Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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cantora <strong>de</strong> cabaré vivida por Renata Sorrah, ou ainda, a purpurina suada da<br />
pele <strong>de</strong> Satã. As roupas utilizadas por Madame Satã parec<strong>em</strong> irradiar calor,<br />
com seus tons flamejantes, <strong>em</strong> cores fortes, como o vermelho e o lilás.<br />
Purpurinas e outros berloques parec<strong>em</strong> ornamentar todas as cenas.<br />
Desta feita, <strong>em</strong> Madame Satã as cores são <strong>de</strong>cisivas para se a<strong>de</strong>ntrar no<br />
universo das figuras que por ali transitam. São uma forma <strong>de</strong> perscrutar<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s tão próximas e ao mesmo t<strong>em</strong>po tão longínquas. Da ru<strong>de</strong>za<br />
nor<strong>de</strong>stina e introspectiva <strong>de</strong> João Francisco ao fulgor <strong>de</strong>bochado e<br />
irreverente <strong>de</strong> Satã, do contraste da pele escura com o rubor dos a<strong>de</strong>reços,<br />
das sombras das ruas e das casas contra o brilho das luzes na tela, tudo<br />
concorre para construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. As cores test<strong>em</strong>unham a<br />
transformação <strong>de</strong> João <strong>em</strong> Satã: a figura <strong>de</strong>masiadamente presa ao seu<br />
instinto revolto que, tal e qual a fênix, faz <strong>de</strong> si um espetáculo <strong>de</strong> luz e fogo<br />
por inteiro.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Face às consi<strong>de</strong>rações aqui tecidas, é-nos possível tomar como<br />
coerente o pressuposto <strong>de</strong> que a figura <strong>de</strong> Madame Satã escapa às fáceis<br />
categorizações construídas e heg<strong>em</strong>ônicas acerca <strong>de</strong> sua orientação sexual.<br />
Não <strong>de</strong>monstra ser n<strong>em</strong> gay e n<strong>em</strong> hom<strong>em</strong>. Paradoxalmente configura-se, e<br />
po<strong>de</strong> ser, ambos. A sua viril figura, associada a sua <strong>de</strong>streza nas artes da<br />
Capoeira e às diversas façanhas nas quais se envolvera criam <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> si<br />
uma atmosfera mítica, quase titânica. Essa conduta um tanto ambígua rompe<br />
com a noção que até então vigorara <strong>em</strong> relação ao indivíduo homossexual<br />
imaginário (ou construído). Madame Satã <strong>de</strong>safia as classificações fáceis. As<br />
bravatas às quais sua figura s<strong>em</strong>pre esteve associada possibilitam-lhe<br />
transitar, ainda que no universo que lhe fora <strong>de</strong>signado, no limiar que separa o<br />
sujeito heterossexual e homoeroticamente inclinado. Ali, nas primeiras<br />
décadas do século XX, <strong>de</strong>safiando as convenções e as <strong>de</strong>terminações das<br />
forças <strong>de</strong>tentoras do po<strong>de</strong>r, Madame Satã incorpora o gay-hom<strong>em</strong> que o<br />
século XXI dá à luz.<br />
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