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MIOLO ELA POR ELAS Nº 8

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48<br />

enfrentada pelas mulheres palestinas,<br />

com atenção à Faixa de Gaza, local de<br />

grande periculosidade e muita insalubridade.<br />

Ao longo do texto é mencionado<br />

que a rotina permeada pela morte<br />

repentina de alguns membros da família,<br />

como filhos e maridos durante as chamadas<br />

operações israelenses na região,<br />

como as de julho de 2014, ocasionam<br />

traumas profundos, difíceis de serem<br />

superados. A perda abrupta de pessoas<br />

próximas torna-se ainda mais crítica<br />

quando essas mulheres passam a sobreviver<br />

sem o provedor financeiro da<br />

família, em uma situação em que são<br />

obrigadas a exercer um papel diverso<br />

daquele pela qual foram educadas.<br />

Ainda é apontado que as mulheres<br />

grávidas particularmente são o alvo<br />

mais vulnerável do conflito e das punições<br />

coletivas; a maioria das gestantes<br />

é diariamente exposta a inúmeros tipos<br />

de violência, ao estresse diário e a<br />

gases tóxicos que, em última instância,<br />

ocasionam abortos prematuros. Ao levarmos<br />

em consideração que os índices<br />

de fertilidade na Faixa de Gaza é um<br />

dos mais altos do mundo, a região tornou-se<br />

oficialmente a região mais densamente<br />

populosa do planeta. A manutenção<br />

das práticas tradicionais de<br />

casamento entre mulheres muito jovens<br />

é justificada pela sensação de segurança<br />

fornecida pelo matrimônio, sobretudo<br />

em tempos de conflitos e intensas convulsões<br />

políticas e a preferência por filhos<br />

do sexo masculino ainda é bastante<br />

prevalecente dentro de um contexto<br />

ainda muito conservador e patriarcal.<br />

Em certa medida, essas questões explicariam<br />

o alto índice de fertilidade<br />

nessa estreita faixa palestina.<br />

Normalmente o nascimento de cada<br />

criança é muito comemorado, pois entre<br />

os palestinos, cada criança que nasce<br />

faz parte de uma campanha de resistência<br />

cultural e política palestina frente<br />

à crescente ocupação territorial e à supressão<br />

da existência do estado palestino.<br />

E, diante de famílias muito numerosas,<br />

muitas mulheres passam a permanecer<br />

em casa e a viver em função dos filhos<br />

e do marido. Muito embora, atualmente<br />

exista um maior número de universitárias<br />

na Faixa de Gaza, o número ainda é inferior<br />

em comparação à região da<br />

Cisjordânia, por exemplo, cujo controle<br />

vegetativo é maior, mesmo sob a permanente<br />

ocupação militar 2 . O completo<br />

e escandaloso isolamento de Gaza tornou<br />

a região um terreno fértil para o aparecimento<br />

de fundamentalismos tendentes<br />

a limitar a vida e o cotidiano dessas<br />

mulheres.<br />

2. Os índices referentes ao aumento<br />

do controle vegetativo na<br />

Cisjordânia em detrimento da<br />

Faixa de Gaza pode ser explicado<br />

em função da Cisjordânia estar<br />

mais próxima das cidades israelenses.<br />

Mesmo sob controle militar,<br />

muitas palestinas ainda têm<br />

acesso aos hospitais israelenses,<br />

referência em inúmeros tratamentos.<br />

Ainda, muitas palestinas<br />

da Cisjordânia estudam em escolas<br />

e universidades mistas e<br />

laicas ou mesmo nas instituições<br />

israelenses, o que permite que<br />

as mulheres dessa região tenham<br />

um maior acesso a uma educação<br />

de ponta. A prioridade pela<br />

carreira profissional faz com que<br />

muitas mulheres da Cisjordânia,<br />

principalmente das grandes cidades<br />

como Ramallah, Haifa e<br />

Nablus, passem a engravidar mais<br />

tardiamente e terem menos filhos.<br />

Frente ao progressivo cerceamento<br />

da liberdade, as mulheres, consideradas<br />

maioria tanto na Faixa de Gaza como<br />

na Cisjordânia, redigiram conjuntamente<br />

uma carta oficial em 1993, pela<br />

qual puderam reafirmar solenemente<br />

pela defesa da condição de igualdade<br />

de gêneros e pela manutenção do secularismo<br />

na esfera política, frente ao<br />

tratamento dos assuntos concernentes<br />

ao gênero. No texto do documento,<br />

foram destacados trechos que aludiam<br />

à imposição religiosa em Gaza, nesse<br />

caso foi aclamado o “fim da legislação<br />

discriminatória contra as mulheres” e<br />

pelo “direito de poderem transferir a<br />

cidadania palestina para os filhos e maridos”<br />

no caso de matrimônio com homens<br />

estrangeiros. A cidadania palestina,<br />

até então, poderia tão somente<br />

ser concedida através da figura masculina,<br />

assim somente po deriam ser considerados<br />

cidadãos pa lestinos os filhos<br />

de pais palestinos ou caso a mulher<br />

estrangeira fosse casada com um homem<br />

palestino.<br />

Apesar do documento ter sinalizado<br />

um avanço nas iniciativas feministas,<br />

muitas práticas discriminatórias ainda<br />

são prevalecentes com relação às mulheres<br />

na região. Ainda é bastante<br />

comum homens se divorciarem de suas<br />

esposas de maneira unilateral e obterem<br />

preferência judicial pela guarda dos<br />

filhos. Em muitos casos, a mulher passa<br />

a viver sozinha, sem qualquer apoio financeiro<br />

e a mercê da ajuda de parentes<br />

e amigos. As denúncias sobre<br />

diversas formas de violência doméstica<br />

também são bastante frequentes, casos<br />

de estupro, incesto e outras formas de<br />

agressão e violência também figuram<br />

nas estatísticas oficiais do mapa da violência<br />

contra a mulher da Palestina na<br />

Faixa de Gaza.<br />

Revista Elas por Elas - Abril 2015

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