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enfrentada pelas mulheres palestinas,<br />
com atenção à Faixa de Gaza, local de<br />
grande periculosidade e muita insalubridade.<br />
Ao longo do texto é mencionado<br />
que a rotina permeada pela morte<br />
repentina de alguns membros da família,<br />
como filhos e maridos durante as chamadas<br />
operações israelenses na região,<br />
como as de julho de 2014, ocasionam<br />
traumas profundos, difíceis de serem<br />
superados. A perda abrupta de pessoas<br />
próximas torna-se ainda mais crítica<br />
quando essas mulheres passam a sobreviver<br />
sem o provedor financeiro da<br />
família, em uma situação em que são<br />
obrigadas a exercer um papel diverso<br />
daquele pela qual foram educadas.<br />
Ainda é apontado que as mulheres<br />
grávidas particularmente são o alvo<br />
mais vulnerável do conflito e das punições<br />
coletivas; a maioria das gestantes<br />
é diariamente exposta a inúmeros tipos<br />
de violência, ao estresse diário e a<br />
gases tóxicos que, em última instância,<br />
ocasionam abortos prematuros. Ao levarmos<br />
em consideração que os índices<br />
de fertilidade na Faixa de Gaza é um<br />
dos mais altos do mundo, a região tornou-se<br />
oficialmente a região mais densamente<br />
populosa do planeta. A manutenção<br />
das práticas tradicionais de<br />
casamento entre mulheres muito jovens<br />
é justificada pela sensação de segurança<br />
fornecida pelo matrimônio, sobretudo<br />
em tempos de conflitos e intensas convulsões<br />
políticas e a preferência por filhos<br />
do sexo masculino ainda é bastante<br />
prevalecente dentro de um contexto<br />
ainda muito conservador e patriarcal.<br />
Em certa medida, essas questões explicariam<br />
o alto índice de fertilidade<br />
nessa estreita faixa palestina.<br />
Normalmente o nascimento de cada<br />
criança é muito comemorado, pois entre<br />
os palestinos, cada criança que nasce<br />
faz parte de uma campanha de resistência<br />
cultural e política palestina frente<br />
à crescente ocupação territorial e à supressão<br />
da existência do estado palestino.<br />
E, diante de famílias muito numerosas,<br />
muitas mulheres passam a permanecer<br />
em casa e a viver em função dos filhos<br />
e do marido. Muito embora, atualmente<br />
exista um maior número de universitárias<br />
na Faixa de Gaza, o número ainda é inferior<br />
em comparação à região da<br />
Cisjordânia, por exemplo, cujo controle<br />
vegetativo é maior, mesmo sob a permanente<br />
ocupação militar 2 . O completo<br />
e escandaloso isolamento de Gaza tornou<br />
a região um terreno fértil para o aparecimento<br />
de fundamentalismos tendentes<br />
a limitar a vida e o cotidiano dessas<br />
mulheres.<br />
2. Os índices referentes ao aumento<br />
do controle vegetativo na<br />
Cisjordânia em detrimento da<br />
Faixa de Gaza pode ser explicado<br />
em função da Cisjordânia estar<br />
mais próxima das cidades israelenses.<br />
Mesmo sob controle militar,<br />
muitas palestinas ainda têm<br />
acesso aos hospitais israelenses,<br />
referência em inúmeros tratamentos.<br />
Ainda, muitas palestinas<br />
da Cisjordânia estudam em escolas<br />
e universidades mistas e<br />
laicas ou mesmo nas instituições<br />
israelenses, o que permite que<br />
as mulheres dessa região tenham<br />
um maior acesso a uma educação<br />
de ponta. A prioridade pela<br />
carreira profissional faz com que<br />
muitas mulheres da Cisjordânia,<br />
principalmente das grandes cidades<br />
como Ramallah, Haifa e<br />
Nablus, passem a engravidar mais<br />
tardiamente e terem menos filhos.<br />
Frente ao progressivo cerceamento<br />
da liberdade, as mulheres, consideradas<br />
maioria tanto na Faixa de Gaza como<br />
na Cisjordânia, redigiram conjuntamente<br />
uma carta oficial em 1993, pela<br />
qual puderam reafirmar solenemente<br />
pela defesa da condição de igualdade<br />
de gêneros e pela manutenção do secularismo<br />
na esfera política, frente ao<br />
tratamento dos assuntos concernentes<br />
ao gênero. No texto do documento,<br />
foram destacados trechos que aludiam<br />
à imposição religiosa em Gaza, nesse<br />
caso foi aclamado o “fim da legislação<br />
discriminatória contra as mulheres” e<br />
pelo “direito de poderem transferir a<br />
cidadania palestina para os filhos e maridos”<br />
no caso de matrimônio com homens<br />
estrangeiros. A cidadania palestina,<br />
até então, poderia tão somente<br />
ser concedida através da figura masculina,<br />
assim somente po deriam ser considerados<br />
cidadãos pa lestinos os filhos<br />
de pais palestinos ou caso a mulher<br />
estrangeira fosse casada com um homem<br />
palestino.<br />
Apesar do documento ter sinalizado<br />
um avanço nas iniciativas feministas,<br />
muitas práticas discriminatórias ainda<br />
são prevalecentes com relação às mulheres<br />
na região. Ainda é bastante<br />
comum homens se divorciarem de suas<br />
esposas de maneira unilateral e obterem<br />
preferência judicial pela guarda dos<br />
filhos. Em muitos casos, a mulher passa<br />
a viver sozinha, sem qualquer apoio financeiro<br />
e a mercê da ajuda de parentes<br />
e amigos. As denúncias sobre<br />
diversas formas de violência doméstica<br />
também são bastante frequentes, casos<br />
de estupro, incesto e outras formas de<br />
agressão e violência também figuram<br />
nas estatísticas oficiais do mapa da violência<br />
contra a mulher da Palestina na<br />
Faixa de Gaza.<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015