Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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escura. Durante algum tempo também existiu a classe “vergonhosa” para a
qual foram preparados regulamentos especiais “de maneira que os que a
compõem estarão sempre separados dos outros e vestidos de burel (ibidem,
p. 152). Somente a mudança de seus comportamentos e seus progressos
poderiam conceder a honra de um aluno das últimas duas classes elevar-se
às classes superiores. Inversamente, os alunos das classes mais meritórias
poderiam ser rebaixados às últimas classes em caso de relaxamento ou
desídia ou ainda se relatórios reunidos e desvantajosos mostrarem-nos como
não mais merecedores dos apanágios e distribuições das primeiras classes.
Naturalmente, o desejo de todo aluno era ser elevado às classes dos “muito
bons” ou dos “bons”. Parece claro que a única possibilidade de lograr tal
objetivo era por meio da mudança de conduta e de comportamento. Desse
modo, a classificação punitiva tendia à extinção. O que conduz ao
pensamento de que a “classe vergonhosa” somente existia para desaparecer.
A penalidade hierarquizante, na medida em que distribuía os alunos
consoantes suas habilidades e procedimentos, considerando os seus usos
fora da escola, exercia sobre o alunato coação constante, a fim de que se
submetessem todos ao mesmo modelo, para que fossem obrigados à
subordinação, à docilidade, ao zelo e dedicação pelas aulas e pelos estudos,
e à rigorosa prática dos deveres e de todas as partes da disciplina. Para que,
enfim, se pareçam. Resumidamente, a arte de punir, no regime disciplinar,
não visa nem à purificação dos crimes ou faltas cometidas e nem mesmo à
punição. Ela relaciona os atos e desempenhos a um conjunto ao mesmo
tempo espaço de diferenciação e princípio de uma regra a ser seguida;
diferencia os indivíduos em relação uns aos outros; quantifica e hierarquiza as
capacidades, o nível, a natureza dos indivíduos; põe em funcionamento, por
meio dessa quantificação, a força de uma conformidade a realizar; por fim,
estabelece o limite que definirá a diferença em relação a todas as diferenças,
a fronteira externa do anormal. “A penalidade perpétua que atravessa todos
os pontos e controla todos os instantes das instituições disciplinares compara,
diferencia, hierarquiza, homogeniza, exclui. Em uma palavra, ela normaliza”
(ibidem, p. 153).
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