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Ana Luísa gosta de manter seus cabelos lisos.<br />
que diz investir em shampoo, cremes e<br />
hidratantes específicos para manter os<br />
cabelos naturais com a aparência que<br />
deseja.<br />
A pesquisa intitulada “Brasileiras e<br />
os Cabelos”, realizada pelo Ibope, em<br />
parceria com a Unilever (2011) aponta,<br />
entre outros dados, que as mulheres<br />
gastam, em média, 35 minutos diários<br />
apenas cuidando dos fios. Foram ouvidas<br />
400 mulheres das classes A, B e C<br />
- nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro,<br />
Recife e Porto Alegre. E o resultado<br />
mostra que o cabelo é parte essencial<br />
no ritual de beleza da brasileira:<br />
37% das entrevistadas usam creme de<br />
pentear e de tratamento; 72% afirmam<br />
gostar de cuidar do cabelo; 74% acham<br />
que com o cabelo bonito se sentem<br />
confiantes e para 37% ir ao salão é<br />
uma necessidade.<br />
Influência da mídia<br />
A questão cultural é, muitas vezes,<br />
estimulada ou reforçada pela mídia.<br />
Em novelas ou comerciais, que sempre<br />
ditam modas, o cabelo é mesmo algo<br />
muito destacado e valorizado. Para a<br />
NANCI ALVES<br />
psicóloga clínica e professora da PUC<br />
Minas, Ada Ferreira, moda significa<br />
seguir a tendência. “Agora é a vez dos<br />
cabelos lisos, mas se de uma hora para<br />
outra a mídia apresentar cabelos crespos<br />
como a sensação do momento, pode<br />
ser que pessoas que hoje tenham cabelos<br />
lisos, busquem modificá-lo para<br />
ficar na moda. Todas querem se sentir<br />
bem. Para a mulher, o cabelo representa<br />
a sensualidade, a feminilidade. Ter um<br />
cabelo bonito e bem cuidado é muito<br />
importante para a autoestima”, diz.<br />
Porém, na própria mídia que dita<br />
modas, a valorização do cabelo, às<br />
vezes, carrega uma discriminação contra<br />
quem está fora do padrão exigido. A<br />
professora Carolina dos Santos de Oliveira,<br />
em sua tese de mestrado, realizou<br />
uma análise crítica do discurso da<br />
revista adolescente Atrevida, enfocando<br />
a imagem de adolescentes negras na<br />
publicação. “Nos exemplares avaliados<br />
do período do recorte 2001 a 2005<br />
pode-se perceber uma incipiente inclusão<br />
das imagens de adolescentes negras,<br />
no entanto ainda no lugar de quem<br />
precisa ser moldado, modificado e domado,<br />
sendo o cabelo uma característica<br />
muito explorada, por ser um sinal diacrítico<br />
marcadamente racial”, afirma.<br />
Na sua avaliação, o Brasil precisa<br />
de iniciativas de educação libertária<br />
para amenizar essa bagagem da “boa<br />
aparência” imposta às mulheres. “A sociedade<br />
não pode alimentar essa indústria<br />
que causa sofrimentos e impõe<br />
uma doma ao corpo feminino e com<br />
mais imperatividade ao corpo feminino<br />
negro”. Porém, Carolina Oliveira acredita<br />
que a escola não pode ser a única<br />
responsabilizada por esta mudança.<br />
“Entendo a escola, da forma como ela<br />
se configura hoje, como uma reprodutora<br />
da sociedade, com pouco ou ne-<br />
Revista Elas por Elas - Abril 2015