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PERFIL<br />
<strong>POR</strong> POLLYANA BITENCOURT<br />
foto MARK FLOREST<br />
Dora Alves<br />
Uma vida dedicada a elevar a autoestima através dos cabelos<br />
“Não abra mão dos seus sonhos,<br />
eles podem se tornar realidade, é só a<br />
gente ter persistência e determinação”,<br />
recomenda a cabeleireira Dora Alves.<br />
É com um brilho de esperança nos<br />
olhos e uma crença de que tudo é possível,<br />
que ela conta a sua história, enquanto<br />
arruma o seu salão-escola, no<br />
bairro Maria Goretti, em Belo Horizonte.<br />
Nascida na periferia da capital mineira,<br />
ela aprendeu desde pequena a<br />
lidar com as adversidades da pobreza.<br />
O pai morreu quando ela tinha apenas<br />
oito anos. A mãe saía para trabalhar e<br />
como filha mais velha, cuidava dos<br />
quatro irmãos. “Eu tenho uma origem<br />
humilde, cresci numa favela lá no bairro<br />
1º de Maio, perto da Praça Troca<br />
Égua, um lugar sofrido demais da conta,<br />
mas dentro de mim, sempre tive o desejo<br />
de mudar o rumo da minha história”,<br />
conta.<br />
Atualmente, Dora tem uma vida dedicada<br />
ao seu salão de beleza, especializado<br />
em cabelos afro e também coordena<br />
um projeto onde ensina pessoas<br />
carentes a profissão de cabeleireiro/a.<br />
Os primeiros passos na profissão<br />
foram ensinados pela mãe. “Foi ela<br />
quem me ensinou a fazer as tranças,<br />
os topetes e penteados no nosso cabelo’,<br />
conta. Uma experiência marcante<br />
aos oito anos determinou seu futuro.<br />
“Eu passei pasta [creme alisante à base<br />
de soda cáustica] no meu cabelo e ele<br />
caiu. Toda negra sonha em balançar o<br />
cabelo e eu não tinha consciência da<br />
minha negritude ainda”, justifica. A<br />
partir daí, ela começou as suas pesquisas<br />
sobre cremes para deixar os cabelos<br />
bonitos. “Eu ia lá no fundo do quintal,<br />
apanhava ora pro nobis, folha de abacate,<br />
entre outras experiências para<br />
tornar mais prático o cuidado com o<br />
cabelo”, diz.<br />
Todo o conhecimento adquirido<br />
hoje é fruto dessas pesquisas. Autodidata,<br />
ela aprendeu na prática e hoje<br />
tem até uma linha de produtos de<br />
beleza que leva o seu nome. “Eu fazia<br />
teste no meu cabelo e no dos meus filhos,<br />
depois passei para os vizinhos e<br />
comecei a ficar conhecida no bairro”,<br />
descreve.<br />
Aos 11 anos, ela conheceu aquele<br />
que viria a ser o pai de seus filhos. Casou-se<br />
aos 16 e teve seus dois filhos,<br />
que foram criados dentro do salão de<br />
beleza. “A minha filha quis aprender a<br />
profissão muito novinha, o meu filho<br />
também aprendeu e aí eles saíam comigo<br />
para ensinar o ofício nas escolas, nos<br />
abrigos e nos morros da cidade”, conta.<br />
Solidariedade<br />
O trabalho social sempre fez parte<br />
da vida de Dora, uma mulher forte e<br />
destemida, que possui um jeito único<br />
de lidar com as pessoas ao seu redor.<br />
Foi ela quem deu o primeiro emprego<br />
para vários meninos e meninas na primeira<br />
banca de revistas que existiu em<br />
sua região. Junto com o marido ela<br />
também abriu uma mercearia, mas o<br />
negócio não deu certo. “Quebrei de<br />
primeira porque quando chegavam<br />
pessoas necessitadas, meu coração partia<br />
e eu deixava a pessoa levar sem pagar”,<br />
afirma.<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015