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MIOLO ELA POR ELAS Nº 8

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126<br />

sência muito grande de personagens<br />

que fossem mulheres construídas numa<br />

perspectiva feminista. A maneira como<br />

as mulheres são representadas nos quadrinhos,<br />

tanto nacional quanto mundialmente,<br />

é um problema. Geralmente<br />

apela-se para estereótipos desprezíveis,<br />

humilhantes e, quando percebi isso,<br />

tive muita vontade de desenvolver essa<br />

personagem que estava faltando, que<br />

eu mesma gostasse de me identificar.<br />

Paralelo a isso estava acontecendo coisas<br />

em minha vida, em relação à masturbação<br />

é à minha sexualidade. Percebi que<br />

faltava muito espaço para ter um diálogo<br />

a respeito disso. Aí meio que juntei as<br />

duas coisas. Resolvi tentar trabalhar<br />

essa ausência de uma personagem representativa<br />

e essa ausência de diálogo<br />

a respeito de masturbação, feminismo<br />

e sexualidade nos quadrinhos.<br />

Porque masturbar ainda é um<br />

tabu entre as mulheres, não é?<br />

Muito grande. Acho que especialmente<br />

no círculo social de classe média,<br />

com acesso ao Facebook, talvez uma<br />

pequena parcela de garotas jovens já<br />

esteja falando muito mais a respeito<br />

disso. Mas em geral, na sociedade, é<br />

um grande tabu. Conheci histórias bem<br />

tristes, de mulheres que sentem nojo<br />

do próprio corpo. Isso acaba as levando<br />

a se submeter a algumas relações muito<br />

nocivas quando vem o momento de se<br />

relacionar sexualmente.<br />

Em que medida o feminismo<br />

ajudou a Garota Siririca?<br />

Acho que se eu não fosse feminista<br />

e tivesse decidido fazer algum tipo de<br />

quadrinho erótico, nunca sairia algo<br />

como a Garota Siririca. Antes de me<br />

tornar feminista, já lia quadrinhos eróticos<br />

e gostava muito. Acho que eu<br />

iria reproduzir muito do que tem sido<br />

feito nacionalmente aí, uma abordagem<br />

da sexualidade muito heterossexual,<br />

heretocentrada, geralmente homofóbica,<br />

lesbofóbica, transfóbica.<br />

Como você definiria a sexualidade<br />

hoje?<br />

Existem muitas formas de expressar<br />

e praticar a sexualidade, mas acho que<br />

se tem algo que poderia generalizar é<br />

que todas elas são fluidas, apesar de<br />

muitas pessoas engessarem a sua sexualidade<br />

em algum momento. Acredito<br />

que isso não é natural...<br />

Engessar em que sentido?<br />

Por exemplo, acreditar, ao longo<br />

da educação que a sociedade dá pra<br />

gente, que o homem é necessariamente<br />

heterossexual. O cara acredita com todas<br />

as forças que é isso mesmo, que<br />

ele nasceu para ser hétero e será hétero<br />

até o fim da vida. Acho que essa é<br />

uma visão muito engessada da sexualidade<br />

e uma maneira conservadora de<br />

lidar com o próprio corpo e com as<br />

pessoas. Acho que a sexualidade é naturalmente<br />

fluida. Mas aí depende do<br />

moral da pessoa e o quanto ela está<br />

disposta a deixar fluir sua sexualidade<br />

e descobrir como se sente melhor praticando<br />

isso.<br />

Você disse em entrevista que a<br />

gente vive em uma situação de extremo<br />

cerceamento do próprio corpo.<br />

Gostaria que falasse mais a<br />

respeito disso.<br />

A ausência de diálogo a respeito<br />

de sexualidade, de educação sexual,<br />

masturbação, especialmente voltada<br />

para mulheres que nasceram com vulvas<br />

e se identificam como mulheres, trabalha<br />

Revista Elas por Elas - Abril 2015

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