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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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Nota-se, assim, que <strong>em</strong> Madame Satã, os modos <strong>de</strong> representação<br />

visual e discursivo inscrev<strong>em</strong> a homossexualida<strong>de</strong> sob o alicerce do gay-<br />

hom<strong>em</strong> e atribui a essa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>em</strong>ergente uma face <strong>de</strong>spida dos trejeitos<br />

e tons caricatos até então <strong>em</strong> voga, <strong>em</strong> que o corpo era marcado pela<br />

sexualida<strong>de</strong> marginal. A obra assenta-se, assim, como um acontecimento<br />

discursivo, uma vez estabelece uma <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> discursiva acerca do<br />

sujeito homossexual no Brasil. Assim sendo, não se po<strong>de</strong> pensá-lo<br />

isoladamente, como uma obra fechada <strong>em</strong> si. É preciso recortá-lo, relacioná-lo<br />

seja enquanto criação ficcional <strong>de</strong> um sujeito autor seja como registro das<br />

marcas <strong>de</strong> suas condições <strong>de</strong> existência. Quando se propõe pensar Madame<br />

Satã discursivamente, impõe-se o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar a relação autor/obra,<br />

como evocado nos estudos foucaultianos. Pensa-se que o filme t<strong>em</strong><br />

existência, acima <strong>de</strong> tudo, sócio-histórica, é atravessado pelas inquietu<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

posições do sujeito autor e possibilita a investigação das relações da<br />

linguag<strong>em</strong> com a História.<br />

Madame mostra a irrupção, no discurso midiático, <strong>de</strong> um sujeito que<br />

apresenta postura heterossexual, quando ela se faz necessária, mas também<br />

assume sua orientação <strong>em</strong> espaços <strong>de</strong>terminados, nos quais ele encontra os<br />

seus, o que lhe possibilita i<strong>de</strong>ntificação. Trata-se, então, <strong>de</strong> uma mudança no<br />

regime do olhar sobre o homossexual e sua condição.<br />

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Essa mudança no estatuto do olhar para o sujeito homossexual,<br />

verificada na análise do filme, <strong>em</strong>erge <strong>de</strong> toda uma mobilização social que<br />

visa à <strong>de</strong>molição das barreiras exclu<strong>de</strong>ntes, sejam <strong>de</strong> qual natureza for<strong>em</strong>.<br />

Somadas a elas, as políticas públicas, anteriormente já existentes, mas hoje<br />

muito mais <strong>em</strong> evidência, promov<strong>em</strong> a repercussão <strong>de</strong>sses novos discursos,<br />

contando com um aliado <strong>de</strong> influência e abrangência inquestionáveis: a mídia.<br />

Os dispositivos midiáticos, criados e mantidos por um sist<strong>em</strong>a econômico<br />

baseado na legitimida<strong>de</strong> dos bens privados e na irrestrita liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comércio e indústria, com o principal objetivo <strong>de</strong> adquirir lucro, ve<strong>em</strong> na<br />

atuante comunida<strong>de</strong> homossexual um mercado fecundo e <strong>em</strong> ampla<br />

expansão. Em virtu<strong>de</strong> disso, esses dispositivos são os principais promotores<br />

<strong>de</strong>ssa rediscursivização acerca da homossexualida<strong>de</strong>. O resultado disso é o

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