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Anita (foto) é um bom exemplo, depois<br />
de décadas em situação de rua,<br />
conseguiu superar os desafios. Hoje,<br />
faz parte do Movimento Nacional da<br />
População em situação de Rua e ajuda<br />
outras pessoas com sua história de superação.<br />
Ela conta que na rua se tornou<br />
invisível, entrou no mundo das<br />
drogas, sofreu com a violência de um<br />
companheiro, foi separada de seus filhos,<br />
caiu no rio Arrudas e quase morreu,<br />
passou por todo tipo de<br />
humilhação. “As pessoas passam e<br />
nem te percebem. É como se você<br />
fosse um objeto jogado ali na calçada.<br />
É uma dor tão profunda que não tenho<br />
palavras para expressá-la. Quantas<br />
vezes recebi cantadas. Então eu dizia:<br />
- Você pode me levar para a sua casa<br />
para eu lavar minha roupa, tomar<br />
banho... A resposta era sempre não!<br />
Aprendi uma lição nessa caminhada.<br />
Você pode descer do topo para o<br />
fundo do poço, em uma fração de segundos.<br />
Hoje, tenho minha casa, meus<br />
lindos filhos estão comigo, mantenho<br />
um relacionamento há 20 anos com<br />
um ex-morador de rua. Recuperei a relação<br />
com meu pai e sei que ele sente<br />
orgulho de mim. Entro na casa do governador,<br />
no Palácio do Planalto. Sou<br />
uma vitoriosa. Construímos uma nova<br />
história, bem mais bonita e feliz”, sintetiza<br />
Anita.<br />
“As pessoas passam<br />
e nem te percebem.<br />
É como se você fosse<br />
um objeto jogado<br />
ali na calçada”.<br />
Políticas públicas<br />
Egídia Maria de Almeida Aiexe é advogada<br />
e atua em uma série de organizações<br />
que defendem os Direitos Humanos.<br />
O Fórum de População de Rua<br />
e o Comitê Municipal de Acompanhamento<br />
e Monitoramento da População<br />
de Rua são algumas delas. De acordo<br />
com ela, a temática das mulheres demorou<br />
a ganhar espaço nos fóruns de<br />
discussão sobre essa parcela da população<br />
de Belo Horizonte. “Não tem sido<br />
pensada uma política para esse público.<br />
Como os números apontam para uma<br />
maioria de homens, os projetos de abrigamento,<br />
por exemplo, não são realizados<br />
para receber mulheres. Então,<br />
uma primeira questão seria criar unidades<br />
de atendimento para mulheres solteiras<br />
e casais também, ampliando esse setor.<br />
Só existem dois abrigos na cidade para<br />
elas”, complementa.<br />
A promoção de ações de assistência<br />
específicas é um outro ponto colocado<br />
pela advogada. “No abrigo elas<br />
apenas dormem, é necessário criar repúblicas<br />
onde possam morar. Temos<br />
apenas a república Maria Maria que<br />
foi criada para recebê-las, mas a sua<br />
capacidade é muito reduzida. Elas<br />
estão em uma zona de extrema vulnerabilidade,<br />
frisa Egídia.<br />
Drogas<br />
Uma questão muito discutida sobre<br />
os moradores de rua é o consumo de<br />
drogas. A advogada e militante Egídia<br />
Aiexe destaca, contudo, que o álcool é<br />
predominante, mas antes de qualquer<br />
droga está o conflito familiar. “Geralmente,<br />
esses rompimentos afetivos estão<br />
na raiz de muitos problemas. Em<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015