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MIOLO ELA POR ELAS Nº 8

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85<br />

Um olhar<br />

de fora<br />

da lona<br />

Falta de políticas<br />

públicas aumenta<br />

os desafios das<br />

artistas circenses<br />

DIVULGAÇÃO<br />

A estimativa é que ainda existam no<br />

Brasil mais de dois mil circos itinerantes.<br />

Só em Minas Gerais, há cerca de cem.<br />

É o que fala a presidenta da Rede de<br />

Apoio ao Circo (RAC) e autora da obra<br />

Encircopédia - Dicionário Crítico Ilustrado<br />

do Circo no Brasil, Sula Kyriacos<br />

Mavrudis(foto). “Trabalhamos com estimativas<br />

porque, infelizmente, o circo e<br />

as famílias circenses não entram na<br />

contagem do IBGE. Na hora do censo,<br />

o pesquisador pula o circo e vai para a<br />

próxima casa. Isso é um desrespeito<br />

com eles. Como não são levados em<br />

conta, não existe também uma política<br />

pública que cuide dessa parcela da população.<br />

Assim, se enfrentam, por exemplo,<br />

uma tempestade e perdem seu<br />

equipamento de trabalho, não terão<br />

amparo legal. Não podem participar<br />

de qualquer outro programa de assistência<br />

social como receber a cesta básica<br />

das prefeituras ou o Bolsa Família e<br />

nem participar de projetos culturais por<br />

meio da lei de isenção fiscal porque<br />

não têm endereço fixo”, revela.<br />

Assim, da mesma forma, a mulher<br />

circense não pode, por exemplo, fazer<br />

o pré-natal nos hospitais públicos das<br />

cidades onde chega para uma temporada.<br />

“A circense é uma guerreira,<br />

pois é uma educadora sem ter tido<br />

acesso à escola, ensina valores e profissão<br />

a partir do que aprendeu no<br />

circo com suas famílias. E ela sabe<br />

brigar pelos direitos dos filhos, por<br />

atendimento em hospital, pela vaga<br />

na escola. É comum ter que ir para a<br />

“O circo e as<br />

famílias circenses<br />

não entram na<br />

contagem do<br />

IBGE”.<br />

Delegacia de Ensino cobrar o cumprimento<br />

da Lei 6533/78, quando diretores<br />

não aceitam seus filhos na sala<br />

de aula”, explica.<br />

Mesmo compartilhando as responsabilidades<br />

da casa e do picadeiro, a<br />

mulher circense ainda enfrenta o machismo<br />

e sofre com preconceito por<br />

onde passa. “Mas, em geral, não sofre<br />

violência doméstica, porque os familiares<br />

estão juntos, no trailer ao lado. Nunca<br />

vi usuários de droga e não tem alcóolatras,<br />

a não ser alguns que vêm de<br />

fora. Já vi até separação de casal, mas<br />

muitas vezes, continuam no mesmo<br />

circo. Os casamentos são mais longos<br />

e a relação familiar é boa, pois vivem<br />

e trabalham juntos. Existe uma cumplicidade<br />

profissional, de criar, ensaiar<br />

e executar juntos, números acrobáticos<br />

com precisão”, conta Sula Mavrudis.<br />

Revista Elas por Elas - Abril 2015

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