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Ciganas independentes<br />
e feministas<br />
Elas são descendentes de ciganos,<br />
mas não vivem em comunidades. Seus<br />
antepassados saíram do convívio comunitário<br />
e iniciaram uma caminhada<br />
em busca de melhores condições de<br />
vida. Cinco mulheres independentes e<br />
que tiveram a oportunidade de concluir<br />
o ensino superior. Nenhuma delas é casada.<br />
Vivenciaram experiências fora da<br />
cultura cigana. Juntas, são as responsáveis<br />
pela criação da Associação Internacional<br />
Maylê Sara Kali, uma organização<br />
que atua em defesa dos direitos<br />
dos ciganos, promove o resgate cultural<br />
das etnias e tem uma preocupação particular<br />
com a questão de gênero.<br />
Depois de estudar e conquistar uma<br />
profissão retornaram ao convívio com<br />
as comunidades para auxiliar na garantia<br />
de direitos como educação, saúde,<br />
entre outras conquistas sociais que não<br />
chegam aos ciganos. Fazem parte de<br />
uma geração de mulheres que não<br />
abriu mão da identidade, no entanto,<br />
está inserida no mundo convencional.<br />
Lucimara Cavalcanti é uma delas.<br />
Especialista em Marketing, a descendente<br />
de uma família de ciganos Kalderash<br />
percebeu que poderia utilizar a<br />
dança e os costumes tradicionais para<br />
falar de diversidade e cidadania. “Desde<br />
2012, quando iniciamos a realização<br />
de um Ciclo de Debates na Universidade<br />
de Brasília, nossa atuação foi ampliada<br />
e agora conseguimos ter inserção em<br />
dezoito estados brasileiros e em outros<br />
países. Se pensarmos que nossa trajetória<br />
é marcada pela defesa dos direitos<br />
das mulheres, pelo fim da violência de<br />
gênero, respeito, igualdade e crescimento<br />
profissional, podemos dizer que<br />
somos feministas”.<br />
Em relação às mulheres ciganas,<br />
Lucimara esclarece que é importante<br />
ressaltar a criação de um estereótipo<br />
desde a chegada dos ciganos ao Brasil,<br />
por volta de 1500, como ressonância<br />
do que já era feito na Europa. “Não<br />
são raras as representações da cigana<br />
nas artes plásticas e na literatura européia,<br />
pautadas na ideia de uma mulher<br />
fácil, fatal, sensual, enganadora. Essas<br />
informações foram disseminadas e os<br />
ciganos nunca se levantaram para se<br />
defender”.<br />
A militante da causa cigana destaca<br />
que existem grupos familiares sustentados<br />
por mulheres através da arte de ler as<br />
mãos e da cartomancia. “Esse é um<br />
dado. No entanto, em cada família as<br />
coisas acontecem de uma maneira. Não<br />
estou dizendo que todas as ciganas são<br />
assim. Cada comunidade tem suas próprias<br />
tradições e costumes”, esclarece.<br />
De acordo com a descendente de<br />
ciganos, em muitos lugares são as<br />
mães e avós que têm a responsabilidade<br />
de manter a cultura do grupo ao qual<br />
LAIS RODRIGUES<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015