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MIOLO ELA POR ELAS Nº 8

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de tecidos. “Não fico muito parada.<br />

Sou independente, viajo sozinha, gosto<br />

de ter meu próprio dinheiro. Não gosto<br />

de dar muita explicação sobre o que<br />

vou fazer. Tem hora que me dá vontade<br />

de cair no trecho de novo, vou e volto,<br />

estou muito feliz aqui”.<br />

Uma mulher experiente, mãe de<br />

quatro filhos, com um certo grau de<br />

feminismo em suas posturas, Marilene<br />

não é submissa ao seu companheiro,<br />

mas faz questão de manter alguns princípios.<br />

“Nossa tradição permite que os<br />

homens estudem até se formarem, porém,<br />

as mulheres são retiradas da<br />

escola logo após os dez anos de idade,<br />

para que não passem a adolescência<br />

junto a outros jovens de culturas diferentes.<br />

As moças têm que se casar virgens,<br />

não podem ser desencaminhadas.<br />

Então evitamos que isso aconteça”.<br />

As meninas estudam até 12 ou 13<br />

anos, de acordo com Marilene, com<br />

essa idade já estão prontas para o matrimônio.<br />

Elas não devem buscar uma<br />

profissão. “Isso não quer dizer que<br />

sejam infelizes. Casam-se com quem<br />

gostam e levam uma vida boa. Para<br />

uma mulher fazer faculdade é muito<br />

difícil, raridade mesmo”, acredita.<br />

LAIS RODRIGUES<br />

Marilene relata apenas uma tristeza:<br />

o preconceito contra os ciganos. “Posso<br />

usar qualquer roupa, mas por causa dos<br />

meus dentes de ouro, sou reconhecida<br />

como cigana em qualquer lugar. E muitas<br />

vezes isso não é bom. As pessoas me<br />

reparam de uma maneira diferente, com<br />

medo, despeito, não sei...”.<br />

Em sua dissertação de mestrado, a<br />

professora Camila Similhana pesquisou<br />

sobre as comunidades ciganas e constatou<br />

traços machistas na cultura de<br />

algumas comunidades, durante a sua<br />

pesquisa. “Quanto às mulheres ciganas,<br />

é inegável a opressão que sofrem. Em<br />

populações ciganas tradicionais, elas<br />

vivem sob o controle da sogra – que as<br />

tratam como se fossem serviçais –,<br />

são cruelmente punidas caso sejam insubordinadas,<br />

em caso de separação<br />

ou traição perdem o poder e o direito<br />

de conviver/criar seus filhos (que são<br />

considerados pertencentes à família<br />

dos maridos), têm sua vida sexual severamente<br />

controlada e são rigidamente<br />

banidas caso se unam a homens nãociganos”,<br />

opina.<br />

Uma das representações da cultura<br />

cigana que a pesquisadora destaca é a<br />

dança. Conforme relatou Camila, a<br />

dança cigana está intimamente ligada<br />

aos ritos e festas familiares e não à<br />

exibição pública, de maneira semelhante<br />

ao que ocorre em meio aos povos árabes.<br />

“Além disso, se você consultar diversas<br />

danças ciganas femininas ao redor<br />

do mundo, verá que elas não se<br />

movimentam de forma tão solta, tamanha<br />

a opressão masculina sobre<br />

elas. Em geral são passos mais contidos.<br />

Algumas ciganas, de locais específicos<br />

como a Índia, têm mais desenvoltura<br />

ao mostrar e usar o quadril. A saia e o<br />

lenço no cabelo, por exemplo, também<br />

tem suas razões: a saia demarca que a<br />

Revista Elas por Elas - Abril 2015

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