Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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vibrante e titânico. Em outras situações, Madame Satã transgredia todos os<br />
padrões, toda a m<strong>em</strong>ória acerca do que representava o sujeito homossexual e<br />
mostrava uma faceta máscula, austera e <strong>de</strong>st<strong>em</strong>ida, capaz <strong>de</strong>, a golpes <strong>de</strong><br />
capoeira, avançar contra soldados e lançá-los por terra. Rocha (2004)<br />
assegura enxergar gran<strong>de</strong> ironia no homoerotismo <strong>de</strong>ssa figura, pois<br />
<strong>em</strong> um mundo on<strong>de</strong> predomina a imag<strong>em</strong> do malandro jogador, machão<br />
e explorador <strong>de</strong> mulheres, Madame Satã configura-se como um caso<br />
ex<strong>em</strong>plar e, simultaneamente, uma vida extraordinária, pois<br />
encerra <strong>de</strong> maneira paradoxal o ‘ser malandro’ e se apresenta como um<br />
símbolo <strong>de</strong> fronteira (ROCHA, 2004, p. 14).<br />
Para fins <strong>de</strong> analogia, toma-se a narrativa fílmica A Rainha diaba 10 , <strong>de</strong><br />
1974, dirigida por Antonio Carlos Fontoura.<br />
Nessa obra, a personag<strong>em</strong> Diaba, interpretada por Milton Gonçalves, é<br />
um homossexual dono <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> “bocas” <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong><br />
drogas. Controla o narcotráfico à mão <strong>de</strong> ferro e trata com rigor <strong>de</strong>smedido<br />
aqueles que se opõ<strong>em</strong> a seus quereres. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, estabelece<br />
relações maternais com um séquito <strong>de</strong> outras “moçoilas”, que a proteg<strong>em</strong><br />
como os aprendizes ao mestre. Na verda<strong>de</strong>, essa preocupação com a<br />
farândola gay resulta <strong>de</strong> certo t<strong>em</strong>or dos traidores que tentavam acabar com<br />
sua autorida<strong>de</strong> <strong>em</strong>presarial. O sujeito homossexual <strong>de</strong> A Rainha diaba, assim<br />
como aquele <strong>de</strong> Madame Satã, <strong>de</strong>nota certa intrepi<strong>de</strong>z. Mas as s<strong>em</strong>elhanças<br />
param por aí.<br />
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10 O enredo <strong>de</strong> A rainha diaba gira <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> Diaba, um homossexual que comanda <strong>de</strong> um dos<br />
quartos <strong>de</strong> um bor<strong>de</strong>l, uma quadrilha responsável pelo controle <strong>de</strong> vários "pontos" <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> droga.<br />
Sabendo que um dos seus homens <strong>de</strong> confiança está para ser preso, Diaba "fabrica" um novo<br />
marginal, para <strong>de</strong>pois entregá-lo a polícia. Ela encarrega Catitu, seu hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> confiança, <strong>de</strong> fazer<br />
isto. Catitu <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> que o alvo será Bereco, um garotão cheio <strong>de</strong> si que é sustentado por Isa, uma<br />
cantora <strong>de</strong> cabaré. Catitu atrai Bereco para uma série <strong>de</strong> crimes e faz <strong>de</strong>le um "perigoso bandido".<br />
Acontece que Bereco passa a acreditar nesta "fama". Diaba começa a ter seu po<strong>de</strong>r diminuído<br />
quando Bereco preten<strong>de</strong> controlar a venda das drogas e Catitu, por sua vez, <strong>de</strong>seja aumentar seu<br />
po<strong>de</strong>r. O filme é inspirado na lendária figura <strong>de</strong> João Francisco dos Santos, a Madame Satã.