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MIOLO ELA POR ELAS Nº 8

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de fazer isso, a lei é muito sábia, porque<br />

ela chama os movimentos sociais.<br />

Então as escolas precisam se aproximar<br />

dos movimentos sociais. E vejo<br />

que muitas escolas têm uma ideia completamente<br />

equivocada de movimentos<br />

sociais. Elas não conseguem identificar,<br />

por exemplo, que um movimento estético,<br />

como a gente está tendo um<br />

boom aqui em Belo Horizonte sobre o<br />

cabelo crespo, é político. Você está dizendo<br />

que seu país politicamente coloca<br />

um lugar para quem tem cabelo<br />

crespo. Há alguns lugares em que todas<br />

as pessoas de cabelo crespo têm de<br />

estar com ele liso, preso ou escondido,<br />

porque parece que não se encaixa em<br />

algumas funções. Você não vê alguma<br />

pessoa de cabelo crespo solto num<br />

banco, dificilmente vê alguém que<br />

ocupa a função de comissário de bordo<br />

usando o cabelo crespo. Em determinados<br />

restaurantes, os gerentes, esses<br />

cargos de alto poder, não se enxerga<br />

as pessoas com cabelo crespo. Então<br />

esse trabalho pra mim começa na educação<br />

infantil, mas não pensando no<br />

futuro, pensando no presente da<br />

criança, mas isso para mim vai ter um<br />

impacto considerável no futuro.<br />

Essa questão do cabelo é uma<br />

questão de fato política, não é?<br />

É uma ação política e não é um<br />

movimento só do Brasil. Mencionei<br />

aqui porque a gente está vendo isso<br />

forte em Belo Horizonte. Acompanho<br />

também pelo Facebook o que os movimentos<br />

estão fazendo. Tem o movimento<br />

de crespas e cacheadas, tem o<br />

encrespa geral, são eventos em que<br />

elas convidam as mulheres a primeiro<br />

valorizar o cabelo natural. Isso não significa<br />

que você não possa mais relaxar<br />

ou alisar, mas é um movimento que<br />

vai lutar contra esse engessamento,<br />

essa visão de que a única forma apresentável<br />

de cabelo é a lisa.<br />

Contra esse padrão de beleza<br />

também?<br />

Sim, e de beleza que vai para um<br />

patamar que significa também como se<br />

fosse conhecimento. A ideia da mulher<br />

intelectual é de uma mulher que, embora<br />

não tenha vaidade, se apresenta com<br />

um cabelo liso, o protótipo da mulher<br />

cientista, da pesquisadora. Se você olha<br />

uma pessoa com o cabelo crespo, solto<br />

e alto, o primeiro olhar é: aquela pessoa<br />

não é cientista, não tem conhecimento<br />

pra isso, se não o cabelo dela não<br />

estaria daquele jeito. Vi a discussão nas<br />

redes sociais acerca de um bloco [carnavalesco]<br />

em Juiz de Fora sobre empregadas<br />

domésticas. São homens negros,<br />

que pintam o rosto de preto, passam<br />

batom para parecer que o lábio<br />

está grosso e colocam uma peruca de<br />

cabelo crespo. É uma caricatura grosseira<br />

e isso é visto como algo divertido. Pra<br />

nós, a nossa pele, boca e cabelo não<br />

querem ser motivo de chacota. Se pra<br />

eles é uma brincadeira, pra nós é muito<br />

agressivo, pois aquela apresentação está<br />

inferiorizando tudo que tem a ver com<br />

a identidade da mulher negra. Li as crí-<br />

Revista Elas por Elas - Abril 2015

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