</strong>s precarie<strong>da</strong>des,<br />
vulnerabili<strong>da</strong>des e extermínio <strong>da</strong>s pessoas não-brancas e<br />
dos seus projetos de socie<strong>da</strong>des. A dimensão racial é, assim,<br />
o lócus crucial de análise <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira, sem a qual<br />
não compreendemos os dramas históricos dos povos negros<br />
(chamados pretos e pardos) na luta por acesso à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia,<br />
bem-estar, digni<strong>da</strong>de e felici<strong>da</strong>de. Integrar esta Comissão,<br />
portanto, potencializou em mim o desejo de reconsideração<br />
<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de não apenas lutar pela manutenção e<br />
garantia dos direitos <strong>da</strong>s/os irmãs/os quilombolas junto com<br />
elas/es, mas também de aprender com suas experiências<br />
e perceber que é urgente a criação de novas práticas de<br />
reorganização política dos negros/as, em processos que<br />
podemos chamar de “requilombamento”. Nas escolas,<br />
bairros, universi<strong>da</strong>des, empresas, presídios, igrejas, morros,<br />
quebra<strong>da</strong>s, etc. é fun<strong>da</strong>mental que reapren<strong>da</strong>mos a nos<br />
perceber enquanto pessoas que precisam se proteger, se unir<br />
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