Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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b<strong>em</strong>: “o po<strong>de</strong>r funciona e se exerce <strong>em</strong> re<strong>de</strong>” (i<strong>de</strong>m). Todos os indivíduos<br />
estão <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> exercer o po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> a eles ser<strong>em</strong> submetidos. Não<br />
são um alvo prostrado ou aquiescente do po<strong>de</strong>r: são s<strong>em</strong>pre centros <strong>de</strong><br />
transmissão: o po<strong>de</strong>r passa pelos corpos e é condição necessária para a<br />
constituição e i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> corpo, gesto, discursos e <strong>de</strong>sejos como<br />
indivíduos. Em outras palavras, “o indivíduo não é o outro do po<strong>de</strong>r: é um dos<br />
seus primeiros efeitos” (i<strong>de</strong>m) e centro <strong>de</strong> sua transmissão; 4. não se trata <strong>de</strong><br />
fazer uma análise do po<strong>de</strong>r partindo do centro para baixo, chegando aos<br />
“el<strong>em</strong>entos moleculares”. Para Foucault, “não é a dominação global que se<br />
pluraliza e repercute até <strong>em</strong>baixo” (ibi<strong>de</strong>m, p. 184). Em sua opinião, <strong>de</strong>ve-se<br />
analisar a maneira como os fenômenos, técnicas e procedimentos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
atuam nos níveis mais baixos, <strong>de</strong>slocando-se, expandindo-se, modificando-se.<br />
Sob visão foucaultiana, a burguesia não precisou da exclusão dos loucos ou<br />
do controle e vigilância da masturbação infantil. São os procedimentos <strong>de</strong><br />
exclusão que, a partir do século XIX, <strong>de</strong>vido a <strong>de</strong>terminadas transformações,<br />
são o centro <strong>de</strong> seu interesse, visto produzir<strong>em</strong> um lucro político e<br />
eventualmente algum beneficio econômico. Em suma, à burguesia interessam<br />
os mecanismos “que controlam, segu<strong>em</strong>, pun<strong>em</strong> e reformam o <strong>de</strong>linquente”<br />
(ibi<strong>de</strong>m, p. 186); 5. as máquinas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r foram, provavelmente,<br />
acompanhadas <strong>de</strong> produções i<strong>de</strong>ológicas. Entretanto, aquilo que se forma na<br />
base é muito mais e muito menos do que i<strong>de</strong>ologias: trata-se <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros<br />
instrumentos <strong>de</strong> formação e acumulação do saber. Para exercer-se nesses<br />
mecanismos, o po<strong>de</strong>r necessita formar, organizar e pôr <strong>em</strong> circulação<br />
aparelhos <strong>de</strong> saber que não correspon<strong>de</strong>m a construções i<strong>de</strong>ológicas.<br />
Foucault ressalta que é necessário estudar o po<strong>de</strong>r, colocando-o <strong>de</strong><br />
fora do mo<strong>de</strong>lo Leviatã, cujo el<strong>em</strong>ento constitutivo é a soberania, nas palavras<br />
<strong>de</strong> Hobbes, a alma do mo<strong>de</strong>lo. Foucault propõe estudar o po<strong>de</strong>r a partir das<br />
técnicas e táticas <strong>de</strong> dominação. Essa será a linha metodológica <strong>de</strong> suas<br />
pesquisas. Sob esse enfoque, os estudos foucaultianos <strong>de</strong>param-se com a<br />
teoria jurídico-política da soberania. Essa teoria <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhou quatro papéis:<br />
referiu-se ao po<strong>de</strong>r da monarquia feudal; foi instrumento e justificativa para a<br />
constituição das gran<strong>de</strong>s monarquias administrativas; na época da guerra das