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de tecidos. “Não fico muito parada.<br />
Sou independente, viajo sozinha, gosto<br />
de ter meu próprio dinheiro. Não gosto<br />
de dar muita explicação sobre o que<br />
vou fazer. Tem hora que me dá vontade<br />
de cair no trecho de novo, vou e volto,<br />
estou muito feliz aqui”.<br />
Uma mulher experiente, mãe de<br />
quatro filhos, com um certo grau de<br />
feminismo em suas posturas, Marilene<br />
não é submissa ao seu companheiro,<br />
mas faz questão de manter alguns princípios.<br />
“Nossa tradição permite que os<br />
homens estudem até se formarem, porém,<br />
as mulheres são retiradas da<br />
escola logo após os dez anos de idade,<br />
para que não passem a adolescência<br />
junto a outros jovens de culturas diferentes.<br />
As moças têm que se casar virgens,<br />
não podem ser desencaminhadas.<br />
Então evitamos que isso aconteça”.<br />
As meninas estudam até 12 ou 13<br />
anos, de acordo com Marilene, com<br />
essa idade já estão prontas para o matrimônio.<br />
Elas não devem buscar uma<br />
profissão. “Isso não quer dizer que<br />
sejam infelizes. Casam-se com quem<br />
gostam e levam uma vida boa. Para<br />
uma mulher fazer faculdade é muito<br />
difícil, raridade mesmo”, acredita.<br />
LAIS RODRIGUES<br />
Marilene relata apenas uma tristeza:<br />
o preconceito contra os ciganos. “Posso<br />
usar qualquer roupa, mas por causa dos<br />
meus dentes de ouro, sou reconhecida<br />
como cigana em qualquer lugar. E muitas<br />
vezes isso não é bom. As pessoas me<br />
reparam de uma maneira diferente, com<br />
medo, despeito, não sei...”.<br />
Em sua dissertação de mestrado, a<br />
professora Camila Similhana pesquisou<br />
sobre as comunidades ciganas e constatou<br />
traços machistas na cultura de<br />
algumas comunidades, durante a sua<br />
pesquisa. “Quanto às mulheres ciganas,<br />
é inegável a opressão que sofrem. Em<br />
populações ciganas tradicionais, elas<br />
vivem sob o controle da sogra – que as<br />
tratam como se fossem serviçais –,<br />
são cruelmente punidas caso sejam insubordinadas,<br />
em caso de separação<br />
ou traição perdem o poder e o direito<br />
de conviver/criar seus filhos (que são<br />
considerados pertencentes à família<br />
dos maridos), têm sua vida sexual severamente<br />
controlada e são rigidamente<br />
banidas caso se unam a homens nãociganos”,<br />
opina.<br />
Uma das representações da cultura<br />
cigana que a pesquisadora destaca é a<br />
dança. Conforme relatou Camila, a<br />
dança cigana está intimamente ligada<br />
aos ritos e festas familiares e não à<br />
exibição pública, de maneira semelhante<br />
ao que ocorre em meio aos povos árabes.<br />
“Além disso, se você consultar diversas<br />
danças ciganas femininas ao redor<br />
do mundo, verá que elas não se<br />
movimentam de forma tão solta, tamanha<br />
a opressão masculina sobre<br />
elas. Em geral são passos mais contidos.<br />
Algumas ciganas, de locais específicos<br />
como a Índia, têm mais desenvoltura<br />
ao mostrar e usar o quadril. A saia e o<br />
lenço no cabelo, por exemplo, também<br />
tem suas razões: a saia demarca que a<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015