99 e aprofundada desde a alfabetização, respeitando-se a gradual, mas profunda inserção da criança no mundo da escrita e da leitura. Como a instituição em que minha mãe trabalhou foi a mesma em que estudei até a 4ª série, tive o privilégio de ter professores(as) que lecionavam com criatividade, bom humor e muita dedicação. Lembro-me, por exemplo, com grande carinho, da professora de matemática da 3ª série – a Margô –, que, vejam bem!, ensinava matemática com poesia, apresentando a cada aula um novo poema do qual os alunos deveriam descobrir, pela sugestão da rima, a última palavra. Esta prática levavanos a refletir, antes de simplesmente “aprender” a matéria, sobre o tema a ser trabalhado dentro do conteúdo matemático proposto. Não tenho dúvidas, portanto, de que a maneira como pratico a minha profissão, que já vai para mais de 10 anos, está intimamente ligada à minha passagem na infância por escolas que souberam transmitir-me uma sólida ética de ensino-aprendizagem, fazendo-me entender o espaço do conhecimento como lugar de autonomia do pensamento, de aprimoramento social e humano contínuos. Quando na adolescência, já no colegial, passei por uma escola de linha conteudista, a semente da leitura crítica já havia germinado em mim. O que eu fazia o tempo todo era questionar em silêncio, embora não tivesse dificuldade para apreender os conteúdos repassados, o papel social de uma instituição que priorizava os resultados, a quantidade e a velocidade de apreensão dos conteúdos em detrimento da assimilação cautelosa e consistente do conhecimento, criando nos alunos parâmetros de pensamentos consonantes com o ritmo acelerado, massificado e descartável das informações presentes em um mundo cujo principal valor é o capital e o consumo. Mesmo nesse período de minha vida estudantil, o ambiente escolar era instigante para mim pelo esforço solitário que eu fazia para questioná-lo, compará-lo, compreendê-lo. Acho que é por isso que até hoje estou na escola... como professora e como aluna, pois, mesmo trabalhando, jamais parei de estudar.... E sim, as instituições de ensino ainda continuam sendo para mim, em muitos aspectos, espaços cheios de incoerências e que devem ser repensados em sua forma de agir, ensinar, amar... Quais os desafios para conciliar a docência com a vida pessoal e a família? É um desafio constante, já que todo(a) professor(a) trabalha muito também fora da sala de aula, fazendo planejamentos, preparando atividades, estudando, tratando da burocracia que uma escola exige... O trabalho é muito e a família acaba se acostumando e aprendendo a lidar com isso. De toda forma, acredito que, como todo trabalho que é feito com empenho, a compensação é dada pelo efeito que vemos ocorrer em nosso público, no setor social ao qual servimos. Isso é muito gratificante! Quando percebo que os alunos estão crescendo como seres humanos e pensantes, e que pude contribuir um pouco para isso, fico feliz e já me sinto recompensada por meu investimento. E a família, quando nos percebe fortes e integrados com o que realizamos profissionalmente, se inspira nesse vigor e acaba procurando caminhos de realização também. O esforço e os desafios são imensos (na profissão de professor, isso é histórico e já há muito é uma questão a ser definida politicamente), mas é preciso não abrir mão de uma vida saudável, com tempo para lazer e convivência com aqueles que prezamos. Porém, acredito que a principal fonte de revitalização venha mesmo do próprio trabalho feito em consonância com o que acreditamos.ø ARQUIVO PESSOAL Revista Elas por Elas - Abril 2015
100 foto BRUNO CARVALHO ENTREVISTA MARA EVARISTO por DENILSON CAJAZEIRO Diversidade é assunto de criança Especialista defende a abordagem das relações étnico-raciais desde a educação infantil Revista Elas por Elas - Abril 2015