Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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interessadas <strong>em</strong> renúncias e no aumento do domínio <strong>de</strong> cada um sobre o<br />
próprio corpo.<br />
O surgimento das disciplinas coinci<strong>de</strong> com o nascimento <strong>de</strong> uma arte<br />
do corpo humano voltada para a constituição <strong>de</strong> uma relação centrada na<br />
utilida<strong>de</strong>: quanto mais útil mais obediente é o corpo. Dá-se assim a entrada do<br />
corpo numa maquinaria <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r “que o esquadrinha, o <strong>de</strong>sarticula e o<br />
recompõe” (op. cit., p.119) Surge uma “mecânica do po<strong>de</strong>r” que <strong>de</strong>fine uma<br />
nova forma <strong>de</strong> domínio sobre o corpo dos outros, não mais para que façam o<br />
<strong>de</strong>sejado, mas para operar<strong>em</strong> segundo rapi<strong>de</strong>z e técnicas <strong>de</strong>terminadas. As<br />
disciplinas forjam corpos dóceis, aumentando ou diminuindo suas forças, <strong>em</strong><br />
termos <strong>de</strong> econômicos <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> ou políticos <strong>de</strong> obediência,<br />
respectivamente. A coerção disciplinar “estabelece no corpo o elo coercitivo<br />
entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada” (i<strong>de</strong>m).<br />
Para Foucault, as instituições disciplinares se val<strong>em</strong> <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong><br />
docilização s<strong>em</strong>pre muito minuciosas, que “<strong>de</strong>fin<strong>em</strong> um certo modo <strong>de</strong><br />
investimento político d <strong>de</strong>talhado do corpo, uma nova ‘microfísica’ do po<strong>de</strong>r.”<br />
(ibi<strong>de</strong>m, p. 120). Essas técnicas val<strong>em</strong>-se <strong>de</strong> pequenas artimanhas com<br />
gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> difusão, arranjos sutis e aparent<strong>em</strong>ente inocentes,<br />
porém gran<strong>de</strong>mente suspeitos.<br />
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Compreen<strong>de</strong>r o po<strong>de</strong>r é, antes <strong>de</strong> tudo, tomá-lo como uma<br />
complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> similitu<strong>de</strong>s, uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forças fort<strong>em</strong>ente<br />
arraigadas ao domínio, on<strong>de</strong> se exerce e se constitui a sua organização. O<br />
po<strong>de</strong>r é jogo, é enfrentamento. E são exatamente esses enfrentamentos<br />
incessantes que modificam, transformam, reforçam ou invert<strong>em</strong> as forças.<br />
Desse modo, é possível institucionalizar, cristalizar esse ou aquele<br />
procedimento nos aparelhos estatais, na formulação da lei, nas heg<strong>em</strong>onias<br />
sociais. Assim, sendo as ações do po<strong>de</strong>r frutos <strong>de</strong> contendas incessantes, é<br />
lícito consi<strong>de</strong>rar que não existe po<strong>de</strong>r s<strong>em</strong> resistência. As forças <strong>de</strong> rechaço<br />
constitu<strong>em</strong> condição necessária para que as relações <strong>de</strong> controle se<br />
estabeleçam. Delas nunca se encontram <strong>em</strong> posição <strong>de</strong> exteriorida<strong>de</strong>.<br />
Resta-nos a questão <strong>de</strong> como a sexualida<strong>de</strong> tornou-se um mecanismo<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e consequente dispositivo <strong>de</strong> controle dos sujeitos. “Por que o sexo