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MIOLO ELA POR ELAS Nº 8

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78<br />

Ciganas independentes<br />

e feministas<br />

Elas são descendentes de ciganos,<br />

mas não vivem em comunidades. Seus<br />

antepassados saíram do convívio comunitário<br />

e iniciaram uma caminhada<br />

em busca de melhores condições de<br />

vida. Cinco mulheres independentes e<br />

que tiveram a oportunidade de concluir<br />

o ensino superior. Nenhuma delas é casada.<br />

Vivenciaram experiências fora da<br />

cultura cigana. Juntas, são as responsáveis<br />

pela criação da Associação Internacional<br />

Maylê Sara Kali, uma organização<br />

que atua em defesa dos direitos<br />

dos ciganos, promove o resgate cultural<br />

das etnias e tem uma preocupação particular<br />

com a questão de gênero.<br />

Depois de estudar e conquistar uma<br />

profissão retornaram ao convívio com<br />

as comunidades para auxiliar na garantia<br />

de direitos como educação, saúde,<br />

entre outras conquistas sociais que não<br />

chegam aos ciganos. Fazem parte de<br />

uma geração de mulheres que não<br />

abriu mão da identidade, no entanto,<br />

está inserida no mundo convencional.<br />

Lucimara Cavalcanti é uma delas.<br />

Especialista em Marketing, a descendente<br />

de uma família de ciganos Kalderash<br />

percebeu que poderia utilizar a<br />

dança e os costumes tradicionais para<br />

falar de diversidade e cidadania. “Desde<br />

2012, quando iniciamos a realização<br />

de um Ciclo de Debates na Universidade<br />

de Brasília, nossa atuação foi ampliada<br />

e agora conseguimos ter inserção em<br />

dezoito estados brasileiros e em outros<br />

países. Se pensarmos que nossa trajetória<br />

é marcada pela defesa dos direitos<br />

das mulheres, pelo fim da violência de<br />

gênero, respeito, igualdade e crescimento<br />

profissional, podemos dizer que<br />

somos feministas”.<br />

Em relação às mulheres ciganas,<br />

Lucimara esclarece que é importante<br />

ressaltar a criação de um estereótipo<br />

desde a chegada dos ciganos ao Brasil,<br />

por volta de 1500, como ressonância<br />

do que já era feito na Europa. “Não<br />

são raras as representações da cigana<br />

nas artes plásticas e na literatura européia,<br />

pautadas na ideia de uma mulher<br />

fácil, fatal, sensual, enganadora. Essas<br />

informações foram disseminadas e os<br />

ciganos nunca se levantaram para se<br />

defender”.<br />

A militante da causa cigana destaca<br />

que existem grupos familiares sustentados<br />

por mulheres através da arte de ler as<br />

mãos e da cartomancia. “Esse é um<br />

dado. No entanto, em cada família as<br />

coisas acontecem de uma maneira. Não<br />

estou dizendo que todas as ciganas são<br />

assim. Cada comunidade tem suas próprias<br />

tradições e costumes”, esclarece.<br />

De acordo com a descendente de<br />

ciganos, em muitos lugares são as<br />

mães e avós que têm a responsabilidade<br />

de manter a cultura do grupo ao qual<br />

LAIS RODRIGUES<br />

Revista Elas por Elas - Abril 2015

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