Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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como com mulher, ambos fizeram abominação.” Uma terceira passagem, na
Epístola de São Paulo aos Romanos, capítulo 1, versículo 27, também
remeteria aos atos sodomitas: “E, semelhantemente, também os varões,
deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns
para com os outros. Varão com varão cometendo torpeza...”Algumas outras
passagens, como a Primeira Carta aos Coríntios (6: 9-10), geram debates
fervorosos entre religiosos e teólogos. A despeito disso, há uma série de
contra-argumentação a essa suposta condenação bíblica aos atos
homossexuais. Alguns estudiosos defendem a teoria de que tais referências
são, de fato, questão de tradução. Polêmicas à parte, é fato que, na era cristã,
o homossexual foi alçado à categoria de paradigma da perversão, visto que, a
escolha de um ato sexual implicava o detrimento de outro.
De modo semelhante ao que ocorria nos tempos gregos, recusar a
diferença “natural” dos sexos era evitar que este fosse consumado com fins
procriadores. Deste modo, todo ato sexual que não tivesse por fim a geração
de rebentos era julgado perverso. Destarte, a sodomia passou a ser encarada
como fruto de atividades satânicas, a vertente mais escura das atividades
devassas. O sodomita era visto como o perverso dos perversos. 1 O satânico
dos satânicos. Na modernidade, o famoso artigo Westphal, em 1870, sobre as
“sensações sexuais contrárias” parece ser o natalício dos estudos sobre o
homoerotismo e sua inclusão nos campos da psicologia, psiquiatria e
medicina. O homoerotismo, ao ser transferido da prática de sodomia para uma
espécie de androgênese interior, um hermafroditismo da alma, passou a
aparecer como uma das figuras da sexualidade (FOUCAULT, 1988, p. 43).
Um dos primeiros estudos sobre o homoerotismo como evento de
cunho social e de interesse científico foi o realizado pelo biólogo e sociólogo
americano Kinsey, nos Estados Unidos entre 1948 e 1953. O cômputo de
suas pesquisas foi publicado em dois livros, Comportamento Sexual do
Homem (1948) e Comportamento Sexual da Mulher (1953), sob o nome de
Informes Kinsey. Os resultados obtidos revelaram dados inimagináveis e
1 Conforme Roudinesco, 2008.
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