Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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CAPÍTULO 4 – MADAME SATÃ<br />
74<br />
4.1 João Francisco dos Santos, a Madame Satã<br />
Madame Satã nasceu João Francisco dos Santos, <strong>em</strong> 25 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 1900, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Glória do Goitá, no sertão <strong>de</strong> Pernambuco, numa<br />
família <strong>de</strong> 17 filhos, entre homens e mulheres. Sua mãe, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
escravos, pertencia a uma família humil<strong>de</strong>. O pai, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um ex-<br />
escravo e filho da elite latifundiária local, morreu quando João Francisco tinha<br />
7 anos. No ano seguinte, com 17 bocas para alimentar, sua mãe entregou o<br />
menino para um negociante <strong>de</strong> cavalos <strong>em</strong> troca <strong>de</strong> uma égua. Seis meses<br />
<strong>de</strong>pois, fugiu com uma mulher que lhe oferecera um <strong>em</strong>prego como ajudante<br />
numa pensão pretendia abrir no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Com ela, permaneceu <strong>de</strong><br />
1908 a 1913, lavando pratos, carregando marmitas e fazendo compras para a<br />
pensão, o dia inteiro, s<strong>em</strong> folga e s<strong>em</strong> or<strong>de</strong>nado. A sua condição, enfim, não<br />
havia mudado <strong>em</strong> nada. Permanecia s<strong>em</strong> estudo, <strong>em</strong> condição pouco<br />
diferente daquele que <strong>de</strong>ixara <strong>em</strong> solo nor<strong>de</strong>stino. Com 13 anos, João<br />
Francisco <strong>de</strong>ixou a pensão e passou a viver nas ruas, dormindo nos <strong>de</strong>graus<br />
das casas <strong>de</strong> aluguel, na Lapa. Nos seis anos seguintes, <strong>de</strong>senvolveu<br />
serviços esporádicos na vizinhança, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> carregar sacolas <strong>de</strong> compras do<br />
mercado até ven<strong>de</strong>r potes e panelas <strong>de</strong> porta <strong>em</strong> porta. Aos 18 anos,<br />
<strong>em</strong>pregou-se como garçom <strong>em</strong> um bor<strong>de</strong>l, conhecido como Pensão Lapa.<br />
Segundo Green (2003), as donas <strong>de</strong> bordéis, <strong>em</strong> geral, contratavam jovens<br />
homossexuais para trabalhar como garçons, cozinheiros, camareiros e<br />
inclusive como eventuais prostitutos, caso um cliente assim o <strong>de</strong>sejasse. Já<br />
que muitos <strong>de</strong>sses jovens haviam adquirido certos maneirismos<br />
tradicionalmente f<strong>em</strong>ininos, supunha-se que eles podiam <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar<br />
tarefas domésticas com facilida<strong>de</strong> e eficiência e viver entre as prostitutas s<strong>em</strong><br />
criar uma tensão sexual.<br />
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Conforme Green (ibi<strong>de</strong>m), nos anos 20 e 30, a topografia homoerótica<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro estendia-se num s<strong>em</strong>icírculo que começava na Praça<br />
Floriano Peixoto e no Passeio Público, na Cinelândia, passando pelo bairro