Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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e do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho do grupo, um novo objetivo passou a ser partilhado pelos<br />
homossexuais <strong>de</strong> todo o mundo: o direito à existência.<br />
No Brasil, ainda <strong>de</strong> acordo com a autora supracitada, o movimento<br />
homossexual chegou tar<strong>de</strong> e enfrentou gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s para implantar-<br />
se. Na década <strong>de</strong> 60, as tentativas <strong>de</strong> organizar um movimento homossexual<br />
eram duramente repreendidas pelo governo militar, que restringiu os direitos<br />
<strong>de</strong>mocráticos, com a imposição do Ato Institucional (AI) 5, no final <strong>de</strong> 1968.<br />
Nos anos 70, o jornalista João Silvério Trevisan, após contato com o<br />
movimento homossexual nos Estados Unidos, buscou suscitar discussões<br />
sobre o homoerotismo, o que resultou na formação <strong>de</strong> um pequeno grupo <strong>de</strong><br />
profissionais liberais que, durante algumas s<strong>em</strong>anas, <strong>de</strong>bateu a publicação <strong>de</strong><br />
um artigo <strong>de</strong> conduta machista publicado por um jornal argentino. O veto da<br />
publicação Versus à participação <strong>de</strong> representantes da (nascente) imprensa<br />
homossexual <strong>em</strong> um evento <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates políticos fomentou a criação <strong>de</strong><br />
grupos <strong>de</strong> reflexões sobre os aspectos políticos do homoerotismo. A partir daí,<br />
surgiu o primeiro grupo “oficial” brasileiro <strong>de</strong> homossexuais. Com o nome <strong>de</strong><br />
Somos <strong>de</strong> Afirmação Homossexual, o grupo contou com mais <strong>de</strong> cento e<br />
cinquenta participantes <strong>em</strong> seu auge. Conforme MacRae, 1990, p. 101 (cit.<br />
<strong>em</strong> Kronka, 2005, p. 37), a configuração do Somos<br />
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seguia três princípios: autonomia <strong>em</strong> relação a grupos políticos;<br />
<strong>de</strong>scentralização do po<strong>de</strong>r interno (formavam-se subgrupos <strong>de</strong>ntro do<br />
grupo, com atribuição <strong>de</strong> tarefas específicas e renovação dos cargos <strong>de</strong><br />
três <strong>em</strong> três anos); alcance da visibilida<strong>de</strong> (pretendiam atingir as massas<br />
e mostrar a existência do homoerotismo). As discussões dividiam-se<br />
entre reuniões baseadas <strong>em</strong> relatos e trocas <strong>de</strong> experiências, por um<br />
lado, e questões mais gerais, como a discriminação sofrida pelos<br />
homossexuais, por outro.<br />
A fragmentação do grupo, resultante <strong>de</strong> divergências internas e da falta<br />
<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> dos integrantes, possibilitou o surgimento do movimento<br />
lésbico do Brasil. Dentre os grupos criados, <strong>de</strong>staca-se o Grupo <strong>de</strong> Ação<br />
Lésbico-F<strong>em</strong>inista (GALF), oriundo <strong>de</strong> um subgrupo do Somos, <strong>de</strong>nominado<br />
Lésbico-F<strong>em</strong>inista, que atuou até a década <strong>de</strong> 1990. A <strong>de</strong>sintegração do<br />
GALF, cuja luta centrava-se no combate ao machismo e na busca da<br />
autoestima, <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> a outros grupos lésbicos, <strong>de</strong>ntre os quais se distingue