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Jansenismo e antijansenismo nos finais do antigo regime<br />
Não colide com a promessa da assistência feita por Jesus Cristo que algumas verdades<br />
reveladas, e mesmo doutrinas definidas em concílios ecuménicos, possam atravessar<br />
períodos de obscuridade e mesmo de contestação. Assim acontece, por exemplo, com a<br />
doutrina da superioridade do Concílio ao Papa, tal como foi definida no Concílio de Constança<br />
no século XV, hoje fortemente contestada pelos ultramontanos. Nem tão pouco que<br />
um grande ou mesmo grandíssimo número de Bispos possam ensinar doutrinas erróneas,<br />
como acontece com as pretensões ultramontanas, opostas à Sagrada Escritura e à Tradição,<br />
ensinadas, não obstante, pelo Papa e um grande número de Bispos, excepto os de França.<br />
Seguir o maior número nem sempre é regra segura 6 . Haja em vista a doutrina errónea da<br />
suficiência da atrição servil sem o amor de Deus, que, entretanto, também é ensinada.<br />
Mas a Igreja não deixa de ser a depositária da verdade, ainda quando a maior parte<br />
segue o erro. E não se está a atacar a infalibilidade da Igreja, quando se diz que molinistas<br />
e ultramontanos defendem erros perniciosos. A Igreja tolera erros que não aprova.<br />
O molinismo, a atrição servil são tolerados. Não os condena o corpo dos Pastores.<br />
Mas os Teólogos mais esclarecidos combatem-nos, como contrários à doutrina antiga. Um<br />
pequeno número – o bom grão – combate o joio.<br />
O mesmo se pode dizer relativamente à relaxação dos últimos tempos, introduzida na<br />
disciplina da Penitência, e por cujo restabelecimento lutam os bons Fiéis.<br />
Os Protestantes não podem rejeitar a infalibilidade da Igreja com o argumento de que<br />
os Concílios autorizaram o erro, quando atribuíram ao Papa o poder indirecto sobre o<br />
temporal. Esse erro nunca foi definido como dogma e consagrado pela unanimidade dos<br />
Pastores. Embora pareça que a multidão dos Bispos aceita hoje a Bula Unigenitus, que<br />
autoriza erros como o molinismo e nega a necessidade do amor de Deus, não podem os<br />
Protestantes com esse fundamento contestar a infalibilidade da Igreja. Tais erros não são<br />
consagrados pela unanimidade dos Bispos. E, por isso, é legítimo rejeitá-los.<br />
Qualquer ponto de doutrina contestado na Igreja só pela autoridade unânime dos<br />
Pastores pode ser decidido. O Papa, só por si, não o pode fazer. Mesmo unido ao maior<br />
número, porque a infalibilidade não foi prometida ao maior número, mas ao corpo dos<br />
Pastores. É o caso da Bula Unigenitus. Não pode ser considerada como um juízo da Igreja.<br />
Por isso, é legítimo apelar para um Concílio Geral.<br />
6 Seguir o maior número nem sempre é regra segura. Esta temática foi tratada pelo jansenista italiano, Professor da Universidade<br />
de Pavia, Pietro Tamburini. É evidente que o número daqueles que seguem a verdade e a doutrina da Igreja pode em<br />
certas matérias e em certos tempos ser o menor. Onde é que Deus prometeu que a verdade seria sempre ensinada pelo maior<br />
número? Antes muitas vezes tem predito escuridades e agitações com que deve gemer a Igreja. Era por ventura o maior<br />
número que nos tempos mais próximos de nós seguia a doutrina da Escritura e da Tradição sobre os justos juízos da hierarquia?<br />
Era o maior número que seguia as santas regras da Moral evangélica contra as máximas licenciosas dos Probabilistas?<br />
Era o maior número que propugnava pelos sagrados direitos da Graça de Jesus Cristo? Era o maior número que se opunha<br />
às relaxações dos atricionistas? (Analyse do livro das Prescripçoens de Tertulliano…, pp. 49-50).<br />
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