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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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O filme retrata o cotidiano <strong>de</strong> João Francisco e do seu círculo <strong>de</strong><br />

amigos, incluindo aqueles que se constitu<strong>em</strong> como sua família: a prostituta,<br />

Laurita, e o homossexual, Tabu. A narrativa fílmica centra-se num momento<br />

<strong>de</strong>cisivo na vida do protagonista - o período que antece<strong>de</strong> à criação do mito<br />

Madame Satã. A orig<strong>em</strong> do prosônimo, aliás, assim como vários aspectos<br />

relacionados à vida da figura, permanece um mistério. Teria surgido <strong>em</strong> 1938,<br />

no Bloco Caçadores <strong>de</strong> Veado, quando João Francisco se exibiu com a<br />

fantasia <strong>de</strong> Madame Satã, no Teatro República, ganhando <strong>em</strong> primeiro lugar.<br />

Entretanto, segundo Durst (1985) a versão seria outra:<br />

O carnaval passou. Algum t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois, ele e as bichas amigas<br />

estavam reunidas no Passeio Público batendo papo furado, quando<br />

foram todos levados pelo tintureiro (carro <strong>de</strong> presos), num esforço <strong>de</strong><br />

moralização da cida<strong>de</strong>... Antes <strong>de</strong> soltá-los, perguntou o nome <strong>de</strong> cada<br />

uma das bonecas e todas respon<strong>de</strong>ram, menos João, que disse que<br />

não tinha (po<strong>de</strong>ria ter dito que era Caranguejo, mas esse apelido não<br />

teria uma acolhida cordial na <strong>de</strong>legacia). O <strong>de</strong>legado estranhou uma<br />

bicha não ter apelido e acabou por reconhecê-lo como o vencedor do<br />

concurso do Teatro República. O doutor Gonçalves não entendia nada<br />

<strong>de</strong> morcegos <strong>de</strong> Pernambuco, mas tinha visto o filme americano<br />

Madame Satã 7 que fazia sucesso no Rio. Achou que a fantasia tinha<br />

sido <strong>de</strong> Madame Satã e que o dono <strong>de</strong>via ter o mesmo nome. (DURST,<br />

1985:29)<br />

Em Madame Satã, há uma representação da marginalida<strong>de</strong> social, uma<br />

disposição e um interesse pela vida. Na obra, os tipos humanos retratados<br />

são aqueles postos à marg<strong>em</strong>, e suas existências são mostradas s<strong>em</strong><br />

pudores, s<strong>em</strong> espetacularização. Desse modo, vê-se um retrato das pessoas<br />

que se aproxima, e muito, do fi<strong>de</strong>digno: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o negro que luta para<br />

sobreviver, passando pela prostituta que sustenta a filha com o dinheiro dos<br />

programas e a cria no mesmo ambiente <strong>de</strong> seu “trabalho”, chegando ao<br />

policial que necessita escon<strong>de</strong>r da socieda<strong>de</strong> a sua atração por travestis, as<br />

suas fantasias homoeróticas.<br />

Essa representação fiel dos el<strong>em</strong>entos humanos e urbanos do filme<br />

retrata o momento histórico <strong>em</strong> que se passa a narrativa. Nessa época, o<br />

7 “Madam Satan" (1930), dirigido por Cecil B. De Mille.<br />

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