Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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Desse modo, ao se analisar um discurso, <strong>de</strong>ve-se investigar a<br />
dispersão a partir da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> acontecimentos discursivos, <strong>de</strong> modo a<br />
i<strong>de</strong>ntificar as similitu<strong>de</strong>s, as unida<strong>de</strong>s que aí se criam. Isso se justifica uma<br />
vez que, conforme compl<strong>em</strong>enta Foucault, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser uno <strong>de</strong> um<br />
discurso não se baseia numa relação <strong>de</strong>scritível e invariável. Ao contrário.<br />
São exatamente enunciados dispersos e heterogêneos, coexistentes, que se<br />
supõ<strong>em</strong>, que se transformam e se exclu<strong>em</strong> que constitu<strong>em</strong> a base<br />
investigativa <strong>de</strong> um procedimento analítico. Trata-se <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o<br />
enunciado “na estreiteza e singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua situação; <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar as<br />
condições <strong>de</strong> sua existência, <strong>de</strong> fixar seus limites da forma mais justa, <strong>de</strong><br />
estabelecer suas correlações com os outros enunciados a que po<strong>de</strong> estar<br />
ligado...” (FOUCAULT, 2007a, p. 31). Em suma<br />
Não se busca, sob o que está manifesto, a conversa s<strong>em</strong>i-silenciosa <strong>de</strong><br />
um outro discurso: <strong>de</strong>ve-se mostrar por que não po<strong>de</strong>ria ser outro,<br />
como exclui qualquer outro, como ocupa, no meio dos outros e<br />
relacionado a eles, um lugar que nenhum outro po<strong>de</strong>ria ocupar. A<br />
questão pertinente a uma tal análise po<strong>de</strong>ria ser assim formulada: que<br />
singular existência é esta que v<strong>em</strong> à tona no que se diz e <strong>em</strong> nenhuma<br />
outra parte? (FOUCAULT, 2007, p. 31)<br />
Nota-se, assim, que o enunciado faculta a existência dos signos, isto é,<br />
conce<strong>de</strong>-lhes uma razão para tornar<strong>em</strong>-se ou manter<strong>em</strong>-se “vivos” e torna<br />
conhecidas as regras que se suce<strong>de</strong>m ou se justapõ<strong>em</strong>:<br />
chamar<strong>em</strong>os enunciado a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existência própria <strong>de</strong>sse<br />
conjunto <strong>de</strong> signos: modalida<strong>de</strong> que lhe permite ser algo diferente <strong>de</strong><br />
uma série <strong>de</strong> traços, algo diferente <strong>de</strong> uma sucessão <strong>de</strong> marcas <strong>em</strong><br />
uma substância, algo diferente <strong>de</strong> um objeto qualquer fabricado por um<br />
ser humano; modalida<strong>de</strong> que lhe permite estar <strong>em</strong> relação com um<br />
domínio <strong>de</strong> objetos, prescrever uma posição <strong>de</strong>finida a qualquer sujeito<br />
possível, estar situado entre outras performances verbais, estar dotado,<br />
enfim, <strong>de</strong> uma materialida<strong>de</strong> repetível (FOUCAULT, 2007, p.121-122).<br />
Desse procedimento investigativo, <strong>de</strong>corre aquilo que Foucault<br />
<strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> função enunciativa. Para o filósofo, a busca pela regularida<strong>de</strong><br />
dos enunciados só é possível uma frase, uma proposição ou um ato <strong>de</strong> fala<br />
somente adquir<strong>em</strong> status <strong>de</strong> enunciado <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> do “fato <strong>de</strong> ele ser<br />
produzido por um sujeito <strong>em</strong> um lugar institucional, <strong>de</strong>terminado por regras