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de fazer isso, a lei é muito sábia, porque<br />
ela chama os movimentos sociais.<br />
Então as escolas precisam se aproximar<br />
dos movimentos sociais. E vejo<br />
que muitas escolas têm uma ideia completamente<br />
equivocada de movimentos<br />
sociais. Elas não conseguem identificar,<br />
por exemplo, que um movimento estético,<br />
como a gente está tendo um<br />
boom aqui em Belo Horizonte sobre o<br />
cabelo crespo, é político. Você está dizendo<br />
que seu país politicamente coloca<br />
um lugar para quem tem cabelo<br />
crespo. Há alguns lugares em que todas<br />
as pessoas de cabelo crespo têm de<br />
estar com ele liso, preso ou escondido,<br />
porque parece que não se encaixa em<br />
algumas funções. Você não vê alguma<br />
pessoa de cabelo crespo solto num<br />
banco, dificilmente vê alguém que<br />
ocupa a função de comissário de bordo<br />
usando o cabelo crespo. Em determinados<br />
restaurantes, os gerentes, esses<br />
cargos de alto poder, não se enxerga<br />
as pessoas com cabelo crespo. Então<br />
esse trabalho pra mim começa na educação<br />
infantil, mas não pensando no<br />
futuro, pensando no presente da<br />
criança, mas isso para mim vai ter um<br />
impacto considerável no futuro.<br />
Essa questão do cabelo é uma<br />
questão de fato política, não é?<br />
É uma ação política e não é um<br />
movimento só do Brasil. Mencionei<br />
aqui porque a gente está vendo isso<br />
forte em Belo Horizonte. Acompanho<br />
também pelo Facebook o que os movimentos<br />
estão fazendo. Tem o movimento<br />
de crespas e cacheadas, tem o<br />
encrespa geral, são eventos em que<br />
elas convidam as mulheres a primeiro<br />
valorizar o cabelo natural. Isso não significa<br />
que você não possa mais relaxar<br />
ou alisar, mas é um movimento que<br />
vai lutar contra esse engessamento,<br />
essa visão de que a única forma apresentável<br />
de cabelo é a lisa.<br />
Contra esse padrão de beleza<br />
também?<br />
Sim, e de beleza que vai para um<br />
patamar que significa também como se<br />
fosse conhecimento. A ideia da mulher<br />
intelectual é de uma mulher que, embora<br />
não tenha vaidade, se apresenta com<br />
um cabelo liso, o protótipo da mulher<br />
cientista, da pesquisadora. Se você olha<br />
uma pessoa com o cabelo crespo, solto<br />
e alto, o primeiro olhar é: aquela pessoa<br />
não é cientista, não tem conhecimento<br />
pra isso, se não o cabelo dela não<br />
estaria daquele jeito. Vi a discussão nas<br />
redes sociais acerca de um bloco [carnavalesco]<br />
em Juiz de Fora sobre empregadas<br />
domésticas. São homens negros,<br />
que pintam o rosto de preto, passam<br />
batom para parecer que o lábio<br />
está grosso e colocam uma peruca de<br />
cabelo crespo. É uma caricatura grosseira<br />
e isso é visto como algo divertido. Pra<br />
nós, a nossa pele, boca e cabelo não<br />
querem ser motivo de chacota. Se pra<br />
eles é uma brincadeira, pra nós é muito<br />
agressivo, pois aquela apresentação está<br />
inferiorizando tudo que tem a ver com<br />
a identidade da mulher negra. Li as crí-<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015