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MIOLO ELA POR ELAS Nº 8

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75<br />

coletiva. As mulheres ficam por conta<br />

da casa e dos filhos. Os casos em que<br />

elas possuem algum tipo de independência<br />

são escassos.<br />

Sandra Magalhães (foto) é um<br />

exemplo de como a tradição cigana<br />

dos Calon determina o modo de vida<br />

das mulheres. “Casei-me com 14 anos.<br />

Minha rotina se resume em cuidar da<br />

casa, dos filhos e do marido. É uma<br />

vida boa, eu não trocaria por outra.<br />

Dou aos meus filhos uma criação de<br />

acordo com o que aprendi. Todavia,<br />

acho que minha menina vai ter mais<br />

possibilidades de escolha”.<br />

Ela faz parte de uma das poucas famílias<br />

que ainda moram em barracas.<br />

Considera esse tipo de moradia uma<br />

mistura de opção e necessidade. “Possuímos<br />

tudo que se tem numa casa: televisão,<br />

aparelho de som, cama, até<br />

carro. Só não temos as paredes”,<br />

brinca Sandra.<br />

A jovem cigana não tem receio de<br />

morar em um local aberto, considerado<br />

inseguro por muitos. O que ela tem<br />

mais medo é do preconceito. “Quando<br />

preciso levar minha filha ao médico<br />

ou fazer alguma outra coisa fora do<br />

bairro, não uso minhas roupas tradicionais.<br />

Chama muita atenção, parece<br />

que sou de outro mundo. Não gosto<br />

de como os outros me olham. Meu<br />

maior sonho é o fim da discriminação<br />

contra o nosso povo”, afirma.<br />

Para Cristina Amaral, ser cigana é<br />

estar junto com uma comunidade,<br />

aprender os costumes, usar as roupas<br />

e utensílios. “Somos muito diferentes<br />

das outras mulheres. A questão do respeito<br />

aos pais e ao esposo é uma tradição<br />

que guardamos. Quem cuida de<br />

mim é o meu marido. Por isso, tudo<br />

que eu faço tem que ser com o consentimento<br />

dele”. Ela confronta esta<br />

“Meu maior sonho<br />

é o fim da<br />

discriminação<br />

contra o nosso<br />

povo”.<br />

ideia de que sair pelo mundo sem destino<br />

é ter liberdade. “Não é bem assim.<br />

Existia muita perseguição aos ciganos<br />

e as mulheres sofreram e sofrem ainda<br />

mais com o preconceito. Morar em<br />

uma casa é um sonho realizado. Quando<br />

eu vivia debaixo da lona era muito sofrimento.<br />

Todo mundo quer um pouco<br />

de conforto. A vida da minha mãe foi<br />

totalmente diferente, bem mais complicada.<br />

Ela viveu todo o tempo em<br />

barraca, sempre viajando a cavalo.<br />

Hoje, temos casa, podemos construir<br />

nossas vidas em um lugar que é nosso”,<br />

comemora Cristina.<br />

Nem todas as mulheres ciganas<br />

estão em uma situação de total dependência<br />

dos maridos. De uma geração<br />

que enfrentou muitas dificuldades, Marilene<br />

Lopes passou a maior parte da<br />

vida na estrada. Casou-se com 14<br />

anos, passou muitas humilhações, segundo<br />

ela, por que era mulher. Trabalhava<br />

para comprar comida. Nos últimos<br />

15 anos sua vida mudou. Hoje, está<br />

estabilizada e trabalha com o comércio<br />

MARK FLOREST<br />

Revista Elas por Elas - Abril 2015

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