12.09.2017 Views

MIOLO ELA POR ELAS Nº 8

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

70<br />

da coordenadoria de saúde de Fernando<br />

de Noronha, ligada à Secretaria Estadual<br />

de Saúde de Pernambuco.<br />

Cerca de 40 mulheres de Noronha<br />

dão à luz por ano. É uma média de três<br />

partos por mês. A coordenadora de<br />

saúde do arquipélago, Fátima Souza,<br />

acredita que esses números são ínfimos<br />

frente aos riscos que as mães correriam<br />

sem um hospital de alta complexidade.<br />

“Os custos para manter uma<br />

maternidade para, no máximo, quatro<br />

partos por mês seriam muito altos.<br />

Além disso, temos um déficit de profissionais<br />

permanentes na ilha e de estrutura<br />

física”, afirmou.<br />

Ela faz as contas. Para manter a<br />

maternidade em Noronha, seriam necessários<br />

21 médicos por mês, sendo<br />

sete obstetras, sete anestesistas e sete<br />

neonatologistas. O plantão de um médico<br />

custa R$ 1,8 mil, totalizando R$<br />

151.200 apenas com a folha de pagamento<br />

desses profissionais. “Isso sem<br />

contar com os enfermeiros, técnicos<br />

de enfermagem, impostos, material<br />

médico, passagem, hospedagem e alimentação<br />

das equipes. É muito mais<br />

vantagem mandar as mulheres para o<br />

continente”, pontuou.<br />

A médica gestora garante que, no<br />

Recife, as grávidas são acompanhadas<br />

desde o desembarque até o parto. As<br />

recifenses são levadas para a casa de<br />

familiares que permaneceram na capital<br />

pernambucana. As que não têm parentes<br />

na cidade são hospedadas em<br />

um hotel pago pelo estado. “Elas são<br />

orientadas por uma equipe formada<br />

por assistente social, nutricionista e<br />

enfermeiras. Para os exames, um carro<br />

da administração faz o transporte dessas<br />

mulheres”, explica Fátima Souza. Os<br />

depoimentos das mães, no entanto,<br />

contradiziam essa informação.<br />

Maternidade do único hospital virou depósito, após ser desativada em 2014.<br />

A cozinheira Marinalva Fonseca confidenciou<br />

que foi abandonada pelo<br />

estado quando chegou ao continente.<br />

No oitavo mês da gestação de Tayná,<br />

hoje com 4 anos, Marinalva deixou Noronha<br />

com a promessa de que seria<br />

hospedada num hotel em Boa Viagem,<br />

Zona Sul do Recife. Ao chegar à capital<br />

pernambucana, porém, foi encaminhada<br />

para um dos quartos da Casa do Estudante,<br />

no Derby, área central da capital<br />

pernambucana. Dividia o espaço com<br />

centenas de jovens de todo o estado,<br />

mas se sentia isolada. “Passei mal numa<br />

noite e decidi voltar para casa. Pensei,<br />

já que me levaram para o Recife na<br />

base da mentira, que eu podia retornar<br />

do mesmo jeito”, relatou.<br />

Três dias depois que retornou à<br />

ilha, a auxiliar de cozinha deu à luz de<br />

parto normal, feito por uma equipe<br />

médica improvisada, no São Lucas. O<br />

Salve Aéreo que atende à ilha foi chamado.<br />

“Disseram que eu estava com<br />

restos de placenta no organismo, não<br />

me deixaram ver minha filha depois<br />

que ela nasceu”. Levada de volta ao<br />

Recife, foi atendida por médicos do<br />

Cisam, uma maternidade pública ligada<br />

à Universidade de Pernambuco (UPE).<br />

Conforme o relatório da equipe da<br />

maternidade, o parto aconteceu normalmente,<br />

sem a necessidade de internamento.<br />

“Acho que a administração<br />

quis me punir”. Thayná mora na Paraíba<br />

com a avó. Nunca conseguiu o status<br />

de moradora permanente da ilha. Já<br />

Marinalva continua em Noronha e<br />

ainda sonha com a possibilidade de<br />

viver ao lado da filha.<br />

Revista Elas por Elas - Abril 2015

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!