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da coordenadoria de saúde de Fernando<br />
de Noronha, ligada à Secretaria Estadual<br />
de Saúde de Pernambuco.<br />
Cerca de 40 mulheres de Noronha<br />
dão à luz por ano. É uma média de três<br />
partos por mês. A coordenadora de<br />
saúde do arquipélago, Fátima Souza,<br />
acredita que esses números são ínfimos<br />
frente aos riscos que as mães correriam<br />
sem um hospital de alta complexidade.<br />
“Os custos para manter uma<br />
maternidade para, no máximo, quatro<br />
partos por mês seriam muito altos.<br />
Além disso, temos um déficit de profissionais<br />
permanentes na ilha e de estrutura<br />
física”, afirmou.<br />
Ela faz as contas. Para manter a<br />
maternidade em Noronha, seriam necessários<br />
21 médicos por mês, sendo<br />
sete obstetras, sete anestesistas e sete<br />
neonatologistas. O plantão de um médico<br />
custa R$ 1,8 mil, totalizando R$<br />
151.200 apenas com a folha de pagamento<br />
desses profissionais. “Isso sem<br />
contar com os enfermeiros, técnicos<br />
de enfermagem, impostos, material<br />
médico, passagem, hospedagem e alimentação<br />
das equipes. É muito mais<br />
vantagem mandar as mulheres para o<br />
continente”, pontuou.<br />
A médica gestora garante que, no<br />
Recife, as grávidas são acompanhadas<br />
desde o desembarque até o parto. As<br />
recifenses são levadas para a casa de<br />
familiares que permaneceram na capital<br />
pernambucana. As que não têm parentes<br />
na cidade são hospedadas em<br />
um hotel pago pelo estado. “Elas são<br />
orientadas por uma equipe formada<br />
por assistente social, nutricionista e<br />
enfermeiras. Para os exames, um carro<br />
da administração faz o transporte dessas<br />
mulheres”, explica Fátima Souza. Os<br />
depoimentos das mães, no entanto,<br />
contradiziam essa informação.<br />
Maternidade do único hospital virou depósito, após ser desativada em 2014.<br />
A cozinheira Marinalva Fonseca confidenciou<br />
que foi abandonada pelo<br />
estado quando chegou ao continente.<br />
No oitavo mês da gestação de Tayná,<br />
hoje com 4 anos, Marinalva deixou Noronha<br />
com a promessa de que seria<br />
hospedada num hotel em Boa Viagem,<br />
Zona Sul do Recife. Ao chegar à capital<br />
pernambucana, porém, foi encaminhada<br />
para um dos quartos da Casa do Estudante,<br />
no Derby, área central da capital<br />
pernambucana. Dividia o espaço com<br />
centenas de jovens de todo o estado,<br />
mas se sentia isolada. “Passei mal numa<br />
noite e decidi voltar para casa. Pensei,<br />
já que me levaram para o Recife na<br />
base da mentira, que eu podia retornar<br />
do mesmo jeito”, relatou.<br />
Três dias depois que retornou à<br />
ilha, a auxiliar de cozinha deu à luz de<br />
parto normal, feito por uma equipe<br />
médica improvisada, no São Lucas. O<br />
Salve Aéreo que atende à ilha foi chamado.<br />
“Disseram que eu estava com<br />
restos de placenta no organismo, não<br />
me deixaram ver minha filha depois<br />
que ela nasceu”. Levada de volta ao<br />
Recife, foi atendida por médicos do<br />
Cisam, uma maternidade pública ligada<br />
à Universidade de Pernambuco (UPE).<br />
Conforme o relatório da equipe da<br />
maternidade, o parto aconteceu normalmente,<br />
sem a necessidade de internamento.<br />
“Acho que a administração<br />
quis me punir”. Thayná mora na Paraíba<br />
com a avó. Nunca conseguiu o status<br />
de moradora permanente da ilha. Já<br />
Marinalva continua em Noronha e<br />
ainda sonha com a possibilidade de<br />
viver ao lado da filha.<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015