Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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O que se pode concluir é que, no decorrer da história, os olhos
vigilantes (e severos) da Igreja Católica voltaram-se para o corpo e para as
práticas sexuais, ditando ensinamentos, monitorando as atividades,
colocando-os sob a tutela do Santo Ofício, envolvendo-os dentro do poder
disciplinar, prescrevendo regras e sistemas de punições em nome da fortaleza
do espírito e da constituição de um corpo incorruptível, cuja recompensa seria
a salvação redentora. De um lado, a preocupação da Igreja de manter o sexo
em segredo, não alardeá-lo, recatá-lo, elevando-o a problema de moral cuja
prática desviante constituía entrave no acesso a Deus. As autoridades da
Igreja, enfim, tomava o sexo como uma questão religiosa, um problema da
carne, fixando o sacramento da Confissão como mecanismo litúrgico e
disciplinar que intentava controlar os corpos.
A tentativa de controle do sexo por parte da Igreja percorria todos os
caminhos e utilizava-se de variados artifícios para evitar o “apodrecimento” da
alma dos seus membros. Instituiu-se todo um discurso negativista sobre a
palavra e a prática sexual. Nas confissões eram frequentes questionamentos
relativos às práticas sexuais, por meio dos quais os sacerdotes investigavam a
pureza do corpo e da mente, na busca por impedir a corrupção pelo desejo e
pela lógica dos prazeres, que representavam manifestação satânica,
demoníaca. Uma vez por ano os fiéis eram convidados à confissão, a
revelarem suas falhas, seus desejos e suas intenções. A intenção da Igreja,
por meio dessa prática, era gerar a censura, mecanismo de poder altamente
eficiente para a promoção da verdade, da punição, do perdão; uma atitude
que gradativamente foi se estabelecendo na sociedade colonial e em todas as
colônias europeias (FOUCAULT, 2006,). Na contramão, o corpo social criava
descaminhos, mecanismos de fuga contrários à repressão ideológico-mental
para fazer e falar de sexo. Conforme Foucault, “o que é próprio das
sociedades modernas não é o terem condenado, o sexo, a permanecer na
obscuridade, mas sim o terem-se devotado a falar dele sempre, valorizando-o
como o segredo” (FOUCAULT, 2006, p. 42).
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