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O papel do enfermeiro num estudo de adesão ao aleitamento materno

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chic, segun<strong>do</strong> o i<strong>de</strong>al mundano da época, <strong>do</strong> que parecer gostar excessivamente <strong>do</strong>s<br />

filhos e alienar o seu precioso tempo com eles (…) ” (1998, p.95).<br />

Estas mães abastadas ou ricas <strong>ao</strong> entregarem as suas crianças <strong>ao</strong> cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

uma ama acabariam por ser copiadas por outras mães <strong>de</strong> classe social inferior na<br />

procura <strong>de</strong> distinção social, sen<strong>do</strong> a recusa da amamentação símbolo <strong>de</strong> um estatuto<br />

social (Yalom, 1997).<br />

Médicos e moralistas da época acabaram também por contribuir para esta recusa<br />

<strong>do</strong> <strong>aleitamento</strong> <strong>materno</strong>, pois consi<strong>de</strong>ravam incompatível a amamentação com a<br />

activida<strong>de</strong> sexual <strong>do</strong> casal (Yalom, 1997; Badinter, 1998).<br />

Os próprios mari<strong>do</strong>s foram também responsáveis pela recusa das mulheres em<br />

amamentar <strong>ao</strong> favorecer a contratação <strong>de</strong> uma ama <strong>de</strong> leite, pois para além <strong>de</strong> não lhes<br />

agradar a visão da esposa a amamentar, consi<strong>de</strong>ravam a amamentação limitativa <strong>do</strong>s<br />

seus prazeres (Badinter, 1998).<br />

Numa época em que a mortalida<strong>de</strong> infantil era elevada, esperava-se que as<br />

mulheres <strong>de</strong> classe mais abastada <strong>de</strong>ssem à luz o maior número <strong>de</strong> filhos com vista a<br />

garantir um her<strong>de</strong>iro para os títulos e proprieda<strong>de</strong>s familiares. Nestas famílias, os filhos<br />

representavam uma outra forma <strong>de</strong> riqueza, sen<strong>do</strong> a amamentação <strong>de</strong>sencorajada da<strong>do</strong><br />

que era conheci<strong>do</strong> o seu efeito contraceptivo 24 .<br />

Ten<strong>do</strong>-se inicia<strong>do</strong> em França, este fenómeno <strong>de</strong> utilização mercenária <strong>de</strong> amas<br />

alargou-se a outros países da Europa nomeadamente Alemanha e Inglaterra, com<br />

excepções <strong>de</strong> países como a Holanda e Suécia, on<strong>de</strong> a amamentação mercenária foi<br />

pouco praticada (Yalom, 1997; Badinter, 1998).<br />

Esta realida<strong>de</strong> porém, viria a alterar-se a partir <strong>do</strong> séc. XVIII ocorren<strong>do</strong> o que<br />

Badinter (1998) classifica como uma espécie <strong>de</strong> revolução <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>s, em que a<br />

imagem da mãe, <strong>do</strong> seu <strong>papel</strong> e da sua importância se transformaram. Um novo discurso<br />

valorizava o seio maternal em <strong>de</strong>trimento <strong>do</strong> seio da ama <strong>de</strong> leite consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> nas<br />

palavras da autora “corrupto” ou “poluente”.<br />

As elevadas taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil associadas às amas <strong>de</strong> leite 25 e<br />

argumentos (sem fundamento científico 26 ) associa<strong>do</strong>s <strong>ao</strong> <strong>aleitamento</strong> por amas fizeram<br />

24 “Da<strong>do</strong> o efeito contraceptivo da lactação, o <strong>aleitamento</strong> generaliza<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ter constituí<strong>do</strong> uma forma <strong>de</strong> controlo da<br />

população <strong>de</strong> massas na Europa pré-industrial” (Yalom, 1997, p. 90).<br />

25 Segun<strong>do</strong> Badinter (1998) o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> permanência em casa da ama seria em média <strong>de</strong> quatro anos, sen<strong>do</strong> as crianças<br />

<strong>de</strong>smamadas entre os quinze, <strong>de</strong>zoito ou vinte meses. As crianças permaneciam ainda na casa da ama durante um<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição alimentar até <strong>ao</strong>s três, quatro ou cinco anos, após o qual regressavam <strong>ao</strong> <strong>do</strong>micílio familiar. Durante o<br />

longo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> permanência na casa da ama as crianças eram alimentadas com misturas <strong>de</strong> água e pão que as amas<br />

mastigavam antes <strong>de</strong> dar à criança, castanhas esmagadas, trufa ou pão macera<strong>do</strong> <strong>num</strong> vinho fraco e áci<strong>do</strong>, alimentação<br />

inapropriada, da qual resultava por vezes a morte da criança.<br />

26 Segun<strong>do</strong> Badinter (1998), antes <strong>do</strong> séc. XVIII o principal argumento usa<strong>do</strong> contra as amas <strong>de</strong> leite advinha da crença <strong>de</strong><br />

que o lactente absorvia com o leite a personalida<strong>de</strong> e o carácter, bem como <strong>de</strong>feitos físicos e <strong>do</strong>enças da ama.<br />

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