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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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63<br />

3.4 Discurso e representação do sujeito homossexual no espaço social<br />

A caça às sexualida<strong>de</strong>s periféricas gerou a materialização das<br />

perversões e nova especificação dos indivíduos. Enquanto a sodomia –<br />

oriunda do espaço dos direitos civil e canônico – era um tipo <strong>de</strong> ato interdito e<br />

seu praticante inseria-se na instância jurídica, o homossexual do século XIX<br />

“torna-se uma personag<strong>em</strong>: um passado, uma história, uma infância, um<br />

caráter, uma forma <strong>de</strong> vida. [...] Nada daquilo que ele é, no fim das contas,<br />

escapa à sua sexualida<strong>de</strong>” (ibi<strong>de</strong>m, p. 51), visto que ela está presente nele e é<br />

o princípio tenaz <strong>de</strong> todos os seus procedimentos. É um segredo que se trai<br />

s<strong>em</strong>pre. Em relação ao homossexual, a sexualida<strong>de</strong><br />

É-lhe consubstancial não tanto como pecado habitual, porém como<br />

natureza singular. É necessário não esquecer que a categoria<br />

psicológica, psiquiátrica e médica do homoerotismo constituiu-se no dia<br />

<strong>em</strong> que foi caracterizada (...) menos como um tipo <strong>de</strong> relações sexuais<br />

do que como uma certa qualida<strong>de</strong> da sensibilida<strong>de</strong> sexual, uma certa<br />

maneira <strong>de</strong> inverter, <strong>em</strong> si mesmo, o masculino e o f<strong>em</strong>inino.<br />

(FOUCAULT, 1988, pp. 50-51)<br />

Dessa maneira, o homossexual trazia <strong>em</strong> si uma característica comum<br />

que lhe separava dos <strong>de</strong>mais seres do grupo. Era uma espécie. Um<br />

hermafrodita da alma.<br />

E foi assim que, ao longo da história humana, o sexo passou a ser a<br />

menina dos olhos do po<strong>de</strong>r. Ao perseguir todos os <strong>de</strong>spropósitos, como se<br />

classificam o <strong>de</strong>sviante e sua própria conduta, o po<strong>de</strong>r especifica-os, distribui-<br />

os <strong>em</strong> regiões, diss<strong>em</strong>ina-os e, por meio <strong>de</strong>ssa diss<strong>em</strong>inação, s<strong>em</strong>eia-os no<br />

real e integra-os ao indivíduo. O po<strong>de</strong>r escrutina o corpo sexual, cerceia-o<br />

com o olhar, toma-o para si.<br />

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A força principalmente da religião como sist<strong>em</strong>a explicativo e <strong>de</strong><br />

organização do universo e da convivência humana, concorreu para a<br />

instauração <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> sexo-rei. A hipótese repressiva reduz o sexo<br />

ao utilitário e fecundo, tolerando, portanto, como única manifestação possível,<br />

a sexualida<strong>de</strong> do casal monogâmico, legítimo e procriador. Sobre as<br />

sexualida<strong>de</strong>s periféricas e estéreis impôs-se um silêncio geral, uma intensa

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