12.09.2017 Views

MIOLO ELA POR ELAS Nº 8

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

não têm familiares interessados ou em<br />

condições de assumi-los. Esses têm um<br />

destino ainda mais triste e incerto: um<br />

abrigo público da região, onde serão<br />

cuidados por pessoas desconhecidas.<br />

“A criança cuja mãe não tem respaldo<br />

feminino em sua família, está fadada à<br />

exclusão”, alerta Virgílio.<br />

Embora com uma proposta positiva<br />

de melhorar o ambiente de privação de<br />

liberdade dessas mulheres-mães, o Centro<br />

de Referência à Gestante Privada de Liberdade<br />

é mais uma peça na engrenagem<br />

do sistema prisional, marcado pela lógica<br />

de severas punições previstas na legislação<br />

penal brasileira, que atinge mais<br />

fortemente mulheres e homens de classes<br />

populares, e também seus filhos. “A<br />

política de justiça social para o neoliberalismo<br />

é o encarceramento em massa.<br />

Essa lógica, oriunda dos Estados Unidos<br />

e Inglaterra, está falida há mais de 30<br />

anos”, aponta Virgílio de Mattos.<br />

Diferença de gênero<br />

Atualmente, segundo a Secretaria<br />

Estadual de Defesa Social, há 2.983<br />

mulheres presas em Minas Gerais.<br />

Além do Centro de Referência à Gestante<br />

Privada de Liberdade, há outras<br />

unidades prisionais que recebem exclusivamente<br />

mulheres em Minas Gerais:<br />

Complexo Penitenciário Feminino Estevão<br />

Pinto, Presídio Feminino José<br />

Abranches Gonçalves, Presídio de Caxambú,<br />

Ceresp Centro Sul e Presídio<br />

de Paraopeba.<br />

De acordo com os últimos dados do<br />

Departamento Penitenciário Nacional,<br />

do Ministério da Justiça, havia aproximadamente<br />

540 mil presos no país em<br />

2013, sendo mais de 32 mil mulheres.<br />

Baseados nesses dados, e no aumento<br />

expressivo de presas no país, o professor<br />

Virgílio de Mattos faz uma projeção<br />

de que em 2015 já haja mais de 700<br />

mil pessoas encarceradas no país, e de<br />

que apenas cerca de 8,5% delas sejam<br />

mulheres, o que mostra uma acentuada<br />

diferença de gênero nessa questão. Segundo<br />

ele, mais de dois terços dessas<br />

mulheres estão reclusas por ações relacionadas<br />

ao comércio de drogas, muitas<br />

vezes por influência de namorados,<br />

companheiros, filhos e maridos.<br />

“Quando eles são presos, elas passam<br />

a tomar conta dos negócios”, comenta.<br />

Histórias de<br />

silêncio e sonhos<br />

Roberta*, 35 anos, conta que estava<br />

na “hora errada e no lugar errado...”<br />

Cumpre pena porque foi pega<br />

numa casa onde estavam pessoas envolvidas<br />

com o tráfico de drogas. Mãe<br />

de 10 filhos, ela diz que era usuária<br />

desde os 15 anos, e que sempre saía<br />

Revista Elas por Elas - Abril 2015

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!