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MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />
culto estrangeiras em seus territórios foi uma das primeiras ações realizadas. O Templo foi reformado e o<br />
livro da Lei - provavelmente gran<strong>de</strong> parte do Livro <strong>de</strong> Deuteronômio - foi encontrado nesse local e lido<br />
para o povo, sendo celebrada uma gran<strong>de</strong> festa (2 Reis 22-23.1-23).<br />
Todos os valores do Javismo <strong>de</strong>rivado da reforma estavam completamente centrados no Templo <strong>de</strong><br />
Jerusalém e às tradições <strong>de</strong>sse local. O rigor <strong>de</strong>ssa reforma se <strong>de</strong>u em função da idéia <strong>de</strong> que a Aliança<br />
<strong>de</strong>veria ser uma ligação profunda do povo com seu Deus, marcada pela submissão: as leis ganharam um<br />
novo peso nesse processo, marcadas pela sua codificação e pelo ensino dos <strong>de</strong>veres nelas contidos.<br />
Essa reforma fez com que o livro da Lei fosse utilizado como meio <strong>de</strong> legislar todo o povo, uma vez<br />
que seu texto abrangia aspectos sociais e éticos <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong>. Assim, toda a região <strong>de</strong> Jerusalém,<br />
arredores e posteriormente as áreas conquistadas por Josias tiveram <strong>de</strong> adotar tal legislação, que durou até<br />
a sua morte. Porém, a lei utilizada não teve continuida<strong>de</strong> com os sucessores <strong>de</strong> Josias.<br />
Outro dado é que essa reforma promoveu a idéia <strong>de</strong> troca entre o povo e seu Deus. Assim, Yahweh<br />
<strong>de</strong>veria retribuir ao povo sempre com bens materiais quando cumprissem os seus mandamentos; caso<br />
contrário, os bens materiais do mundo lhes faltariam. Com essa nova Aliança, um excesso <strong>de</strong> confiança<br />
pairou sobre a população, <strong>de</strong> tal modo que passaram a se consi<strong>de</strong>rar invioláveis. Mas as palavras dos<br />
profetas continuavam a anunciar 0 castigo, pois nem mesmo essa nova Aliança seria capaz <strong>de</strong> apaziguar a<br />
ira divina, e a população continuava, <strong>de</strong> algum modo, com suas práticas idólatras. A crença da população na<br />
Aliança levou-a a cometer atitu<strong>de</strong>s das quais os profetas discordavam. Constantemente o po<strong>de</strong>r da Babilônia<br />
foi <strong>de</strong>safiado através <strong>de</strong> rebeliões, pois a população acreditava que Deus não iria per<strong>de</strong>r uma batalha para<br />
outras nações, suas inimigas.<br />
A população não estava pronta para ouvir as palavras <strong>de</strong> Jeremias (627-587 a.C.), um dos profetas<br />
do período, e o criticou e se opôs à sua mensagem, <strong>de</strong>ixando-o isolado. Jeremias fez <strong>de</strong> Deus o seu<br />
companheiro, aproximando a figura dEle do caráter <strong>de</strong> soberano, fornecendo-lhe um caráter <strong>de</strong> Deus, num<br />
sentido “metafísico” para o termo. Deus passou assim a ser consi<strong>de</strong>rado como pessoa e, portanto, a relação<br />
com esse Deus ganhava um novo caráter: Ele tinha o controle sobre a história do mundo, mas também sobre<br />
cada homem individualmente. A nova Aliança <strong>de</strong>veria ser firmada no coração <strong>de</strong> cada indivíduo, no plano<br />
espiritual, sendo a única capaz <strong>de</strong> salvar o ser humano.<br />
Quando da conquista da Babilônia, a população que era fiel a Deus e seguia todos os seus mandamentos<br />
questionava a justiça divina, que apregoava a idéia <strong>de</strong> pagamento pelos erros dos antepassados a toda a nação. O<br />
profeta Jeremias respon<strong>de</strong>u a essa questão afirmando que tal postulado valia apenas para a antiga Aliança e que<br />
a nova não seria mais <strong>de</strong>sse modo, pois Deus iria retribuir a cada um individualmente.<br />
Porém, como a vida era curta <strong>de</strong>mais e a promessa <strong>de</strong> retribuição ou castigo <strong>de</strong>veria ser cumprida, a população<br />
chegou a um novo questionamento sobre a justiça <strong>de</strong> Deus. Como esta não po<strong>de</strong>ria ser questionada, duas soluções<br />
ocorreram, sendo as últimas gran<strong>de</strong>s conquistas do pensamento pré-cristão. A primeira <strong>de</strong>las foi a vida <strong>de</strong>pois da<br />
morte, ao menos aos fiéis a Deus, que po<strong>de</strong>riam quitar suas dívidas ou receber mais recompensas posteriormente,<br />
resolvendo <strong>de</strong>sse modo o problema da justiça terrena para com aqueles que não vêem sua retribuição em vida.<br />
A segunda foi a existência do Mal. Porém, esse fato trouxe outros questionamentos, por exemplo, como<br />
enten<strong>de</strong>r que um justo passa por todo mal se seu Deus é o Todo-Po<strong>de</strong>roso? O autor do livro <strong>de</strong> Jó, em meados<br />
do século V a.C., enxergou esse problema claramente, retratando um homem justo, fato reconhecido até mesmo<br />
por Deus, sobre 0 qual recaem todos os males. A resposta que Deus forneceu para tal acontecimento foi que as<br />
<strong>de</strong>cisões divinas eram transcen<strong>de</strong>ntes ao homem e não cabia compreendê-las.<br />
Assim, a religião que se formou no exílio e que adquiriu um caráter individual conservou certas observâncias<br />
<strong>de</strong> épocas anteriores, como as regras alimentares, a circuncisão, as prescrições litúrgicas e morais, além da idéia<br />
da Aliança com Deus. O mais importante <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser Deus propriamente dito e passou a ser a compreensão da<br />
vonta<strong>de</strong> divina, levando à codificação da Lei e reduzindo 0 <strong>de</strong>ver do povo à sua obediência.<br />
Outros tipos <strong>de</strong> adaptação também foram necessários, uma vez que a Lei <strong>de</strong>veria ser cumprida. Com a ausência<br />
do Templo, as regras <strong>de</strong> sacrifício sofreram alterações. E muito provável que seja <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto que se<br />
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CURSO DE TEOLOGIA