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Esse desejo em ajudar tornou-se<br />
mais concreto, quando ela, em 2007,<br />
fundou a Associação Projeto Meninas<br />
de Dora. A iniciativa é fruto do trabalho<br />
voluntário feito por ela há mais de<br />
40 anos. “Eu fui sonhando e não abri<br />
mão do meu sonho, foi acontecendo...”,<br />
emociona-se ao contar. O<br />
“Meninas de Dora”, como é conhecido,<br />
prepara jovens e adultos para<br />
exercerem a sua condição de sujeito,<br />
gerando renda a partir do seu trabalho.<br />
São ofertados cursos de cabeleireiro,<br />
oficinas para o cabelo afro, cursos de<br />
cosméticos e outros. Sempre com o<br />
objetivo de elevar a autoestima dessas<br />
pessoas, para que elas acreditem no<br />
potencial de construir uma vida de<br />
sucesso.<br />
Reconhecimento<br />
Em 2012, o trabalho dela foi reconhecido<br />
nacionalmente. O projeto foi<br />
eleito a melhor ação social do estado<br />
de Minas Gerais e concorreu à melhor<br />
do Brasil. Dora acredita que, assim<br />
como ela mudou o rumo de sua vida,<br />
ela tem a missão de mudar o destino<br />
de vários meninos e meninas que cruzam<br />
o seu caminho. “Acredito que,<br />
assim como eu, uma mulher negra de<br />
origem humilde que construiu uma história<br />
de vitórias, qualquer um também<br />
pode alcançar seus sonhos”.<br />
Mas nem tudo são flores na vida<br />
desta guerreira. Para poder manter o<br />
projeto social, ela conta, não só com a<br />
renda do salão, mas também com a<br />
ajuda de amigos e pessoas solidárias.<br />
“Já fiz pirulito pra vender, trabalhei<br />
em casa de família, é preciso muito esforço<br />
pra gente poder manter essa trajetória”,<br />
esclarece.<br />
Apesar de toda a ajuda que recebe,<br />
ela acredita que o projeto precisa de<br />
um movimento para obter mais recursos<br />
e poder atender mais gente. Atualmente<br />
mais de 300 pessoas estão inscritas<br />
para os cursos, mas o espaço físico<br />
atual só permite que 10 pessoas tenham<br />
aulas, com isso eles trabalham apenas<br />
com cinco turmas. A iniciativa espera<br />
conseguir um espaço maior, onde eles<br />
possam ampliar as turmas e atender a<br />
todos. A dedicação ao projeto e a vontade<br />
de ensinar é tanta que, apesar<br />
das dificuldades enfrentadas, Dora não<br />
pensa em desistir.<br />
Grande incentivadora da cultura negra,<br />
além do trabalho no projeto, Dora<br />
também visita escolas e faz palestras.<br />
A iniciativa nas instituições de ensino<br />
começou antes mesmo da Lei 10.639,<br />
que decretou a obrigatoriedade do ensino<br />
da Cultura Afro-Brasileira no<br />
ensino fundamental e médio. “Hoje,<br />
eu vou às escolas e falo com os meninos<br />
‘vocês têm computador, livros, material<br />
e tudo que precisam, então, respeitem<br />
os professores’. Para ela, o trabalho<br />
dos/as professores/as é fundamental<br />
para a formação das pessoas. “Eu<br />
acho que a classe teria que ser mais<br />
bem paga, porque o médico, o cabeleireiro,<br />
o advogado, todos dependem<br />
do professor”, acredita.<br />
“Eu acho que a<br />
mulher tem que ser<br />
livre, se ela quer ter<br />
cabelo black, ótimo,<br />
agora se quer um<br />
cabelo liso, que<br />
tenha”.<br />
Ela comemora os resultados positivos<br />
do seu trabalho. “Eu converso<br />
muito com os meninos. Eu tenho<br />
resultados bacanas de trabalhos que a<br />
gente desenvolve nas escolas e, a partir<br />
daquele momento, os jovens<br />
mudam de postura”.<br />
Incentivadora da cultura afro, Dora<br />
acredita na liberdade da mulher em<br />
escolher o cabelo que quer ter. “Eu<br />
acho que a mulher tem que ser livre, se<br />
ela quer ter cabelo black, ótimo, agora,<br />
se quer um cabelo liso, que tenha um<br />
cabelo assim por opção e não por<br />
obrigação”.<br />
Referência como cabeleireira em<br />
Belo Horizonte e no país, Dora já fez<br />
o cabelo da atriz Débora Falabella no<br />
espetáculo Noites Brancas. Trabalhou<br />
também na produção dos atores do filme<br />
Pequenas Histórias, que teve a<br />
participação da atriz Patrícia Pillar,<br />
além dos filmes Batismo de Sangue e<br />
Uma onda no ar.<br />
Hoje ela tem um quadro permanente<br />
no Memorial de Minas do Vale, na<br />
Praça da Liberdade. Foi eleita cidadã<br />
do mundo em 2010, escolhida entre<br />
as cinco melhores cabeleireiras de<br />
Minas na Feira Mineira da Beleza em<br />
1999 e coleciona prêmios e homenagens<br />
por todo o país.<br />
Contudo, para Dora, o seu maior<br />
reconhecimento vem dos meninos e<br />
meninas que ela ajuda. “Eu fico muito<br />
emocionada, patrimônio pra mim é<br />
isso, quando ouço ‘eu quero ser igual<br />
a você, aprender a profissão, ter um<br />
cabelo igual ao seu’, então isso pra<br />
mim é fantástico”, declara.<br />
Hoje, aos 60 anos de idade, Dora<br />
diz que quer projetar uma nova fase<br />
em sua vida. “Quero começar um novo<br />
capítulo na minha história. Sou a menina<br />
negra que sonhei ser”, conclui.ø<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015