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ainda não alcançamos a paridade de<br />
gênero na política, nos espaços de poder,<br />
porque a cultura brasileira é machista<br />
e discriminatória. “Esta cultura<br />
patriarcal que isola as mulheres do<br />
mundo da política está refletida nos<br />
partidos que, por sua vez, não têm a<br />
mínima preocupação em mudar esta<br />
realidade. Não incentivam as mulheres<br />
a participar, não compartilham estes<br />
espaços e não se incomodam com a<br />
pequena representação feminina nos<br />
poderes, pois já está naturalizada a exclusão<br />
da mulher também no mundo<br />
da política. Um contrassenso, pois ela<br />
tem papel fundamental na economia e<br />
inclusive nos movimentos sociais, dando<br />
enorme contribuição para a transformação<br />
deste país”, afirma.<br />
Na avaliação de Vera Soares, não<br />
há como votar em mulheres se elas<br />
aparecem pouco, exatamente porque<br />
os partidos não abrem oportunidades<br />
iguais às oferecidas aos homens. “Os<br />
partidos divulgam os candidatos que<br />
querem eleger e na maioria das vezes,<br />
aceitam as candidaturas femininas por<br />
exigência da lei, apenas para cumprir<br />
cotas. Assim, elas não têm visibilidade<br />
e enfrentam muito mais dificuldades<br />
como, por exemplo, obter recursos<br />
para financiar suas campanhas”, destaca.<br />
Segundo Vera Soares, a reforma<br />
política com enfoque de igualdade entre<br />
homens e mulheres, é o caminho para<br />
mudar esta realidade. “Precisamos de<br />
uma reforma política que inclua, por<br />
exemplo, o financiamento público de<br />
campanha e a mudança no formato<br />
das listas de candidaturas apresentadas<br />
pelos partidos políticos que contemple<br />
a alternância de nomes entre homens<br />
e mulheres, chegando à paridade entre<br />
os sexos”, afirma. Ela reforça que é<br />
necessário também estimular que as<br />
definições internas dos partidos políticos<br />
sejam tomadas em coletivos e não continuem<br />
nas mãos dos chefes políticos,<br />
que em geral são homens.<br />
Vera Soares destaca ainda o papel<br />
dos professores para a mudança dessa<br />
realidade. “A escola, desde a educação<br />
infantil, nas suas práticas educativas,<br />
precisa estar atenta para não reforçar<br />
estereótipos machistas, pois isso contribui<br />
para o fortalecimento da política<br />
patriarcal. E, no ensino médio, a escola<br />
precisa ajudar as meninas a perceberem<br />
que não precisam, necessariamente,<br />
escolher apenas profissões que têm a<br />
ver com cuidado e/ou educação como<br />
enfermeiras, assistente social, professoras<br />
e que podem ocupar espaços,<br />
historicamente masculinos, como as<br />
engenharias, a física, a matemática,<br />
etc. Com certeza, a escola não é determinante,<br />
mas pode reforçar estereótipos.<br />
É preciso que crie um ambiente<br />
de cultura, de respeito às diferenças,<br />
que valorize a diversidade, uma<br />
cultura igualitária. Com certeza, isso<br />
vai contribuir diretamente para a igualdade<br />
de gênero”, finaliza.<br />
A historiadora Renata Rosa (foto) e<br />
ex-candidata à deputada estadual por<br />
Minas (PCdoB), em 2014, também<br />
defende uma reforma política urgente,<br />
pois considera que a luta por mais espaço<br />
na política para as mulheres é<br />
pesada e chega a ser cruel, em muitas<br />
situações, uma vez que não só as<br />
razões econômicas, sociais e culturais<br />
impedem uma participação mais efetiva<br />
NANCI ALVES<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015