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coletiva. As mulheres ficam por conta<br />
da casa e dos filhos. Os casos em que<br />
elas possuem algum tipo de independência<br />
são escassos.<br />
Sandra Magalhães (foto) é um<br />
exemplo de como a tradição cigana<br />
dos Calon determina o modo de vida<br />
das mulheres. “Casei-me com 14 anos.<br />
Minha rotina se resume em cuidar da<br />
casa, dos filhos e do marido. É uma<br />
vida boa, eu não trocaria por outra.<br />
Dou aos meus filhos uma criação de<br />
acordo com o que aprendi. Todavia,<br />
acho que minha menina vai ter mais<br />
possibilidades de escolha”.<br />
Ela faz parte de uma das poucas famílias<br />
que ainda moram em barracas.<br />
Considera esse tipo de moradia uma<br />
mistura de opção e necessidade. “Possuímos<br />
tudo que se tem numa casa: televisão,<br />
aparelho de som, cama, até<br />
carro. Só não temos as paredes”,<br />
brinca Sandra.<br />
A jovem cigana não tem receio de<br />
morar em um local aberto, considerado<br />
inseguro por muitos. O que ela tem<br />
mais medo é do preconceito. “Quando<br />
preciso levar minha filha ao médico<br />
ou fazer alguma outra coisa fora do<br />
bairro, não uso minhas roupas tradicionais.<br />
Chama muita atenção, parece<br />
que sou de outro mundo. Não gosto<br />
de como os outros me olham. Meu<br />
maior sonho é o fim da discriminação<br />
contra o nosso povo”, afirma.<br />
Para Cristina Amaral, ser cigana é<br />
estar junto com uma comunidade,<br />
aprender os costumes, usar as roupas<br />
e utensílios. “Somos muito diferentes<br />
das outras mulheres. A questão do respeito<br />
aos pais e ao esposo é uma tradição<br />
que guardamos. Quem cuida de<br />
mim é o meu marido. Por isso, tudo<br />
que eu faço tem que ser com o consentimento<br />
dele”. Ela confronta esta<br />
“Meu maior sonho<br />
é o fim da<br />
discriminação<br />
contra o nosso<br />
povo”.<br />
ideia de que sair pelo mundo sem destino<br />
é ter liberdade. “Não é bem assim.<br />
Existia muita perseguição aos ciganos<br />
e as mulheres sofreram e sofrem ainda<br />
mais com o preconceito. Morar em<br />
uma casa é um sonho realizado. Quando<br />
eu vivia debaixo da lona era muito sofrimento.<br />
Todo mundo quer um pouco<br />
de conforto. A vida da minha mãe foi<br />
totalmente diferente, bem mais complicada.<br />
Ela viveu todo o tempo em<br />
barraca, sempre viajando a cavalo.<br />
Hoje, temos casa, podemos construir<br />
nossas vidas em um lugar que é nosso”,<br />
comemora Cristina.<br />
Nem todas as mulheres ciganas<br />
estão em uma situação de total dependência<br />
dos maridos. De uma geração<br />
que enfrentou muitas dificuldades, Marilene<br />
Lopes passou a maior parte da<br />
vida na estrada. Casou-se com 14<br />
anos, passou muitas humilhações, segundo<br />
ela, por que era mulher. Trabalhava<br />
para comprar comida. Nos últimos<br />
15 anos sua vida mudou. Hoje, está<br />
estabilizada e trabalha com o comércio<br />
MARK FLOREST<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015