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65<br />
Uma história<br />
absolutamente singular.<br />
Essa é a síntese, que<br />
não diz tudo, sobre a<br />
vida de Eva ...<br />
Uma mulher que abraça<br />
muitos filhos e acolhe<br />
muitas pessoas,<br />
independentemente de<br />
idade, condição,<br />
escolhas...<br />
Há 31 anos, Eva Maria da Silva recebe<br />
em sua casa crianças, adolescentes,<br />
jovens, adultos e idosos que se encontram<br />
em situações difíceis ou que perderam<br />
suas referências familiares. Em<br />
uma nova moradia, eles têm a chance<br />
de reconstruir suas vidas, baseadas em<br />
afeto, colo de mãe e valores de família.<br />
Diferente de um abrigo convencional,<br />
onde as crianças são cuidadas por<br />
funcionários, nessa casa todos são criados<br />
como filhos e netos, como parte<br />
integrante de uma família de verdade.<br />
Eva conta com simplicidade: “aqui é<br />
um lar e nós somos uma família”.<br />
Tudo começou em 1984, quando<br />
Eva, casada com Vivaldo Elias de Souza,<br />
já tinha um filho de 3 anos e outro<br />
com cerca de 6 meses. Ela trabalhava<br />
como auxiliar de enfermagem na Copasa.<br />
Ao visitar famílias de funcionários,<br />
em vilas e periferias, ela percebeu<br />
muitas histórias de sofrimento e abandono<br />
e começou a se perguntar: “Com<br />
a profissão que eu tenho, o que posso<br />
fazer a mais neste mundo?”.<br />
E desde então, Eva fez mais, muito<br />
mais do que imaginava e do que se<br />
possa acreditar. Com dois filhos pequenos,<br />
ela foi a uma creche buscar<br />
uma criança que lhe havia sido indicada<br />
para adoção. No entanto, ao chegar<br />
se deparou com um outro menino pequeno<br />
e franzino de cerca de 1 ano.<br />
“Era só cabeça e barriga. Estava desnutrido<br />
e carente. Senti que era ele.<br />
Com tempo e cuidado, ele se reestabeleceu,<br />
teve uma infância tranquila,<br />
estudou”, relata.<br />
Depois disso, ela adotou mais quatro<br />
crianças, até ter mais um filho “de barriga”,<br />
como ela chama seus três filhos<br />
biológicos, já que trata todos igualmente<br />
como seus filhos. “A comida é igual<br />
para todos. Nada é separado”, diz um<br />
dos filhos.<br />
Com um neném de colo, ela prosseguiu<br />
sua missão de cuidar dos filhos<br />
de outras pessoas. Junto com o marido,<br />
adotaram mais 11 crianças e mantiveram<br />
muitas outras sob guarda provisória,<br />
concedida pela Justiça, até que tomassem<br />
seu rumo. Vivaldo, casado com<br />
Eva há 35 anos, resume sua percepção<br />
sobre sua esposa em poucas palavras:<br />
“Ela é uma mãe no máximo do dinamismo<br />
que a vida se apresenta”.<br />
Em muitos casos, o casal conseguiu<br />
apoiar e promover a reaproximação e<br />
o retorno da pessoa à sua família de<br />
origem. No entanto, muitos ficaram,<br />
pois encontraram ali o que não tinham<br />
experimentando antes: amor de mãe,<br />
de pai, de irmãos, uma cama para<br />
dormir sossegado e sonhar com uma<br />
vida pela frente. “Quando se dissolvem<br />
os laços familiares, você percebe o<br />
medo, a fragilidade, a desconfiança entrar.<br />
As pessoas passam a acreditar que<br />
não podem mais ser amadas. E então<br />
elas precisam ter uma experiência de<br />
amor verdadeiro para voltarem a acreditar<br />
em si mesmas e seguirem adiante”.<br />
Filhos de Eva<br />
Ao todo, Eva tem 17 filhos adotados<br />
legalmente, sendo 6 deles especiais,<br />
pessoas com alguma deficiência.<br />
Sobre quantas pessoas já acolheu, parece<br />
até ter perdido a conta, mas lembra<br />
de um levantamento feito há 10<br />
anos, quando já tinham passado por<br />
sua casa, por algum tempo, cerca de<br />
1380 pessoas. Depois de mais uma<br />
década, ela estima que esse número<br />
chegue hoje a 2000 pessoas que, de<br />
alguma forma, fizeram e ainda fazem<br />
parte dessa imensa família. “Sempre<br />
acolhi as pessoas que precisavam de<br />
uma casa, de uma família, e nunca tive<br />
restrições de origem, condição, idade,<br />
opção sexual. A gente tem que respeitar<br />
as pessoas. Não podemos agir com<br />
egoísmo”.<br />
Todos a consideram como mãe,<br />
porque veem nela a referência de amor<br />
incondicional e cuidado constante que<br />
as mães geralmente dedicam a seus filhos.<br />
“Para mim, ser mãe é amar e<br />
respeitar os filhos, independente de<br />
suas escolhas e de suas identidades,<br />
mas é também impor limites, incentivar<br />
para que estudem, tenham profissão,<br />
trabalhem e se desenvolvam”.<br />
Ela conta que alguns dos filhos já<br />
têm família e, destaca, com orgulho<br />
de mãe, que cinco de seus filhos especiais<br />
estão trabalhando. “Eles têm horário<br />
de trabalho, obrigações, vão de<br />
ônibus, e têm seus próprios salários.<br />
Gosto de ver eles progredindo”. Dois<br />
de seus filhos se formaram em Direito,<br />
uma em Gastronomia, e um em Ciências<br />
Contábeis, e todos os outros são<br />
sempre incentivados a estudar.<br />
Questionada sobre como manter a<br />
paz numa casa com tantas pessoas diferentes,<br />
de diversas origens e condi-<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015