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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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levante dos ameaçados. O pretexto do grupo menos vigoroso é o <strong>de</strong> que o<br />

oponente mais po<strong>de</strong>roso preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>vorá-lo ou <strong>de</strong>struí-lo, t<strong>em</strong> “a intenção<br />

viciosa e ignóbil” <strong>de</strong> apagar-lhe a diferença, forçando-o ou induzindo-o “a se<br />

ren<strong>de</strong>r a seu próprio “ego coletivo”, per<strong>de</strong>r prestígio, dissolver-se” (op. cit. p.<br />

83). Por sua vez, o grupo mais forte <strong>de</strong>seja que não se dê importância às<br />

diferenças, almeja ver sua presença como inevitável e permanente. No fim<br />

das contas, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é uma luta contínua e simultânea contra a anulação<br />

ou o fracionamento <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> indivíduos que, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que<br />

insiste <strong>em</strong> <strong>de</strong>vorar, recusa-se ferozmente a ser <strong>de</strong>vorado. Desta feita, a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a diferença estão <strong>em</strong> íntimo vínculo com relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Como diz Silva (i<strong>de</strong>m): “O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> marcar diferenças<br />

não po<strong>de</strong> ser separado das relações mais amplas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a<br />

diferença não são nunca inocentes.”<br />

Consi<strong>de</strong>radas tais reflexões, parece a<strong>de</strong>quado dizer que todo processo<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>nota marcas in<strong>de</strong>léveis da presença <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r: inclusão e<br />

exclusão; <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> territórios; classificação; normalização. I<strong>de</strong>ntificam-<br />

se os iguais e distingu<strong>em</strong>-se os diferentes. Assim, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural está<br />

baseada na diferença. É a diferença a condição <strong>de</strong> existência da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Surge como algo externo, <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> outra, mas necessária para a<br />

consistência da própria personalida<strong>de</strong>. “A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, assim como o sujeito,<br />

não é fixa, ela está s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> produção, encontra-se <strong>em</strong> um processo<br />

ininterrupto <strong>de</strong> construção e é caracterizada por mutações” (FERNANDES,<br />

2005:43). De outro modo, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do sujeito é <strong>de</strong>finida pelas relações<br />

travadas com o outro. Assim, como b<strong>em</strong> diz Fernan<strong>de</strong>s, “compreen<strong>de</strong>r o<br />

sujeito discursivo requer compreen<strong>de</strong>r quais são as vozes sociais que se<br />

faz<strong>em</strong> presentes <strong>em</strong> sua voz” (ibi<strong>de</strong>m, p. 35).<br />

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Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar também que a noção <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória<br />

discursiva, tal como preconizada pela Análise do Discurso, é muito importante<br />

para pensarmos a questão da produção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Orlandi, retomando<br />

os estudos <strong>de</strong> Pêcheux, refere-se à m<strong>em</strong>ória discursiva como “o saber<br />

discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré-<br />

construído, o já dito que está na base do dizível, sustentando cada tomada <strong>de</strong>

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