Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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José Pereira era o homem branco, tendo sido ain<strong>da</strong> o<br />
último brasileiro livre a sofrer a pena de morte. Condenado pelo<br />
assassinato de um barão <strong>da</strong> região, não se sabe exatamente o<br />
dia e o ano de sua morte, pois a documentação referente a essa<br />
condenação se perdeu. Também há muitas dúvi<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> o<br />
motivo de ter sido enterrado na igreja dos escravos. Supõe-se,<br />
no entanto, que se trate de uma forma de castigo. Há ain<strong>da</strong> uma<br />
versão entre moradores de Luziânia de que José Pereira de Souza<br />
foi injustamente condenado.<br />
De acordo com um funcionário <strong>da</strong> igreja, que preferiu não ter o<br />
nome revelado, em certa época houve um esforço em identificar as<br />
pessoas enterra<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> cova, porém, os documentos referentes<br />
a esses mortos “desapareceram” prejudicando os trabalhos.<br />
Outra história interessante se refere ao negro Delfino.<br />
Quilombola de identi<strong>da</strong>de Mesquita, Delfino foi um dos poucos<br />
negros livres de sua época e único negro com elevado status<br />
social. Alferes do Rei de Portugal, ele era o homem de confiança<br />
do bandeirante Antônio Bueno de Azevedo. Dono de grandes<br />
proprie<strong>da</strong>des, Delfino fez história em meio a uma população de<br />
mais de 10.000 pessoas. Seguramente, ele teve papel importante<br />
na viabilização <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> Igreja de Nossa Senhora do<br />
Rosário dos Pretos. Parte <strong>da</strong>s terras do Kilombo Mesquita provém<br />
de herança de Delfino.<br />
Para a inauguração <strong>da</strong> Igreja, em 1763, foram trazi<strong>da</strong>s do<br />
Estado <strong>da</strong> Bahia “... as imagens de Nossa Senhora do Rosário e de São<br />
Benedito em ombros de escravos...”, diz um informativo anexado na<br />
parede <strong>da</strong> Igreja.<br />
Sobre a história recente <strong>da</strong> Igreja do Rosário, conta outro<br />
funcionário <strong>da</strong> Igreja, que também preferiu não se identificar, que<br />
uma grande frustração dos moradores <strong>da</strong> região está no fato de<br />
os chamados “santos dos negros” terem sido retirados e levados<br />
à Matriz, Paróquia Santa Luzia, durante uma reforma ocorri<strong>da</strong> no<br />
ano de 1934, nunca mais tendo sido devolvidos.<br />
Sobre esse episódio, Domingos Ribeiro de Vasconcelos, com<br />
seus recém-completados 100 anos de vi<strong>da</strong> (16 de março de 2016),<br />
disse aos consultores <strong>da</strong> Comissão que “a Igreja onde fui coroinha<br />
não é mais a mesma. As torres eram muito mais altas e as sacristias<br />
que ficavam nas laterais foram destruí<strong>da</strong>s. Os santos, nunca mais<br />
foram vistos”.<br />
De fato, segundo informações <strong>da</strong> Superintendência do<br />
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de Goiás<br />
(Iphan-GO), àquela época a reforma, que envolveu ain<strong>da</strong> a remoção<br />
de três altares e <strong>da</strong>s imagens de Santa Luzia, do Sagrado Coração<br />
de Jesus e do Sagrado Coração de Maria, foi supervisiona<strong>da</strong> pelo<br />
frei dominicano Gabriel Maria de Menezes.<br />
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