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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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44<br />

corporal da honra”. Atitu<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre viva e alerta, cabeça ereta e alta, costas<br />

retas, olhos fixos à frente... tudo faz parte <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> sinais que<br />

constituiriam o guerreiro, o militar i<strong>de</strong>al. Desta feita, já na segunda meta<strong>de</strong> do<br />

século XVIII, o soldado <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> lado a figura do camponês e assumia<br />

feições militares. Era agora algo fabricado, uma máquina <strong>de</strong> que se<br />

necessitava. Durante a época clássica, o corpo passou a ser visto como alvo<br />

do po<strong>de</strong>r, passível <strong>de</strong> manipulação, <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação, <strong>de</strong> treino. Um corpo,<br />

enfim, que se torna hábil ou cujas forças po<strong>de</strong>m ser multiplicadas. Desse novo<br />

olhar sobre o corpo, <strong>de</strong>corre a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sua docilização: é dócil aquele que<br />

po<strong>de</strong> ser submetido, utilizado, transformado, aperfeiçoado.<br />

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Embora esse esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> docilida<strong>de</strong> tão interessante ao século XVIII<br />

não seja novida<strong>de</strong>, visto que a submissão corporal s<strong>em</strong>pre fora alvo <strong>de</strong><br />

investimentos pr<strong>em</strong>entes e incansáveis, há uma série <strong>de</strong> coisas novas nessas<br />

técnicas. A escala <strong>de</strong> controle é o primeiro ponto distintivo <strong>em</strong> relação aos<br />

esqu<strong>em</strong>as do passado. Não se trata mais <strong>de</strong> trabalhar o corpo <strong>em</strong> massa,<br />

mas <strong>de</strong> estreitá-lo <strong>em</strong> um trabalho incessante, <strong>de</strong> tê-lo sob um po<strong>de</strong>r<br />

infinitesimal, esquadrinhador. Um segundo ponto <strong>de</strong> distinção refere-se ao<br />

objeto <strong>de</strong>ssa docilização. Não se trata mais <strong>de</strong> um olhar para o<br />

comportamento ou para a linguag<strong>em</strong> corpórea. Há uma coação mais atuante<br />

sobre as forças do que sobre os sinais, “a única cerimônia que realmente<br />

importa é a do exercício” (Foucault, 1999, p. 118). Por fim, a modalida<strong>de</strong>,<br />

expressa numa coerção ininterrupta, perpétua, voltada mais para os<br />

processos da ativida<strong>de</strong> e menos para os seus resultados. A esses métodos <strong>de</strong><br />

sujeição do corpo e <strong>de</strong> suas operações e forças, expressos numa relação <strong>de</strong><br />

docilida<strong>de</strong>-utilida<strong>de</strong>, Foucault <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> “disciplinas”, as quais se<br />

tornaram as “fórmulas gerais <strong>de</strong> dominação” nos séculos XVII e XVIII. Essas<br />

disciplinas difer<strong>em</strong>-se da escravidão, pois dispensam uma apropriação dos<br />

corpos; distingu<strong>em</strong>-se da domesticida<strong>de</strong>, visto ser essa fundamentada nos<br />

caprichos do patrão; difer<strong>em</strong>-se da vassalida<strong>de</strong>, que se expressa mais<br />

vigorosamente nos produtos do trabalho e <strong>em</strong> rituais <strong>de</strong> obediência; por fim,<br />

são diferentes do ascetismo e das “disciplinas” do tipo monástico, mais

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