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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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Debray (1993) recorda a importância que tinha a visão para o hom<strong>em</strong><br />

grego. Conforme o filósofo, tamanho era o mérito das percepções visuais para<br />

os helenos que estes consi<strong>de</strong>ravam a morte como a perda da visão. O pior<br />

castigo que se podia infligir a um infrator era vazar-lhe os olhos. Para fins<br />

ilustrativos, cabe a saga mitológica do rei Édipo, famoso por matar o pai (Laio)<br />

e casar-se com a própria mãe (Jocasta). Segunda a lenda grega, ainda<br />

recém-nascido, Édipo, filho do rei <strong>de</strong> Tebas, foi abandonado à morte no monte<br />

Citerão. Laio procurava, com tal ato, livrar-se da maldição prevista pelo<br />

Oráculo <strong>de</strong> Delfos, segundo a qual o filho mataria seu pai e <strong>de</strong>sposaria a<br />

própria mãe. Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-aventuranças, a criança<br />

sobrevive e acaba adotada pelo imperador <strong>de</strong> Corinto. Anos mais tar<strong>de</strong>, após<br />

livrar-se da terrível Esfinge, monstro que aterrorizava Tebas, o jov<strong>em</strong> casa-se<br />

com Jocasta, cumprindo a profecia do Oráculo. Quando, por ocasião <strong>de</strong> uma<br />

peste, Édipo <strong>de</strong>scobre que contraíra núpcias com a mãe, fura os próprios<br />

olhos, como forma <strong>de</strong> supliciar-se pelo litígio cometido. A tragédia edipiana<br />

ex<strong>em</strong>plifica a postura da civilização grega <strong>em</strong> relação à visão. Ao vazar os<br />

próprios olhos, Édipo impõe-se pena maior do que a própria morte: priva-se<br />

da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cont<strong>em</strong>plação <strong>de</strong> si próprio ou <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>. Liberta-se <strong>de</strong><br />

test<strong>em</strong>unhar a <strong>de</strong>sgraça que seus pecados provocaram. A <strong>de</strong>sdita do rei<br />

tebano ex<strong>em</strong>plifica a magia representada e proposta pela imag<strong>em</strong> para a<br />

nação helena. Ali, o pictórico era fundamental e fazia parte da essência vital<br />

grega.<br />

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Conforme Debray (1993), a imag<strong>em</strong> arrebata a pessoa do sono dos<br />

sentidos, tira-lhe a estabilida<strong>de</strong>, cria-lhe expectativas. A imag<strong>em</strong> argumenta a<br />

seu respeito, diz o filósofo. Corroborando esse pensamento, Aumont (2004)<br />

assevera que a imag<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação ao individuo, não existe gratuitamente,<br />

estando referenciada ao uso. A imag<strong>em</strong> cria um vínculo com o real<br />

estabelecendo, assim, uma relação com o mundo. Para ele, relação entre<br />

espectador e imag<strong>em</strong> é uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão dupla: ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />

que o espectador a constrói, ela também o constrói. Ocorre, assim, a entrada<br />

do presenciador no espaço do reconhecimento, processo que se dá <strong>em</strong><br />

recompensa: na medida <strong>em</strong> que imita a natureza, a arte representativa

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