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públicas com os demais técnicos da<br />
rede para pensar soluções sobre o<br />
tema. Atua como um terceiro, com<br />
sua lógica própria e isso não é saudável<br />
para essa relação. O Município transfere<br />
a responsabilidade, o que dificulta o<br />
diálogo e o controle social sobre o serviço<br />
que é prestado”, afirma Egídia.<br />
Os principais atores dessa discussão<br />
tem sido a Defensoria Pública e o Ministério<br />
Público. “Nesse momento o<br />
MP está dividido. Uma parte tem uma<br />
visão muito autoritária e fascista. É um<br />
fato ruim porque a instituição costuma<br />
ser um defensor dos direitos humanos.<br />
Mas, a verdade é que os procuradores<br />
que tomaram essa decisão representam<br />
uma parcela da sociedade que julga<br />
essas mulheres de forma arbitrária e<br />
acredita que retirar os filhos do seu<br />
convívio é a melhor solução. Pensam<br />
como um problema de Polícia ou de<br />
Justiça e não de saúde pública ou de<br />
políticas públicas, como nós entendemos”,<br />
destaca Egídia.<br />
Em contraponto à ação do Ministério<br />
Público, a Defensoria Pública da União<br />
e do Estado de Minas Gerais, por meio<br />
de seus setores especializados em Infância<br />
e Juventude e Direitos Humanos,<br />
Coletivos e Socioambientais publicou<br />
uma recomendação conjunta no sentido<br />
de proteger essas mães e seus filhos e<br />
evitar a quebra dos laços familiares.<br />
Além disso, foi criada uma rede de profissionais<br />
que estão em debate constante<br />
sobre esses casos. O grupo reúne psicólogos,<br />
assistentes sociais, advogados,<br />
agentes de saúde, entre outros representantes<br />
envolvidos nessa causa.<br />
Uma das reivindicações desse grupo<br />
é que a Defensoria seja comunicada sobre<br />
os casos, assim como é feito com o<br />
Ministério Público. Para que o processo<br />
possa ser acompanhado desde o início.<br />
Da maneira como tem sido feito o procedimento,<br />
a Defensoria só é informada<br />
quando a criança já está no abrigo.<br />
“Estamos estudando formas legais, possivelmente<br />
uma ação civil pública, para<br />
que o Município atenda a essa mulher<br />
que realmente tem dependência química,<br />
de forma que ela não tenha que passar<br />
pela perda da criança. Queremos, ainda,<br />
dialogar com o Juizado da Infância. Estamos<br />
correndo o risco de adoções sumárias,<br />
o que pode ter ligações com o<br />
tráfico internacional de pessoas”, reivindica<br />
Egídia.<br />
Esse debate coloca em foco a situação<br />
das mulheres em situação de rua.<br />
Não é uma questão de direito individual<br />
apenas, envolve as demandas coletivas<br />
e o aspecto conservador da sociedade<br />
brasileira. Para a advogada Egídia<br />
Aiexe, a educação em direitos humanos<br />
é fundamental para mudar esse quadro<br />
de preconceito e discriminação. “Precisamos<br />
ensinar o que é democracia.<br />
Pensar a realidade considerando que<br />
ela tem vários olhares e perspectivas e<br />
que cada um vai somar em um mesmo<br />
espaço, construindo alguns consensos<br />
e promovendo o debate a todo o<br />
tempo, porque é assim que a humanidade<br />
deve caminhar”.ø<br />
“Para a advogada<br />
Egídia Aieixe, a<br />
educação em direitos<br />
humanos é<br />
fundamental para<br />
mudar esse quadro<br />
de preconceito e<br />
discriminação”.<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015